Jornalismo impopular: Globo erra feio ao tentar aproximar jornais do povo

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Há muito se discute, no Brasil, sobre tornar o jornalismo mais acessível, especialmente na televisão, um veículo voltado para as massas. Mas o grande desafio está justamente em como fazer isso. Nos últimos tempos, impulsionadas pela queda na audiência, as emissoras decidiram colocar esse debate em prática. O problema é que tornar o jornalismo mais popular exige responsabilidade, ética e sensibilidade, e não apenas piadinhas forçadas de apresentadores e repórteres.
A verdadeira mudança deveria começar pela linguagem: mais clara, direta e próxima do público. Isso vale especialmente para os comentaristas —os chamados especialistas em política, economia ou tecnologia— que frequentemente recorrem a jargões técnicos e pouco se preocupam em traduzir o que dizem. O que temos visto, no entanto, é um movimento equivocado, como no caso recente em que William Bonner perguntou, de forma constrangedora: "Onde estará Renata Vasconcellos depois do intervalo?" Em vez de aproximação, soa forçado.
A própria ideia de enviar a apresentadora para a casa de telespectadores foi arriscada. Funcionou, em parte, apenas quando ela visitou uma moradora da região Norte, que tinha muito a dizer sobre sua realidade amazônica. Fora isso, a iniciativa mais pareceu um espetáculo sem propósito claro.

O que o público quer é bem mais simples: uma linguagem acessível, transparente, honesta —e, sobretudo, imparcial. Em vez de opiniões que soam como propaganda disfarçada, o telespectador quer informação direta, sem segundas intenções.
É necessário ouvir mais a população, não só nos telejornais locais, mas também nas grandes pautas de interesse público, em âmbitos estadual, nacional e internacional. A opinião das ruas precisa ganhar espaço, e não ser substituída por piadas de apresentador frustrado por não estar num programa de entretenimento.
A linha entre o jornalismo e o show deve estar sempre muito bem definida. Sem isso, a credibilidade se perde, e o jornalismo corre o risco de virar pantomima —ou, pior, uma palhaçada.
Nesse contexto, vale destacar o trabalho de Renata Lo Prete, que, no Jornal da Globo, transmite seriedade e domínio sobre os temas que aborda. É uma pena que o telejornal vá ao ar tão tarde e que seus comentaristas ainda falem tão distante da linguagem do povo.
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