Leonardo Rodrigues

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Reportagem

Ele comprou 8.000 discos em 25 anos, e eles viraram pó em incêndio nos EUA

O fotógrafo e podcaster americano Scott Dudelson, 45, viveu o horror de um colecionador (e de não colecionadores também).

Ele viu seu acervo de 8.000 discos, construído com sangue, suor e lágrimas durante 25 anos, virar cinzas nos incêndios de Los Angeles.

A casa dele, no bairro Pacific Palisades, também deixou de existir, assim como outras dezenas de lares na vizinhança. Tudo aconteceu no último dia 7 em questão de horas.

"O fogo atingiu minha comunidade por volta das 14h. Quando o mato das colinas pegou fogo, fiquei por perto para lavar a casa, mas os ventos começaram a empurrar o fogo. Não era seguro combatê-lo com uma mangueira de jardim", conta à coluna Scott, que também é músico.

Ele desistiu de lutar contra as chamas por alguns minutos e deixou o local de carro. Foi até a área costeira, onde assistiu às primeiras casas da região serem destruídas.

Só no dia seguinte ele viu atônito pela TV a dimensão do estrago causado pelo pior incêndio já registrado em Los Angeles.

Os incêndios florestais destruíram quase 3.000 casas em Palisades e Malibu. Do outro lado da cidade, em Altadena, mais de 9.000 foram consumidas. Vinte e nove pessoas morreram no total.

Parte da antiga coleção de Scott Dudelson
Parte da antiga coleção de Scott Dudelson Imagem: Instagram/Reprodução

Medo de queimados é um aterrorizante estilo de vida

Scott tem outra casa na região, em Malibu, em construção. Três semanas antes, essa casa já havia sobrevivido a outro incêndio. Cerca mil discos que estavam na garagem ficaram avariados.

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Mas ele não fazia ideia do que estava por vir.

"Já passei por alguns incêndios. Em 2018, minha casa sobreviveu, mas sofreu danos. Perdi vários álbuns devido à fumaça. Depois dessa experiência, fiz um plano de evacuação melhor e reservei álbuns especificamente para levar nessa situação."

O plano citado por ele consiste em separar seis caixas etiquetadas cheias de discos, escolhidos com base no valor sentimental e/ou financeiro.

No dia 7 de janeiro, 450 foram salvos assim, com ajuda da ex-esposa dele, Melissa. Toda a coleção de Scott (55 caixas) estava na casa dela até pouco tempo atrás.

Ele não tem mais residência fixa e diz não saber mensurar o prejuízo financeiro. Nem a casa nem a coleção de discos tinham seguro.

Só em LPs, o rombo pode passar de US$ 150 mil (quase R$ 900 mil).

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Cópia de "Yesterday and Today" que pertencia a Scott
Cópia de "Yesterday and Today" que pertencia a Scott Imagem: Reprodução/Instagram

O que foi perdido

Foram-se a casa pré-fabricada, todos os móveis e eletrodomésticos, seis alto-falantes e discos como:

  • "Live at Hickory House", da pianista de jazz Jutta Hipp, um dos primeiros da lendária gravadora Blue Note.
  • "Yesterday and Today", dos Beatles, com a capa original censurada dos músicos "no açougue".
  • Todos os discos de Smiths, David Bowie e Fleetwood Mac.

Doações

Scott compartilhou o drama nas redes desde o início. Um vídeo gravado no dia do incêndio mostra o fotógrafo percorrendo uma sala abarrotada de discos.

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Desde então, ele vem recebendo doações de álbuns clássicos que integravam sua coleção. Amigos, lojas, gravadoras —como a Rhino e a Universal— e outros colecionadores se compadeceram com a história.

"Tem sido incrível. Recebi muitas mensagens. Já recebi pilhas de discos. Sou muito grato", afirma ele.

"A pior parte de tudo foi ver a comunidade sofrer. Amo Palisades, Malibu, Altadena. É muito triste ver a imensa perda e dor nessas comunidades. Todo mundo em Los Angeles conhece alguém afetado pela tragédia."

Scott Dudelson em 2023
Scott Dudelson em 2023 Imagem: Reprodução/Instagram

Deixar de colecionar, no entanto, não é uma opção para o fotógrafo, que começou comprando LPs usados na adolescência, nos anos 1990, por um dólar. Ele não tinha dinheiro para bancar CDs, que já haviam abocanhado o mercado e custavam cerca de US$ 18.

Scott costumava garimpar em lojas locais e continua fazendo isso até hoje. É assim que espera reaver seu superlativo acervo.

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"Vivo há 20 anos na região e quero continuar vivendo em Los Angeles. Amo lojas de discos independentes, música e vinil. Nunca vou parar de girar meus discos", diz ele, aliviado.

Ter saído inteiro do fogo já foi uma vitória.

"Não sou político nem cientista. Só sei que esses incêndios continuam acontecendo e estão acontecendo com mais frequência. E isso é assustador. Não fazer nada não é uma opção e espero que ações sejam tomadas."

Você tem discos e quer doá-los para o Scott?

Ele está recebendo discos no endereço:

  • 4774 Park Granada #8908, Calabasas, CA 91372.
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E até a próxima datilografada!

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