Flavia Guerra

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Opinião

Cannes: Scarlett Johansson faz estreia com choro e overbooking de ingressos

Toda edição do Festival de Cannes tem seus filmes mais queridinhos mesmo antes de a maratona começar na Riviera Francesa. "Eleanor the Great" é um deles. Desde o anúncio do filme que marca a estreia de Scarlett Johansson na direção de longas-metragens, era imenso o buzz em torno do filme que compete na mostra Um Certo Olhar, dedicada a filmes que ousam na linguagem, marcam o início de carreira dos diretores ou que trazem propostas diferentes da competição oficial.

Para se ter uma ideia, os ingressos para as duas sessões do filme esgotaram em menos de 5 minutos. A sessão de estreia foi, obviamente, uma das mais agitadas, com filas imensas e ansiedade no ar. Foi também uma das mais emocionantes, com um público que caiu em lágrimas e embarcou na proposta do longa que conta a história de uma amizade improvável entre uma senhora de 94 anos e uma jovem na casa dos 20, ambas encarando o luto e a solidão após duas grandes perdas. A expectativa virou confirmação de um belo filme e o buzz para a segunda sessão, no dia seguinte, foi tamanho que houve overbooking de ingressos. Mais de 50 pessoas ficaram de fora da sessão, que ocorreu em uma tarde chuvosa, com mais filas e ansiedade.

Scarlett, que é rotulada como a "atriz mais rentável" de Hollywood, tem esse poder raro de atrair multidões, mesmo quando não está em cena. Ela não atua como atriz em "Eleanor", mas como produtora e diretora. O público amou, chorou, engajou com o roteiro criado por Tory Kamen. A crítica se dividiu entre os que adoraram a proposta simples, mas eficaz de construir um drama que trata não só da amizade, mas também de luto, traumas, conexão e solidão.

Com "Eleanor the Great", ela faz uma estreia como cineasta interessada em contar novas histórias e também em fazer um cinema popular, com amplo diálogo com o espectador.

Com "Eleonor the Great", Scarlett Johansson quer contar novas histórias e também fazer um cinema popular
Com "Eleonor the Great", Scarlett Johansson quer contar novas histórias e também fazer um cinema popular Imagem: Lionel Hahn/Getty Images

Eu realmente fiquei tão encantada com o roteiro. É tão incomum encontrar, ler um roteiro que parecesse uma ideia tão original, que tivesse esse dispositivo tão convincente, sabe, esse 'erro' da Eleanor.
Scarlett Johansson em conversa exclusiva com o Splash em Cannes

Por "erro" da Eleonor, entenda-se que ela, magistralmente interpretada por June Squibb (indicada ao Oscar por "Nebraska", de Alexander Payne), acaba de perder a melhor amiga de vida, Betsie. Elas moraram juntas por 11 anos na Flórida, depois de ficarem viúvas e, quando Betsie falece, Eleonor volta a morar em Nova York com a filha e o neto em um apartamento confortável, mas pequeno. Ela passa mais tempo sozinha do que na companhia da família, e sua filha a matricula em um coral no clube da comunidade judaica local.

Eleonor então chega, por acaso, no grupo de apoio a sobreviventes do Holocausto e acaba por mentir sobre sua suposta experiência nos campos de concentração, atraindo a atenção da jovem estudante de jornalismo Nina (Erin Kellyman), que quer escrever um artigo sobre a idosa.

Elas se tornam cada vez mais próximas, mas para manter o vínculo, Eleonor vai se embrenhando cada vez mais em suas mentiras e as consequências são, obviamente, catastróficas. Ao mesmo tempo, o luto e a solidão as unem de forma profunda, uma vez que Nina perdeu a mãe há pouco tempo e mal consegue conversar com o pai, um jornalista famoso e sempre ocupado.

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"Então, esses personagens se unem por causa disso, sabe, da decepção. Ainda assim, a amizade está baseada nisso também. É tão verdadeira porque elas estão tendo uma conversa tão honesta. Havia muito potencial na maneira e na complexidade de como a história se resolve", completou a atriz e diretora.

Ainda que pareça um grande melodrama, o roteiro de Tory é milimetricamente costurado de forma que o humor também tenha papel crucial na história. Eleonor é desbocada, sarcástica, divertida e apaixonante. Quem buscar em "Eleonor the Great" uma direção muito inventiva ou disruptiva vai se decepcionar. É clara a intenção de Scarlett de fazer um filme simples, mas não simplório, que emociona, mas que não exagera, que tem sua assinatura, mas não quer inventar a roda. Honesto, é uma bela dramédia, dessas que também fazem bem ao coração em um festival repleto de filmes mais radicais em suas propostas estéticas.

"Não foi fácil. E (o luto) não é um assunto fácil de abordar. Mas conseguir abordar algo assim com empatia e com humor, ironia, amor e, sabe, foi uma oportunidade tão rara. Isso me fez pensar: "Ah, eu penso assim. Eu consigo fazer isso, sabe?", concluiu Scarlett, que tem tudo para estar na competição oficial de Cannes em edições futuras, se continuar em seu propósito de diálogo com o público e ousar um tantinho mais na forma e na direção. Ao menos no Oscar 2026 "Eleonor the Great" e June Squibb têm tudo para estar.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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