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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Globo muda postura em relação a protestos contra Bolsonaro um mês depois

Colunista do UOL

19/06/2021 20h53

As manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tiveram uma mudança no estilo de cobertura quase um mês depois. O grupo Globo alterou a forma de noticiar a presença de milhares de brasileiros nas ruas pedindo a saída do líder do país.

No dia 29 de maio, a GloboNews não deu espaço para as manifestações e isso gerou diversas críticas nas redes. Hoje, quando a população repetiu o ato, a emissora mostrou cenas desde o começo do dia. À tarde, chegou a entrar com imagens ao vivo da Avenida Paulista, em São Paulo, local de maior concentração de manifestantes.

O impacto também foi nítido na cobertura do "Jornal Hoje" e "Jornal Nacional". A matéria na hora do almoço de hoje ocupou 3 minutos e 15 segundos do meio do telejornal, quando há um mês teve apenas 2 minutos, para encerrar o programa. Naquela ocasião, os protestos não fizeram parte da escalada, hoje, eles sim.

Protestos contra Bolsonaro acontecem em diversas capitais; confira imagens

O tempo também foi maior hoje no "Jornal Nacional". Foram 5 minutos e 35 segundos contra 3 minutos e 20 segundos. Os protestos, assim como aconteceu há um mês, também estiveram presentes na escalada.

O tom também foi diferente, em ambos os jornais. Hoje, a Globo adotou "milhares de manifestantes foram às ruas". Há um mês, a emissora preferiu não quantificar.

A Globo ainda fez questão de ressaltar hoje que a manifestação teve "preocupação com medidas sanitárias". E disseram que os organizadores pediam para as pessoas evitarem aglomeração.

Outra ressalva feita pela Globo hoje é que as manifestações foram "pacíficas". Ao falar sobre atos de vandalismo, a emissora destacou que foram apenas "algumas pessoas" que praticaram o ato em São Paulo.

Vale ressaltar que a edição de hoje do "Jornal Nacional" começou sem música, com Bonner e Renata Vasconcellos de luto, e como assunto principal as mais de 500 mil vítimas fatais da pandemia.

Editorial para encerrar

Para fechar o Jornal Nacional, em um editorial sobre as mortes no Brasil, Bonner e Renata falaram sobre "não existir dois lados" quando a democracia e a saúde estão ameaçadas. O texto bateu de frente contra o negacionismo do governo Bolsonaro.

A aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia, o estímulo frequente a aglomerações, a postura negacionista e inconsequente de não usar máscaras. E o pior: a recusa em assinar contratos para a compra de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas fatais.

"Tudo tem vários ângulos e todos devem ser acolhidos, mas há exceções. Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito a saúde, por exemplo, ou o direito de viver numa democracia. Em casos assim, não há dois lados. E esse é o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir."

UOL

Leandro Carneiro

Editor de Splash, viciado por qualquer tipo de reality show, inclusive aqueles que os famosos vivem na vida real. Jornalista há mais de 10 anos e palpiteiro desde sempre. Se o assunto for esporte, entro em campo também.