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Faustão tentou evitar cortes, mas conta não fecha e programa terá mudanças
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Resumo da notícia
- A crise do programa do Faustão mostra o desafio das TVs, que cortam custos diante da fuga de audiência e receita para o digital
- Faustão foi uma grande aposta da Band, mas a audiência abaixo da expectativa e receita menor que a imaginada se tornaram problemas
- Faustão aceitou reduzir seus ganhos para garantir sua equipe e estrutura, mas nos últimos meses as demissões se tornaram inevitáveis
- O programa terá seu tempo no ar reduzido e incertezas devem aumentar a dificuldade para atrair e reter anunciantes
Nesta semana o programa do Faustão passou por uma nova onda de demissões. Entre 40 e 50 pessoas deixaram a Band. Não é o primeiro corte. Nos últimos meses, o programa tem passado por sucessivas reduções de equipe.
Bailarinas foram cortadas, produtores demitidos e dois integrantes da equipe comercial deixaram a emissora pouco mais de três meses após chegarem. Até os custos de transporte e despesas gerais estão sendo reduzidos.
Faustão tenta defender sua equipe. Segundo pessoas próximas ao apresentador, logo nos primeiros meses ele aceitou reduzir seus vencimentos para garantir a estrutura que considerava ideal, na expectativa de que a publicidade aumentasse. Os números não melhoraram e os cortes começaram a acontecer.
A explicação é simples: a conta não fecha. Em janeiro, dias antes da estreia do programa, ouvi de um ex-executivo da Band: "se Faustão der menos de 6 pontos de audiência, a conta vai ser muito difícil de fechar e vira um problema, não uma solução".
Dentro da Band a aposta de diretores mais entusiasmados é que a atração alcançaria 8 pontos no Ibope. Isso nunca aconteceu. Faustão em alguns momentos chegou perto dos 6 pontos, mas não decolou. Em junho a média foi de de 3,5 pontos na Grande São Paulo, segundo o Kantar Ibope.
Tendência de piora
A notícia é ruim para Faustão, seus fãs, para a Band, mas pior ainda para a TV aberta. "Não é apenas a Band que está sofrendo. SBT, Record, Rede TV, todos estão perdendo investimentos para o digital", diz um executivo do mercado publicitário.
"Muito dinheiro que ia para a TV está indo para plataformas online. O crescimento do TikTok, por exemplo, é impressionante", afirma o executivo. A Globo estaria sentindo menos esse efeito por ter crescente presença no digital com a Globo.com e o Globoplay.
Além disso, a Globo realizou grandes cortes de custos. Uma das medidas mais polêmicas (e efetivas) foi encerrar a maior parte dos contratos fixos dos talentos na área de dramaturgia. Hoje, só tem contrato fixo quem segue emendando um trabalho no outro e não sai do ar.
Apenas no primeiro semestre de 2021, a Globo cortou R$ 281 milhões em custos de salários. A economia com a saída de Faustão, o maior salário da emissora carioca, nem chegou a entrar nessa conta, já que deixou a emissora apenas no segundo semestre.
SBT, Record e Rede TV também trabalharam para enxugar as contas e encerraram contratos fixos com estrelas.
Tudo ou nada da Band
Mas a Band, diferentemente de seus concorrentes, aumentou a aposta na TV aberta tradicional. Contratou Faustão pagando R$ 5 milhões por mês, com um valor adicional pelas vendas de projetos comerciais. Também montou a mais cara estrutura de um programa de TV do país.
Para piorar, o programa vai ao ar de segunda a sexta, o que limita as alternativas de mudança, já que diversas horas de programação estão diretamente ligadas ao Faustão. Diversos compromissos comerciais foram assumidos, e agências e clientes não gostam de mudar planos de mídia.
Mas além dos milhões que passou a pagar a Faustão, a Band abriu mão do dinheiro que recebia da programação religiosa no mesmo horário. A estimativa é que o pastor R.R. Soares pagasse R$ 8 milhões por mês à emissora.
Mais problemas comerciais
A Band também enfrenta dificuldades com algumas afiliadas. Enquanto concorrentes como a Globo pagam o BV (bonificação de volume) adiantado para as agências, logo no início do ano, a Band paga depois. Isso faz com que as agências priorizem a Globo e ajuda a emissora carioca a fechar os maiores pacotes de mídia, que são os anuais.
Outro problema é que parte da receita que hoje entra no Faustão é um dinheiro que a Band já recebia em outros programas, mas esses programas tinham custo menor de produção.
"Quando a Band anuncia que empresa X ou Y colocou milhões no programa do Faustão, isso não significa que todo esse dinheiro é novo, parte desse dinheiro talvez já fosse para a Band em um programa mais barato. Então isso acaba diminuindo a margem de lucro", diz o executivo de uma emissora concorrente.
Ou seja, no final do dia pode até sobrar menos dinheiro para a Band neste modelo acordado com Faustão.
Como solucionar o problema do Faustão
Após as demissões na Band, o F5 noticiou que a partir de 2023 o programa do Faustão deve deixar de ser exibido de segunda a sexta-feira, tendo sua frequência reduzida. Procurada pela coluna, a Band afirmou por meio de sua comunicação que não comenta especulações.
Mas a notícia pode até ser positiva a longo prazo. Não surpreenderia se Faustão retornasse aos domingos para bater de frente com Luciano Huck. Esse provavelmente foi um dos maiores erros estratégicos da Band. Ao levar Faustão para a semana, exigiu que os espectadores criassem um novo hábito.
A audiência de TV é movida por hábitos construídos ao longo de anos. Por essa razão, o futebol fora da Globo não funciona da mesma maneira e dá menos audiência. O inconstante calendário dos campeonatos de futebol no país também não ajuda as emissoras concorrentes da Globo.
A F-1, no mesmo dia e horário na Band, com diversos ex-profissionais da Globo na transmissão, exigiu um esforço menor de adaptação dos espectadores. O que talvez ajude a explicar a boa audiência da categoria em sua nova casa.
O risco de fritura
O grande desafio para a Band e para Faustão é superar a crescente desconfiança do mercado. À medida que aumentam as especulações sobre o futuro de Faustão na Band, deve crescer a dificuldade para a renovação de contratos comerciais e atrair novos anunciantes.
Segundo a emissora, a equipe do Faustão entrará em férias coletivas entre 11 e 22 de julho. Nesse período, a atração vai reprisar os "melhores momentos" nos episódios que irão ao ar de segunda a sexta-feira, mantendo duas horas de exibição.
A partir de 25 de julho, quando a equipe do Faustão voltar das férias, o programa perderá 30 minutos de duração. Então, a atração "1001 Perguntas" será exibida após o Faustão na Band. A mudança segue até 25 de agosto, quando começar o horário eleitoral e o programa perde mais cinco minutos.
Clientes e agências não querem comprar publicidade no programa do Faustão e correr o risco de ter suas campanhas veiculadas no game show.
Os cortes na Band também envolveram a saída de dois executivos da equipe comercial da emissora. Um deles seria indicação do próprio Faustão.
Planos não realizados
Faustão ainda terá de lidar com a frustração de ser obrigado a rever suas ambições iniciais. O processo deve ser duro. O apresentador de 72 anos não entrou no projeto apenas pelo dinheiro, já que sua fortuna permitiria uma aposentadoria tranquila.
Mais do que o destino do programa "Faustão na Band", essa saga é um retrato dos crescentes desafios da TV. Galvão Bueno, outro ícone da Globo, optou por partir diretamente para o digital.
Além dos cortes na equipe do Faustão, outra área bastante afetada por demissões da Band foi a Vibra, braço digital da emissora.
Em breve, quando Galvão estrear no YouTube e ficar mais claro o futuro de Faustão na Band, ficará mais fácil dizer quem fez a aposta mais acertada.
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