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João Côrtes sobre histórias LGBT na TV: 'Importante sair da dor e vergonha'

João Cortês, ator, cantor, roteirista e diretor, tem uma trajetória multifacetada nas artes. Reconhecido nacionalmente desde sua juventude por interpretar o carismático "ruivinho" em comerciais de telefonia, João, hoje, é um artista completo e comprometido com a cultura em múltiplas frentes.

Carreira e Formação

João iniciou no teatro aos 14 anos, através de um programa escolar. Desde então, participou de montagens e cursos livres, ganhando experiência e alimentando uma paixão pela arte. Ele conta que sua formação é fruto de interesses naturais e de uma rede de amizades e familiares também ligados à arte, como sua madrasta, bailarina.

Apesar de não se considerar um grande bailarino, ama a dança e quer explorá-la mais. Também se destaca por falar inglês fluentemente e por mergulhar profundamente nos personagens, como na série "Passaporte para a Liberdade", onde atuou em inglês com sotaque alemão, interpretando um jovem alemão traumatizado pela guerra.

"Tive que reaprender a maneira de falar inglês, repensar tudo, o sotaque, a fonética... Foi um desafio muito interessante. Era um monólogo em inglês com sotaque alemão. O personagem tinha voltado da guerra, estava viciado em droga e bebida, com estresse pós-traumático... eram muitas camadas", recorda completa: "Acho que tudo parte de um interesse, de uma paixão genuína que eu tenho por aprender essas coisas, pela arte, pela cultura de uma maneira geral".

"EDDY - Violência & Metamorfose"

O projeto atual mais importante do ator é a peça "EDDY - Violência & Metamorfose", que estreia no dia 19 de junho no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro. A montagem, dirigida por Luiz Felipe Reis e Marcelo Grabowsky, é baseada na obra de Édouard Louis, autor francês cuja literatura de autoficção inspira a narrativa. João interpreta Édouard, trazendo à tona temas como homofobia, xenofobia e violência.

A peça adapta os livros "Mudar: Método", "O Fim de Eddy" e "História da Violência". João destaca o mergulho profundo na vida e obra de Louis como um presente artístico. "Estou obcecado por ele. Ler os livros dele está sendo um bálsamo, um presente maravilhoso. A peça é densa, intensa, não é fácil, mas é sofisticada, está ficando chique. Estamos tentando honrar esse homem e sua jornada."

Ainda focado na temporada da peça no Rio de Janeiro, o ator pretende levá-la ainda para São Paulo e outras cidades.

João Côrtes
João Côrtes Imagem: Reprodução/Instagram
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Cinema independente e roteiros

João também escreveu e protagonizou o longa "Nas Mãos de Quem Me Leva", filmado de forma 100% independente. O filme teve reconhecimento em festivais internacionais, mas a pandemia impediu a participação presencial. Ele também escreveu e atuou no curta "Flush", ao lado de Nicolas Prattes, com direção de Diego Freitas, filmado em um único fim de semana e igualmente premiado internacionalmente.

"Foi um filme feito na raça, no amor ao cinema... Modéstia à parte, eu acho um filme muito lindo, eu tenho muito orgulho", afirma Côrtes, que continua escrevendo roteiros, incluindo um novo longa coescrito com Ricardo Burgos. Além disso, deseja aprofundar projetos musicais e desenvolver um show com banda própria, apesar dos desafios de tempo.

Séries e TV

Na televisão, João já participou de novelas, como "Sol Nascente" (Globo), e de séries, como "Passaporte para a Liberdade" (Globo), "Rio Connection" (Globo) e "O Negócio" (HBO). Seu trabalho mais recente e de destaque é a série "Encantado's" (Globo), na qual interpreta Celso, locutor do supermercado e coreógrafo da escola de samba da série.

Ele fala com carinho sobre o personagem, que considera vibrante, afeminado, alegre e livre —e que teve papel importante na sua própria jornada pessoal. "Esse personagem me curou também em muitos lugares. É tão legal poder falar da energia feminina, da feminilidade de uma figura gay que se permite ser exatamente quem é, sem censura. Para mim, ele é um brinde, de uma alegria. Um brilho".

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Identidade e Representatividade

João se declara um homem gay assumido e fala abertamente sobre sua sexualidade. Reconhece o privilégio de ter uma família amorosa e acolhedora, o que contrasta com a dura realidade da maior parte da população LGBTQIA+ no Brasil. Para ele, a visibilidade e a representatividade são fundamentais —tanto para fortalecer outras pessoas da comunidade quanto para provocar reflexão social através da arte.

Ele compartilha que sua descoberta da sexualidade ocorreu entre o fim da adolescência e o início da juventude, com grande influência da cultura e do teatro. Enfatiza a importância de mostrar personagens LGBTQIA+ fora da narrativa de dor e sofrimento, trazendo luz à alegria, liberdade e amor. "É importante contar histórias que saem da narrativa da dor, da culpa, da vergonha... Ir para um lugar de liberdade, alegria, amor."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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