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Guilherme Ravache

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Globoplay abandona TVs antigas e se alia ao Google para não 'travar' no BBB

Colunista do UOL

12/12/2021 04h00

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Resumo da notícia

  • Última edição do Big Brother Brasil foi marcada por problemas na transmissão do reality no Globoplay, que travava com a 'rajada de tráfego'
  • O efeito 'rajada de tráfego' acontece quando milhões de usuários tentam acessar ao mesmo tempo um conteúdo do Globoplay, a exemplo do BBB
  • Para o BBB 22, Globo vai limitar funcionamento do app do Globoplay a TVs mais novas e terminar o programa em diferentes horários em diferentes praças
  • Graças a um acordo entre Google e Globo, a emissora irá levar boa parte de suas operações digitais para a nuvem da gigante de buscas
  • Globo investiu para ampliar sua própria rede de distribuição de conteúdo digital e usará afiliadas como parte da estratégia
  • BBB 22 é parte essencial da estratégia do Globoplay para seguir aumentando número de usuários e faturamento

O Big Brother faz tanto sucesso que se tornou um problema para a TV Globo. No início deste ano, quem tentava assistir ao reality no Globoplay não raro saia frustrado. Era praticamente impossível acessar a plataforma nos momentos mais emocionantes do show.

Na época, a Globo explicou que o Globoplay sofria do "efeito rajada de tráfego", quando milhões de usuários migravam simultaneamente da TV para o streaming da emissora carioca no final do programa para continuar acompanhando os bastidores.

Basicamente, a demanda era tão alta que a infraestrutura da Globo não era capaz de suportar o tráfego.

Na última edição do BBB, foram mais de 430 milhões de horas assistidas, sendo 350 milhões em live streaming. Já o número de plays foi de 3,7 bilhões, com 2,4 bilhões de live streaming. Houve picos de 17,62 milhões de requisições simultâneas no Globoplay, um aumento de 352% em relação à edição anterior, e ainda 2,618 milhões de usuários simultâneos na plataforma, um aumento de 261% em relação ao BBB20. Os números foram divulgados por Raymundo Barros, diretor de estratégia e tecnologia da Globo, no 5×5 Tec Summit, na sexta-feira, 10.

Medidas para diminuir impacto do BBB22

Nos últimos meses uma revolução aconteceu na tecnologia da Globo. Primeiramente, o data center da empresa foi vendido. Depois, um grande contrato foi fechado entre o Google e a emissora para usar a tecnologia e os serviços de nuvem da gigante de buscas. Barros afirmou no encontro que o próximo BBB já contará com os serviços do Google.

Questionada sobre quais ações haviam sido tomadas, além da parceria com o Google, para diminuir os problemas do BBB no Globoplay, a Globo informou por meio de sua comunicação que medidas como "o aumento de infraestrutura, otimizações de código, mudanças na arquitetura dos serviços e o desligamento de sistemas nos horários de pico" foram realizadas.

Na transmissão pela TV, ações para 'deslocar' a rajada, como atrasar o final do programa em algumas praças foram adotadas na última edição e serão novamente usadas.

TVs antigas não vão funcionar com Globoplay

A Globo também realizou grandes investimentos. O custo com tecnologia esteve entre as maiores linhas de gastos da empresa, juntamente com conteúdo para o Globoplay. Nos nove primeiros meses de 2021, custos e despesas no grupo Globo foram 28% maiores em relação ao mesmo período do ano passado.

Quem vai se frustrar são os donos de TVs mais antigas. Segundo a comunicação da Globo, outra iniciativa foi a implementação de um programa de desativação do aplicativo em televisores fabricados até 2015. "Constatamos que nestes modelos havia uma grande probabilidade de problemas técnicos que poderiam ocasionar falhas na transmissão por streaming ao vivo. Esta medida foi necessária porque os fabricantes já não dão suporte aos sistemas operacionais que rodam nesses televisores mais antigos, o que torna impossível atualizar o app do Globoplay para as necessidades atuais dos assinantes".

A grande aposta para o BBB22

Outra medida da Globo foi a expansão de sua estrutura de CDN (Content Delivery Network). Resumidamente, CDN é uma rede de distribuição de conteúdo ligada a um grupo de servidores geograficamente distribuídos que trabalham juntos para fornecer entrega rápida de conteúdo da Internet.

Ao invés de ficar apenas em gigantescos servidores distantes das casas dos usuários, o conteúdo também fica disponível em computadores mais próximas dos usuários.

O movimento 'move-to-cloud' também levou os serviços e aplicações mais críticos do Big Brother e Globoplay para um ambiente de cloud computing como parte da parceria fechada entre Globo e Google Cloud.

"No primeiro caso, a jornada de construção de sua própria CDN teve início em 2019, quando a empresa fechou o ano com seis POPs em operação. Em 2020, foi atingida a marca de 18 e, no mesmo ano, chegou ao seu primeiro destino internacional: os Estados Unidos. Em 2021, seus pontos de presença foram expandidos para garantir uma ampla distribuição nacional, atingindo o marco de 100 POPs no Brasil - além de terem também chegado à Europa e ao Canadá", diz a empresa.

Afiliadas são parte da solução

Ter a própria CDN é uma das razões pelas quais a Netflix é tão estável e dificilmente trava. Nesse sentido, a Globo leva a vantagem de ter afiliadas espalhadas por diversas regiões do Brasil.

"Essa capilaridade de infraestrutura garante um salto menor do usuário para consumir um vídeo, melhorando exponencialmente a experiência por todo o país, levando para mais perto do usuário o conteúdo que está sendo servido, reduzindo a distância que os dados precisam percorrer entre os nossos servidores e o dispositivo do assinante", diz a comunicação da Globo.

Boa parte da operação já estará na nuvem quando o BBB22 começar, "principalmente os sistemas que fazem a sustentação dos acessos do fenômeno rajada".

Mas vale notar que a natureza do Globoplay é diferente da Netflix e outras plataformas de streaming. A plataforma da Globo não é apenas um serviço de vídeo sob demanda (VOD), também existe uma grande parte de conteúdo consumido como streaming ao vivo.

A diferença pode não parecer grande para quem consome, mas do ponto de vista técnico é um desafio gigantesco. Quando a Itália levou sua Série A de futebol para o streaming, o resultado foi "travar" a plataforma da DAZN. Milhões de italianos acessavam o serviço simultaneamente para assistir aos jogos e o serviço caia.

O episódio gerou ultraje na nação. A infraestrutura de banda larga no país, ruim em comparação a outros países da Europa, foi apontada como o problema. Neste caso, uma boa CDN também poderia diminuir ou sanar o problema.

Ter uma robusta rede de distribuição (CDN) pode evitar esse tipo de problema. "O que temos visto é que, desde o último BBB, todos os índices relacionados à experiência de consumo do Globoplay apresentaram melhoras significativas, o que nos leva a crer que o desempenho do serviço de streaming na próxima temporada manterá os melhores padrões de qualidade", diz a comunicação da Globo.

Globoplay é prioridade da Globo

A Globo nos últimos anos realizou uma dura reestruturação, com grandes cortes de funcionários e despesas com o objetivo de se tornar uma empresa direta ao consumidor. O Globoplay é parte central dessa estratégia.

O crescimento da plataforma tem dado sinais animadores. No segundo semestre deste ano, o crescimento da receita do Globoplay foi de 68% e sua base de assinantes aumentou 42% em relação ao ano anterior. No terceiro trimestre, a receita da plataforma cresceu 70% e a base de assinantes 27% em relação ao ano anterior. O forte crescimento de assinantes no segundo semestre está diretamente ligado ao BBB.

O problema para a Globo tem sido o rápido crescimento dos custos da plataforma, que tem demandado altos investimentos em tecnologia e conteúdo. A expectativa da Globo é que o Globoplay passe a dar lucro somente em 2024 ou 2025. No 5×5 Tec Summit, o diretor de tecnologia da Globo destacou que o grande benefício da migração para a nuvem não é custo, mas sim eficiência.

No dia 17 de janeiro, quando estrear o BBB 22, descobriremos o quão eficiente se tornou o Globoplay e se os últimos meses de esforços e investimentos serão recompensados.

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