Flavia Guerra

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Reportagem

Cannes 2025: Brasil em destaque, prêmio para De Niro e apostas do Oscar

Um Festival de Cannes como nenhum outro. Ao menos para o Brasil, país de honra no Marché du Film, o maior "mercado de filmes" do mundo e evento paralelo tão essencial para o festival como sua própria competição oficial, Cannes 2025 será histórico.

Espera-se que, além da comitiva de "O Agente Secreto", que traz Wagner Moura de volta à Croisette (a avenida à beira-mar) depois de 20 anos, e de outras produções brasileiras em mostras paralelas, cerca de 400 profissionais brasileiros passem pelo Marché du Film neste ano.

Entre debates, painéis, apresentações de projetos, reuniões e missões oficiais de entidades como SPcine, Cinema do Brasil, RioFilme, Ministério da Cultura e Secretaria do Audiovisual, Projeto Paradiso, entre outros, representam o atual audiovisual brasileiro que, na reverberação da onda criada por "Ainda Estou Aqui" na temporada do Oscar 2025, busca coproduções, parcerias internacionais, distribuição e colocar o Brasil no mapa do cinema mundial não pontualmente, mas sim de maneira contínua e sólida.

Neste cenário, ter o Brasil disputando a Palma pelo segundo ano consecutivo é um ponto crucial. Em 2024, Karim Aïnouz concorreu com "Motel Destino". O cineasta cearense já havia disputado a Palma em 2023 com a produção internacional "Firebrand" e venceu a Um Certo Olhar, em 2019, com "A Vida Invisível". Nesse mesmo ano, mesmo ano, Kléber Mendonça Filho levou o Prêmio do Júri, com "Bacurau".

Em 2023, o cineasta voltou a Cannes fora de competição com o documentário "Retratos Fantasmas" e, agora, com "O Agente Secreto", traz também Wagner Moura de volta, duas décadas após "Cidade Baixa", de Sergio Machado, disputar a mostra Um Certo Olhar, dedicada a projetos de linguagem mais experimental que a competição oficial ou obras de cineastas em início de carreira.

Neste ano, por exemplo, três nomes aguardados da seção Um Certo Olhar são atores e atrizes hollywoodianos que se lançam à direção: Kristen Stewart com "The Chronology of Water", Scarlett Johansson com "Eleanor the Great", estrelado por June Squibb, e Harris Dickinson, com "Urchin".

Amanhã, quatro curtas-metragens do projeto Directors' Factory Ceará Brasil, apadrinhado por Karim Aïnouz, abrem a prestigiada Quinzena de Cineastas (antiga Quinzena dos Realizadores).

Criados por jovens talentos do Norte e Nordeste do Brasil em colaboração com cineastas de Cuba, Portugal, França e Israel, os quatro curtas trazem a diversidade em questão: A Fera do Mangue, de Wara (Ceará) e Sivan Noam Shimon (Israel); A Vaqueira, a Dançarina e o Porco, de Stella Carneiro (Alagoas) e Ary Zara (Portugal); Ponto Cego, de Luciana Vieira (Ceará) e Marcel Beltrán (Cuba); e Como Ler o Vento, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas) e Sharon Hakim (França).

Parceria da Secretaria da Cultura do Ceará com a Quinzena de Cineastas, por meio do Instituto Mirante de Cultura e Arte, Instituto Dragão do Mar, e produção da empresa Cinema Inflamável, com Janaina Bernardes e a coprodutora francesa Dominique Welinski, a Directors Factory Ceará Brasil é mais um passo rumo à internacionalização e a continuidade do cinema brasileiro.

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Cineastas brasileiros selecionados para o projeto Directors? Factory Ceará Brasil, que abre a Quinzena dos Cineastas em Cannes 2025
Cineastas brasileiros selecionados para o projeto Directors? Factory Ceará Brasil, que abre a Quinzena dos Cineastas em Cannes 2025 Imagem: Divulgação

O Brasil ainda disputa a Semana da Crítica com "Samba Infinito", que traz Camila Pitanga e Gilberto Gil no elenco e "nos leva a uma jornada urbana, que é, ao mesmo tempo, festiva e melancólica". O curta "acompanha um gari durante o Carnaval, busca retratar o luto pela perda da irmã do personagem e a sua jornada ao encontrar uma criança perdida."

Já na Cannes Classics, o festival homenageia um de seus diretores brasileiros mais queridos com "Para Vigo Me Voy!", documentário sobre Cacá Diegues. Dirigido por Lírio Ferreira e Karen Harley, o filme tem produção de Diogo Dahl, de "Cinema Novo" (vencedor da "Palma de Ouro", o L'oeil D'or, de documentário em 2016).

Dahl também apresentou a sessão de "Bye Bye Brasil", a obra-prima de Diegues, em cópia restaurada em Cannes 2024. Certamente, como todas as sessões do Classics, "Para Vigo me Voy" promete ser uma sessão emocionante.

Cena do documentário "Para Vigo me Voy", que será exibido no Festival de Cannes e homenageia o cineasta Cacá Diegues
Cena do documentário "Para Vigo me Voy", que será exibido no Festival de Cannes e homenageia o cineasta Cacá Diegues Imagem: Divulgação

Quem tem seu legado também celebrado na abertura de Cannes nesta terça é Robert De Niro, que recebe a Palma de Ouro pela Carreira e amanhã, quarta, participa de um encontro, o concorridíssimo "Rendez Vouz", em que relembra grandes momentos de sua trajetória.

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A abertura também traz uma aposta em uma jovem cineasta. Amélie Bonnin exibe seu primeiro longa,"Partir un Jour" diante da plateia mais seleta, e uma das mais exigentes, do mundo.

O longa traz a história de Cécile, que se prepara para realizar o sonho de abrir seu próprio restaurante, mas seu pai sofre um infarto, o que a obriga a voltar para sua cidade natal e rever seus sonhos profissionais e suas memórias.

"Partir un jour", de Amélie Bonnin,  com Juliette Armanet e Bastien Bouillon, abre o Festival de Cannes 2025
"Partir un jour", de Amélie Bonnin, com Juliette Armanet e Bastien Bouillon, abre o Festival de Cannes 2025 Imagem: Divulgação

Além de Bonnin, outras sete mulheres disputam a Palma meste ano. Entre elas, Julia Ducournau, que venceu Cannes com "Titane", volta com "Alpha", que promete ser tão eletrizante quanto o anterior. A espanhola Carla Simón, que venceu o Urso de Ouro de Berlim com "Alcarraz", a escelsa Lynne Ramsay e a japonesa Chie Hayakawa também disputam a Palma.

Os veteranos, os belgas Jean-Luc e Pierre Dardenne e Wes Andersen voltam à já habitual Croisette. Por falar em habitués, Tom Cruise, depois do fenômeno "Top Gun Maverick", volta com "Missão: Impossível - O Acerto Final", e Spike Lee, que presidiu o júri que deu a Palma a "Titane" em 2021, exibe fora de competição o aguardado "Highest 2 Lowest", estrelado por Denzel Whashington.

Entre mais de 3.000 filmes que passaram pela seleção comandada pelo diretor artístico Thierry Frémaux, Cannes busca novamente o equilíbrio entre o cinema comercial e o autoral, o respeito ao cinema que traz forte a assinatura de seus diretores, mas sem deixar de apostar nos novos nomes.

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Encontrar o equilíbrio não é tarefa fácil e neste início de maratona cinéfila paira no ar a expectativa de que ao longo da quinzena, como em 2024, com a Palma para "Anora", Cannes traga boas surpresas e abra caminho para a temporada do Oscar 2026.

Ao mesmo tempo em que acena para o circuito comercial, Cannes tem o dever de manter sua relevância em um cenário cada vez mais competitivo e multifacetado, quando filmes que estreiam diretamente no streaming têm tanto alcance (ou mais) de público quanto os que estreiam antes em salas.

A maratona está começando e nos próximos dias o centro nervoso do cinema se volta para a Croisette e aguarda as surpresas que sempre surgem em Cannes e ganham o mundo.

Reportagem

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