Os desafios de Manuela Dias no remake de 'Vale Tudo'
A primeira chamada do remake da icônica novela "Vale Tudo" (1988), de Gilberto Braga, escrita com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, levantou questões importantes que podem comprometer o trabalho de Manuela Dias.
O primeiro ponto crítico surgiu em uma entrevista de Manuela logo após a exibição da chamada. Ela afirmou que Odete Roitman não teria problemas com Maria de Fátima ser uma jovem preta, pois enxergaria nela uma identificação com sua própria juventude.
Mas como assim? Quem assistiu "Vale Tudo" —ou ao menos conhece sua trama— sabe que Odete era a personificação do preconceito.
É impensável imaginar, e aqui um pequeno spoiler se faz necessário, que essa matriarca permitiria o casamento de seu filho com uma mulher negra. Mesmo trazendo a história para os dias atuais, essa mudança não condiz com a personalidade da empresária arrogante e elitista.
Isso não seria uma adaptação, mas sim a transformação de Odete em outra personagem.
Outro ponto é a escalação de Cauã Reymond. Um galã com presença tão forte no imaginário dos brasileiros interpretando César, um personagem secundário, pode alterar a trama. Carlos Alberto Riccelli, já famoso na época da versão original, desempenhou bem o papel como coadjuvante.
No entanto, pelo destaque que Cauã teve na chamada, não parece provável que ele permaneça em segundo plano. Há o risco de que a própria autora do remake, influenciada pela escalação do astro, amplie o peso de César na história, o que poderia comprometer a carpintaria tão bem construída por Gilberto Braga e seus parceiros.
O desafio de adaptar Vale Tudo é imenso, dado o impacto que a novela teve no Brasil, ainda nos primeiros passos da democracia após 25 anos de ditadura. Manuela Dias sabia disso quando aceitou a missão e tem talento para enfrentá-la. Resta torcer para que consiga honrar a obra de Gilberto Braga.
Opinião
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