'O Agente Secreto' estreia em Cannes em clima de festa pelo cinema nacional

O diretor pernambucano e sua equipe foram acompanhados pelo grupo Guerreiros do Passo, formado por discípulos do Mestre Nascimento do Passo, e por músicos da Orquestra Popular do Recife, levando a energia da cultura do Recife à Croisette.

Aplausos de 9 minutos

"Alguns dos filmes que eu vi no cinema, por alguma razão, foram vistos em um domingo à tarde, em cinemas muito grandes como o São Luiz que a gente vê no filme", disse Kleber Mendonça Filho no final da sessão, após cerca de 9 minutos de palmas ininterruptas.

Quero agradecer a toda a equipe que fez esse filme. Me sinto muito honrado de ter vocês aqui, porque foi uma grande experiência fazer 'O Agente Secreto'.
Kleber Mendonça Filho

A seu lado, além de Wagner e da produtora Emilie Lesclaux, estava parte do elenco, como Alice Carvalho, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Carlos Francisco, Roney Vilela e Robério Diogenes.

Muito emocionado, Wagner Moura foi ovacionado quando sua imagem apareceu na tela da sala. É tradição no evento que, durante os aplausos, um câmera filme a equipe do longa e a imagem seja projetada no telão.

Filme brasileiro, com dinheiro público

Após a sessão, Kleber e o elenco de "O Agente Secreto" participaram de uma coletiva de imprensa somente para os jornalistas brasileiros e, em clima de petit comitê, celebraram não só a exibição do filme, mas também o bom momento do cinema nacional, após uma temporada de Oscar e Urso de Prata em Berlim (para "O Último Azul", de Gabriel Mascaro).

'Ainda Estou Aqui' conectou o público brasileiro com o cinema adulto brasileiro de uma forma extraordinária. Depois de muitos anos de falácia, mentira, ataque à cultura, ataque à classe, de tantas fake news tem um filme que é visto por milhares de brasileiros, com os jovens dizendo: 'Caramba, teve uma ditadura militar no Brasil. Não quero que isso aconteça nunca mais'.
Wagner Moura

Ele destacou, além do efeito político, outra "coisa extraordinária":

"São as pessoas torcendo por aquele filme. O movimento que ele causou de as pessoas dizerem assim: 'Fernanda Torres é uma artista brasileira que me representa como brasileiro'", declarou Wagner Moura ao ser questionado sobre a conexão de "O Agente Secreto" e "Ainda Estou Aqui", que falam da estrutura do Brasil e do período da ditadura militar.

"Para a nossa alma de brasileiro, para a importância que a cultura deveria ter e tem hoje muito mais do ponto de vista do governo, está aqui a ministra. E eu fico muito feliz de a ministra da Cultura estar aqui. Eu dirigi um filme sobre a ditadura muito diferente. Mas queria falar de 'Ainda Estou Aqui' um pouco porque é inevitável falar desse filme, da importância que ele tem, que ele teve e que continua tendo. O mais lindo foi essa reconexão com o cinema, com os artistas, a representatividade", completou o ator.

A ministra da cultura Margareth Menezes, que tem participado de diversos eventos, painéis e compromissos neste ano em que o Brasil também é o país de honra do Marché du Film, o maior mercado de cinema do mundo, estava ao lado da equipe na coletiva de imprensa e sua presença e a política pública que apoia a cultura foram celebradas.

Expressar-se artisticamente faz parte do que uma nação significa. Talvez a maior parte dos países tenha vocação cultural, mas no Brasil ela é muito especial, é reconhecida no mundo inteiro por meio da música, da literatura, do cinema, do teatro, das artes plásticas. E eu acho que é absolutamente digno e honesto um país apoiar seus artistas e a produção cultural. A gente vem a Cannes onde muitos filmes do mundo inteiro trazem no início apoios públicos: a França, a Dinamarca. Na Europa é um caminho absolutamente natural e que faz parte da cadeia produtiva.
Kleber Mendonça Filho

"Fico muito feliz de 'O Agente Secreto' ser um filme brasileiro, mas realizado com dinheiro público não só do Brasil, mas da França, da Alemanha e da Holanda. E esse filme que vocês viram hoje empregou mais de 1.200 pessoas. Fico muito orgulhoso de fazer parte de um país e ser artista em um país que apoia a produção cultural. Eu como artista dou a minha contribuição, mas há centenas de homens e mulheres que fazem arte no Brasil e para mim é absolutamente digno e honesto o apoio institucional, o apoio público, com total liberdade democrática para expressar o que você quiser", completou ele.

Em um ano em que a competição traz bons filmes, mas nenhum franco favorito até o momento, "O Agente Secreto" se revela um dos destaques do festival e é candidato a prêmios na noite do próximo sábado, quando as Palmas de Ouro serão entregues pelo júri presidido por Juliette Binoche.