Conhecemos nossos filhos? Pai, Helio de La Peña alerta após 'Adolescência'
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Quero bater um papo com você, pai ou futuro pai.
"Adolescência" é uma série da Netflix em que um garoto de 13 anos é acusado de assassinar uma colega de colégio. Depois de assistir aos quatro episódios, me questionei: conheço meus filhos de verdade?
O que está acontecendo com os jovens hoje em dia? Essa foi a pergunta que motivou o inglês Stephen Graham a criar a série. Temos a ilusão de que o jovem está seguro em seu quarto, se distraindo, assistindo bobagens no computador. Mas não é bem assim.
Sou pai de três rapazes, hoje com 32, 23 e 21 anos. Perguntei a eles sobre o que vi na série e me surpreendi com as respostas. Detalhes bobos como os emojis, que uso para me comunicar com meus amigos, foram ressignificados. E passaram a ser usados pela garotada de forma irônica ou para provocar sentimentos dolorosos. Percebi como é difícil saber a fundo o que se passa com eles.
Acho que todas as gerações passam por dúvidas em relação a seus filhos. Não tive muito diálogo com meus pais. Falar de sentimento era um tabu. Quantas vezes imaginei que nunca ia conseguir uma namorada? Quantas vezes sofri sozinho por me sentir deslocado sendo o único preto num colégio de elite? Apesar de todo o carinho, eles não tinham a menor ideia dos meus desejos, das minhas angústias.
O bullying sempre houve. Antigamente, ficava restrito à sala de aula. Hoje, com as redes sociais, extrapolam para todo o colégio, bairro ou toda a sociedade. E os pais só tomam conhecimento quando o filho se torna vítima ou é denunciado como agente de um ato violento.

Os grupos de whatsapp podem ser um caldeirão de crueldade, com consequências inimagináveis. E o jovem passa a achar que está condenado a ter uma vida infeliz. Isso pode resultar em depressão profunda ou explosões agressivas.
Fui perguntar a meus filhos o que era incel, red pill? Eles se surpreenderam e quiseram saber como tomei conhecimento desses termos. Tinham certeza de que não faziam parte do meu universo.
Também nunca tinha ouvido falar em Andrew Tate. Descobri que é um influenciador com mais de 10 milhões de seguidores, famoso por disseminar conteúdos misóginos, em que a mulher deve ser submissa e que cabe ao homem estar no comando. Uma série de conceitos que podem ser levados muito a sério por outros.
Não é incomum o jovem ter suas "aulas" de educação sexual nos sites pornôs, onde muitas vezes a mulher é um mero objeto sexual e em alguns vídeos é tratada com violência não consentida. O jovem pode facilmente achar que este é o normal.
Será o caso do seu filho? Será que perguntando diretamente vai obter uma resposta sincera?
É preciso conversar em família. A mesa de jantar pode ser fundamental na formação do caráter dos filhos. Perceber o sofrimento, a angústia dos filhos, é difícil. Um adolescente com boas notas, bem alimentado, sociável pode ter uma personalidade totalmente diferente no mundo digital. Temos que ter discernimento se aquele é um comportamento genuíno ou apenas dissimulação.
Aqui, procuramos jantar juntos sempre que possível. Muita conversa fiada, no meio dela, uma ou outra pergunta que cria desconforto. Se for preciso, impomos limites. Não sabemos se vai dar tudo certo. Mas, pelo menos, tentamos. Por isso, falo sempre com amigos desesperados com o futuro do seu filho: nunca jogue a toalha.
Assista à série. Não é uma realidade distante. Acontece aqui no Brasil.
Para isso, indico o episódio: "Vanessa Cavalieri não quer prender o seu filho" do podcast Fio da Meada. Vanessa, juíza da Vara de Infância e Juventude do Rio de Janeiro, conta casos alarmantes e dá orientações importantes para os pais.
Deixe aqui seu comentário. Vamos conversar? Se quiser enviar seu relato de maneira privada, mande por email: heliodelapena@uol.com.br.
NUNCA JOGUE A TOALHA!
Um abraço.
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