7 coisas que você precisa saber sobre vinil para não passar vergonha

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Ela fez de novo. Taylor Swift bateu mais um recorde. Seu novo álbum, "The Life of a Showgirl", vendeu 4 milhões de unidades nos EUA (somando físicas e digitais) em apenas sete dias. Em cinco, ela já havia superado a marca anterior, de Adele, com "25" (3,4 milhões).
Mas algo chama atenção deste colunista em meio à numeralha: 1,2 milhão de cópias em vinil foram comercializadas no período. É o novo recorde absoluto para o formato na era moderna.
Estamos falando só dos Estados Unidos, que correspondem a 40% das vendas globais de discos de vinil, segundo relatório de 2024 da Zion Market Research.
Goste-se ou não dela —pouco importa aqui—, Taylor Swift alcançou um feito notável.
Pegue, por exemplo, "Bad", de Michael Jackson —considerado o disco que mais rapidamente vendeu na história da CBS/Epic. Ele somou, segundo a própria gravadora, pouco mais de 2 milhões de cópias nos EUA na primeira semana, em 1987.
O desempenho de Taylor impressiona não por estarmos em 2025, na era digital, mas pelo contraste com a narrativa que por muito tempo se impôs.
Aquela que diz que o vinil é um mero objeto de nicho, voltado a colecionadores nostálgicos e incapaz de sustentar vendas robustas. É uma falácia.
O cenário se mostra muito mais complexo e levanta questões. E, se você realmente gosta de música, é importante saber respondê-las de forma direta e sem superficialidade, para não passar vergonha em discussões.
Não passar vergonha é importante.

O vinil voltou "pra valer", então?
Não exatamente. O formato está em crescimento contínuo, mas dizer que "voltou pra valer" é exagero. Não há comparação com o passado.
No auge do vinil, no final da década de 1970, as vendas globais anuais superavam 500 milhões de discos, segundo estimativas. Os números atuais giram em torno de um décimo desse valor —o que não deixa de ser expressivo.
Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), a mídia física (incluindo CDs e outros formatos) representa hoje 16,2% das receitas mundiais de toda música gravada.
O vinil responde a cerca de 70% desse total, consolidando-se como o principal formato físico do mercado.
Então por que Taylor Swift vende tanto?
Porque Taylor Swift é um dos maiores fenômenos culturais dos últimos 20 anos. Sua fanbase é extremamente engajada e vê no vinil uma extensão da experiência emocional e estética proposta por ela.
A geração Z —nascidos entre 1997 e 2012, seu público dominante— abraçou o vinil globalmente, enxergando nele não só um item colecionável, mas um símbolo de pertencimento e identidade.
Ter o LP dela, para muitos, é mais do que ouvir música: é um gesto de devoção. E ela sabe surfar nesse interesse, lançando o álbum em diversos formatos, cores e capas diferentes.
Se a Gen Z abraçou o vinil, por que não vemos jovens brasileiros comprando discos aos montes?
Porque, no Brasil, a indústria do vinil ainda é incipiente. O interesse existe, mas barreiras econômicas e estruturais limitam o consumo.
Existem poucas fábricas, e elas prensam praticamente só discos nacionais. LPs importados são taxados e chegam ao país com preços proibitivos, muitas vezes acima de R$ 250.
Soma-se a isso o custo elevado de toca-discos, agulhas e acessórios, e o resultado é um mercado restrito.

Se o vinil não é mais um nicho, como você diz, por que não vemos grandes lojas vendendo?
Por causa, de novo, da particularidade do mercado brasileiro.
Nossa produção é limitada, as taxas de importação são altas e há poucas empresas nacionais fabricando aparelhos de som voltados a esse público. Isso inviabiliza operações em larga escala.
Mesmo assim, há sinais claros de vitalidade: o surgimento de novas feiras, selos independentes, clubes de discos e lojas especializadas — além da audiência (e da própria existência) desta coluna — mostra que o interesse é real.
Se não é modinha, quanto tempo essa "volta do vinil" vai durar?
Os números vêm crescendo há 17 anos, mas já há sinais de que o auge da retomada passou.
O vinil viu sua receita crescer 4,6% globalmente em 2024, conforme relatório da IFPI, mantendo uma tendência de alta pelo 18º ano consecutivo, mas o ritmo do crescimento caiu.
Cabe ressaltar que esses números consideram apenas discos novos. O mercado de discos usados, que é gigante, não possui estatísticas oficiais e pode compensar essa aparente perda de fôlego.
Resumindo: o vinil dificilmente voltará a ser o principal formato de consumo musical —o streaming é o padrão global, e a lógica da conexão e da mobilidade é dominante.
Ainda assim, os LPs devem se manter como segmento sólido e simbólico, sustentado por fãs, colecionadores e artistas que valorizam o objeto físico, assim como o CD e o K7.
O streaming está em crise?
Não. Pelo contrário: o streaming continua crescendo, embora em ritmo menor do que no início da década.
Segundo a IFPI, o modelo representa mais de 69% da receita global da música gravada e permanece como principal motor do setor.
O que há é uma mudança de percepção. Parte do público começou a se cansar da lógica algorítmica e está buscando novas formas de consumir música, o que beneficia o vinil e outros formatos físicos.

Por que, afinal, tem gente que gosta de mídia física hoje em dia?
Porque ela oferece o que o digital não dá: materialidade, pausa e significado.
Em tempos de estímulos constantes, abrir e ler um encarte, escolher o lado e colocar a agulha é um ritual que nos desacelera, e isso faz diferença para muita gente.
Mais do que isso: é uma forma de resistir ao estado de conexão permanente e ao consumo instantâneo, nos quais estamos imersos hoje em dia.
Para muitos, incluindo este colunista, colecionar discos não é só nostalgia —é uma forma de se reconectar com o tempo, com a música e consigo mesmo.
E, claro, também um atestado de superfã, como é para os fãs de Taylor Swift. E que bom que ela está revigorando o interesse pela mídia física.
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E até a próxima datilografada!




























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