Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Adele e Taylor Swift estão acabando com a ideia de que vinil é 'modinha'
Quem acompanha esta coluna sabe que a cantora Adele provocou uma avalanche com seu mais recente álbum, "30", que colapsou a indústria de discos de vinil e causou atrasos prolongados em encomendas de todo o mundo.
O sucesso da britânica é tão majestoso que nada mais natural deduzir que esse álbum, que celebrou seu retorno à música após seis anos, tenha batido recordes e se tornado o LP mais popular do mundo, correto? Sim.
Segundo um levantamento inédito da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), "30" foi o disco de vinil mais consumido no ano de 2021, à frente de contemporâneos e clássicos.
Veja abaixo a lista, relativa ao comércio de LPs novos
1. Adele - "30" (2021)
2. Harry Styles - "Fine Line" (2019)
3. Fleetwood Mac - "Rumours" (1977)
4. Olivia Rodrigo - "Sour" (2021)
5. Billie Eilish - "Happier Than Ever" (2021)
6. Taylor Swift - "Red (Taylor's Version)" (2021)
7. The Beatles - "Abbey Road" (1969)
8. Nirvana - "Nevermind" (1991)
9. Pink Floyd - "The Dark Side of The Moon" (1973)
10. Taylor Swift - "Evermore" (2020)
Apesar de enxuto, o ranking acima consegue dizer muito. E eis os quatro centavos deste humilde datilógrafo.
1. Adele está elevando o retorno da mídia física a outro patamar
A IFPI não divulgou os números totais de vendas no mundo, mas, segundo outro órgão, a MRC Data, "30" vendeu apenas em território norte-americano, no curto período entre o lançamento, em 19 de novembro, e o fim de 2021, 318 mil cópias. Detalhe: trata-se de um álbum duplo. Duplamente mais caro.
Para efeito de comparação, o campeão de 2020, "Fine Line", de Harry Styles, que agora figura na segunda posição registrou 232 mil cópias comercializadas em... 12 meses.
Levando em consideração o tamanho do parque fabril e do mercado dos EUA, é razoável imaginar que Adele tenha vendido no ano passado algo perto do dobro ou mais que 318 mil cópias no restante do mundo.
Ou seja, "30" pode estar a caminho de quebrar a barreira de 1 milhão de LPs vendidos até o fim do ano, o que seria um feito formidável para um formato que já fora dado como morto. Desempenho comparável ao de álbuns relativamente populares do final dos anos 1980.
Gostando-se ou não de sua música, Adele é hoje uma das grandes responsáveis pelo crescimento exponencial do vinil, que ultrapassou o CD e voltou a ser o suporte físico mais comercializado no planeta após três décadas. 41,7 milhões foram vendidos só nos EUA em 2021.
2. Taylor Swift é a rainha dos discos
Com muitos seguidores da chamada geração Z, nascida a partir de 1997 —são eles quem lideram o consumo de vinil, segundo a MRC Data—, Taylor conseguiu enfileirar dois álbuns entre os dez vinis mais vendidos do mundo, o que é incrível.
Isso significa que ela convenceu uma gigantesca base de fãs a adquirir não só um último disco de sucesso em formato "premium", mas também outros de seu catálogo. Swift deu mostras de que o artista, e não somente o título, é fator determinante na decisão desse tipo de compra, movida por paixões e fanatismo.
3. Clássicos são ainda mais clássicos em Long Play
O ranking global de álbuns em vinil apresenta uma característica singular: a presença de álbuns clássicos. Quatro dos dez mais vendidos de 2021 estão entre as mais icônicas obras musicais de todos os tempos, lançadas há pelo menos 30 anos.
Duas análises possíveis: 1) em tempos de música cada vez mais descartável, nada mais profundo e impositivo que tentar ouvir um baita disco no formato em que ele foi pensado; 2) plataformas como o TikTok estão apresentando bandas e cantores do passado à nova geração, que aprendeu a amar o vinil. E isso é uma excelente notícia a quem prefere ter uma relação menos superficial com a música.
Exemplo: o terceiro da lista, "Rumours", do Fleetwood Mac, estourou mais uma vez recentemente após virar meme com o "skatista briseiro", que viralizou na plataforma das dancinhas. Aliás, ele já bateu um papo comigo sobre o assunto aqui no UOL.
4. Mulheres no topo
Também salta aos olhos o fato de metade do top 10 da IFPI ser composto por cantoras solo. Mulheres despertam relações mais sólidas a ponto de fãs fazerem questão de demonstrar o quão são dedicados adquirindo fisicamente músicas que poderiam ser ouvidas de graça na internet? É uma explicação plausível, mas incompleta.
O fato é que a conjectura ajudou. Ao longo da última década, a música pop feminina floresceu como poucas e adquiriu uma envergadura comercial ainda mais relevante e presente no balanço das principais gravadoras, produtoras e fábricas de discos do planeta. Viemos a era delas.
Se a paridade de gênero ainda está longe de virar realidade em cargos de liderança na indústria, o brilho intenso das cantoras prova que a música poderia, sim, ser mais igualitária e justa. Sem falar mais lucrativa. Adele, Taylor e Billie Eilish provavelmente concordariam comigo.
E você, concorda? Mesmo discordando, você pode enviar uma mensagem para mim nos comentários ou via Instagram (@hrleo) e Twitter (@hrleo_). Quer ler mais textos do colunista? Clique aqui.
E até a próxima datilografada!
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