Flavia Guerra

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Reportagem

'Ladrões de Drogas' traz Wagner Moura e Tyree Henry em química perfeita

"Ladrões de Drogas", criada por Peter Craig, famoso por histórias como "Top Gun: Maverick", "Jogos Vorazes" e "Gladiador 2", poderia ser mais uma série ancorada no clichê de histórias de ação e thrillers policiais. Dois amigos, quase irmãos, excluídos de uma sociedade que encarcera majoritariamente negros e latinos, não querem e nem têm vocação para serem peixes grandes do crime e do tráfico, mas se veem em uma teia quase impossível de ser rompida e acabam ganhando a vida se disfarçando de agentes da DEA (Drug Enforcement Administration) na Filadélfia. Na verdade, eles roubam novatos e/ou peixes pequenos do tráfico como um meio de vida.

Ray (Brian Tyree Henri) não leva nenhum jeito para a carreira no crime, mas tem questões a resolver com o passado, pois seu pai está preso há tempos e o deixou para ser criado pela namorada, que se tornou uma mãe para ele e que está aparentemente doente. Já Manny (Wagner Moura) é um imigrante brasileiro que não tem família nos Estados Unidos e que vê no crime um período passageiro, em que vai juntar dinheiro suficiente para se casar e viver tranquilo com Sherry (Liz Caribel Sierra).

Tudo é precário na vida deles. Das ações que planejam às soluções que encontram, mas, por sorte, tudo vai de alguma forma bem até que eles, por acaso ou por azar, fazem uma ação desastrosa em um local que é muito mais importante na cadeia alimentar do tráfico local do que pensavam.

A trama, então, começa a esquentar e também a ganhar tons mais dramáticos, e o caráter mais errático e frágil de Manny começa a se revelar. Já Ray tem de lidar com o pai, a mãe e uma advogada nada óbvia que surge em sua trajetória ao mesmo tempo em que tem que tentar entender em que teia do crime organizado os dois se enroscaram.

 Liz Caribel Sierra (Sherry) e Wagner Moura (Manny) em cena de "Ladrões de Drogas"
Liz Caribel Sierra (Sherry) e Wagner Moura (Manny) em cena de "Ladrões de Drogas" Imagem: Divulgação/ AppleTV+

Há muitos ingredientes em "Ladrões de Drogas", que é inspirada no livro "Dope Thief", de Dennis Tafoya, que poderiam, se mal conectados, resultar em uma trama confusa e que atira para lados demais. Na verdade, a trama atira muito para muitos lados, mas consegue, muito por conta de um raro equilíbrio, dar sentido ao caos que se instala em fogo brando que se intensifica a cada sequência.

Por "fogo brando", não entenda como uma série muito calcada no drama e nos diálogos. Da primeira sequência, que revela o primeiro golpe de Manny e Ray, à conclusão, muitos tiros, porradas e bombas ocupam a tela. Ao mesmo tempo, o formato seriado, de oito episódios, permite que flashbacks tragam (em cenas curtas que não comprometem o tempo atual da trama) um pouco da construção do caráter de cada um dos protagonistas.

As dinâmicas de família dão densidade e humanidade a uma trama que poderia ser mais uma série de perseguições e mistérios a se resolver. Mas a família herdada e a família escolhida dão complexidade à história, seja a do "bromance" entre os dois ou as cenas entre Ray e sua mãe, Manny e sua noiva, Son Pham (o ótimo vietnamita Dustin Nguyen, que atua como uma espécie de chefe da dupla) e sua própria família.

 O vietnamita Dustin Nguyen vive o criminoso Son Pham e é um dos destaques de "Ladrões de Drogas", na AppleTV+
O vietnamita Dustin Nguyen vive o criminoso Son Pham e é um dos destaques de "Ladrões de Drogas", na AppleTV+ Imagem: Divulgação/AppleTV+
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"Adorei o que você disse, porque esta é a minha parte favorita nesse tipo de programa de TV, este streaming de oito episódios, onde você pode ser muito cinematográfico a cada episódio, você pode ter muita ação, mas tem esse tempo extra para viver com os personagens, respirar com eles e ver quais são seus padrões, ou ver qual é o comportamento deles, ver realmente toda a sua história. E era importante para essa série particularmente, porque esses caras se conhecem há muito tempo. Eles foram para a detenção juvenil juntos", comentou o criador Peter Craig em entrevista a Splash.

A relação entre Manny e Ray é, como já dito, crucial para que "Ladrões de Drogas" se conecte ao coração do público. A autenticidade da relação entre Wagner e Brian, que se conheceram literalmente no camarim do set, pois o brasileiro teve apenas três dias para aceitar o convite e se preparar para o papel, também era crucial. E a julgar pela entrevista que os dois concederam para Splash, o afeto é autêntico.

Wagner não só quer levar Brian a Salvador, para que ele conheça sua cidade natal e sinta a força da herança da cultura africana presente, como também tem planos de dirigir o ator que nasceu e cresceu na pouco conhecida Fayetteville, na Carolina do Norte.

Nome promissor, que já foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante em 2023 por seu belíssimo trabalho ao lado de Jennifer Lawrence em "Passagem", Brian tem a combinação de talento e carisma que Wagner também esbanja. Vê-los juntos na tela já faz valer "Ladrões de Drogas". Vê-los dar corpo a dois personagens que, como em uma ratoeira (não por acaso a Filadélfia é chamada de "armadilha", diz Ray em certa cena, pois de alguns lugares dela não se consegue sair) é entender que certos laços na vida não se escolhem, mas se sobrevive a eles.

"Eles estão basicamente conectados pelo trauma. Nós temos que, realmente, estudar esse afeto, porque o vínculo traumático é difícil. Você ama a pessoa. É realmente uma irmandade, mas também estará para sempre acorrentado ao trauma. Eles têm essa relação codependente clássica", observa Craig.

Brian Tyree Henry (Rya) e Wagner Moura (Manny) em cena de "Ladrões de Drogas", em cartaz na Apple TV+.
Brian Tyree Henry (Rya) e Wagner Moura (Manny) em cena de "Ladrões de Drogas", em cartaz na Apple TV+. Imagem: Divulgação / AppleTV+
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A conexão do trauma entre Ray e Manny se completa com a conexão tóxica e o pertencimento trágico ao submundo da Filadélfia. Eles tentam sair do destino que se impõe e que, ao mesmo tempo, eles traçaram, mas nesta tragédia grega contemporânea (que também tem espaço para leveza e humor, justiça seja feita) a cidade é um personagem sedutor e dominante.

"A maioria dos personagens que interpreto, que são nativos do lugar, eles são nascidos e criados lá. E, muitas vezes foi também onde eles ficaram. Eles nunca saíram. Há algo sobre esses lugares que eles se sentem em casa, mas também se parecem como uma armadilha repentina. Tornam-se sua própria prisão, de certa forma. E isso não é muito diferente do que o que você vê com o Ray, exceto que, em sua cidade natal, a cidade não só se tornou a prisão, mas a cidade também o mandou para a prisão de fato", comentou Tyree Henry para Splash.

"Então você vê ele com esse imigrante que vem justamente para a Filadélfia e que também está deslocado de sua cidade natal e, depois, também é colocado na penitenciária. Isso faz com que nós nos tornemos o lar um do outro, entende?", completou.

Wagner, que há sete anos mora em Los Angeles e está ainda conhecendo os EUA, concorda. "A oportunidade de trabalhar em cidades como Chicago, quando eu fiz "Iluminadas", ou Filadélfia, para mim é uma descoberta. É como se eu olhasse para o lugar com os olhos de uma pessoa que está descobrindo não apenas uma cidade, mas um país em si. E a Filadélfia é uma cidade muito importante, culturalmente e historicamente, nos EUA, para a história dos Estados Unidos, constitui e tem tantas coisas, os direitos, a diversidade", comentou o ator.

"Há tantas coisas que, para mim, são apenas aprendizado, e que fazem parte da alegria deste momento na minha vida. A verdadeira alegria é feita desse tipo de coisa. Como conhecer alguém como Brian, me tornar amigo dele, realmente amá-lo do jeito que eu amo e para estar em um lugar como Filadélfia, conhecer a cidade, ver a estátua de Rocky Balboa e tudo o que eu assistia quando era criança, coisas assim", continuou o ator, já apontado pela imprensa norte-americana como forte candidato ao Emmy (o Oscar da TV americana) em 2025 por sua performance como Manny.

Wagner Moura é o imigrante brasileiro Manny na série "Ladrões de Drogas": "Personagem mais vulnerável e frágil que já fiz"
Wagner Moura é o imigrante brasileiro Manny na série "Ladrões de Drogas": "Personagem mais vulnerável e frágil que já fiz" Imagem: Divulgação/ AppleTV+
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"A Filadélfia é chamada de 'a cidade do amor fraterno'. E, aqui, você tem a história desses dois amigos realmente tentando descobrir como amar um ao outro e, quando o amor não funciona mais, quando o amor não é suficiente. Simples assim. Não passou despercebido por nós o fato de que filmamos na cidade de Filadélfia", conclui Wagner, que, ao ser tão vulnerável e forte, além de fiel a Ray, faz com que o público também se apaixone por seu melhor amigo.

Craig completa: "Eu imaginei isso como sendo algo bonito, mas também muito trágico, porque eles não podem escapar de algo do passado e eles ficam dando voltas. O bem e o mal, certo e errado, ambos feitos de pessoas ruins. Nunca tiveram uma arma apontada para a cabeça. Aprendemos a amar muitas coisas do Ray, mesmo que não seja perfeito, talvez por ele não ser perfeito."

A série estreou na semana passada no Apple TV+.

A relação entre Manny e Ray é, como já dito, crucial para que "Ladrões de Drogas" se conecte ao coração do público. A autenticidade da relação entre Wagner e Brian, que se conheceram literalmente no camarim do set, pois o brasileiro teve apenas três dias para aceitar o convite e se preparar para o papel, também era crucial. E a julgar pela entrevista que os dois concederam ao Splash UOL, o afeto é autêntico. Wagner não só quer levar Bria a Salvador para que ele conheça sua cidade natal e sinta a força da herança da cultura africana presente, como também tem planos de dirigir o ator que nasceu e cresceu na pouco conhecida Fayetteville, na Carolina do Norte.

Nome promissor, que ja foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2023 por seu belíssimo trabalho ao lado de Jennifer Lawrence em "Passagem", Brian tem a combinação de talento e carisma que Wagner também esbanja. Vê-los juntos na tela já faz valer "Ladrões de Drogas". Vê-los dar corpo a dois personagens que, como em uma ratoeira (não por acaso a Filadélfia é chamada de 'armadilha", diz Ray em certa cena, pois de alguns lugares dela não se consegue sair) é entender que certos laços na vida não se escolhem, mas se sobrevive a eles.

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"Eles estão basicamente conectados pelo trauma. Nós temos que realmente estudar esse afeto, porque o vínculo traumático é difícil. Você realmente ama a pessoa. É realmente uma irmandade, mas também estará para sempre acorrentado ao trauma Eles realmente têm essa relação codependente clássica", observa Craig.

A conexão do trauma entre Ray e Manny se completa com a conexão tóxica e o pertencimento trágico ao submundo da Filadélfia. Eles tentam sair do destino que meio que se impõe e meio eles traçaram, mas nesta tragédia grega contemporânea (que também tem espaço para leveza e humor, justiça seja feita) a cidade é um personagem sedutor e dominante.

"A maioria dos personagens que interpreto, que são nativos do lugar, eles são nascidos e criados lá. E, muitas vezes foi também onde eles ficaram. Eles nunca saíram. Há algo sobre esses lugares que eles se sentem em casa, mas também se parecem como uma armadilha repentina. Tornam-se sua própria prisão, de certa forma. E isso não é muito diferente do que o que você vê com o Ray, exceto que, em sua cidade natal, a cidade não só se tornou a prisão, mas a cidade também o mandou para a prisão de fato", comentou Tyree Henry ao Splash UOL. "Então você vê ele junto com esse imigrante que vem justamente para a Filadélfia e que também está deslocado de sua cidade natal, e depois também é colocado na penitenciária. Isso faz com que nós nos tornemos o lar um do outro, entende?", completou.

Wagner, que há sete anos mora em Los Angeles e está ainda conhecendo os EUA, concorda. "A oportunidade de trabalhar em cidades como Chicago, quando eu fiz "Iluminadas", ou Filadélfia, para mim é uma descoberta. É como se eu olhasse para o lugar

com os olhos de uma pessoa que está descobrindo não apenas uma cidade, mas um país em si. E a Filadélfia é uma cidade muito importante, culturalmente e historicamente, nos EUA, para a história dos Estados Unidos, constitui e tem tantas coisas, os direitos, a diversidade", comentou o ator.

"Há tantas coisas que, para mim, são apenas aprendizado, e que fazem parte da alegria deste momento na minha vida. A verdadeira alegria é feita desse tipo de coisa. Como conhecer alguém como Brian, me tornar amigo dele, realmente amá-lo do jeito que eu amo e para estar em um lugar como Filadélfia, conhecer a cidade, ver a estátua de Rocky Balboa e tudo o que eu assistia quando era criança, coisas assim", continuou o ator, já apontado pela imprensa norte-americana como forte candidato ao Emmy (o Oscar da TV americana) em 2025 por sua performance como Manny.

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"A Filadélfia" é chamada de "A Cidade do Amor Fraterno". E aqui você tem a história desses dois amigos realmente tentando descobrir como amar um ao outro e, quando o amor não funciona mais, quando o amor não é suficiente. Certo? Simples assim. Não passou despercebido por nós o fato de que filmamos na cidade de Filadélfia", conclui Wagner, que, ao ser tão vulnerável e forte, além de fiel a Ray, faz com que o público também se apaixone por seu melhor amigo.

Craig completa: "Eu imaginei isso como sendo algo realmente bonito, mas também muito trágico porque eles não podem escapar de algo do passado e eles ficam dando voltas. O bem e o mal, certo e errado, ambos feitos de pessoas ruins. Nunca tiveram uma arma apontada para a cabeça. Aprendemos a amar muitas coisas do Ray, mesmo que não seja perfeito, talvez por ele não ser perfeito."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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