Flavia Guerra

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Wagner Moura sobre 'Ladrões de Drogas': 'O personagem mais frágil que fiz'

Em "Ladrões de Drogas", nova série que estreia na AppleTV+, Wagner Moura é um brasileiro que, ao lado do melhor amigo e parceiro de golpes, Brian Tyree Henry (de "Atlanta" e "Passagem"), usa o distintivo da DEA (Drug Enforcement Administration), órgão responsável por reprimir e controlar o tráfico de drogas nos EUA, para roubar dinheiro e drogas de traficantes novatos ou de baixo escalão na Filadélfia.

Disfarçados, eles invadem as casas e tocam o terror, mas fogem em seguida e jamais, claro, contatam a polícia. Entre planos confusos, tensão e um clima de ação entre amigos (ou melhor, irmãos), tudo dá certo até que eles querem dar um passo maior —Ray, personagem de Henry, deduz que sua mãe adotiva, que o criou depois que o pai foi preso, precisa de dinheiro para tratar a saúde— e cruzam o caminho de uma das maiores organizações criminosas da costa leste do país.

Wagner, que vive Manny Carvalho, está muito longe de personagens que fizeram dele um ícone como o durão Capitão Nascimento, de "Tropa de Elite", ou Pablo Escobar, de "Narcos". Em "Ladrões de Drogas", ele é um jovem imigrante que conheceu Ray Driscoll (Tyree Henry) em um reformatório na adolescência. É ao lado do amigo-irmão que ele luta, mesmo por vias tortas, para sair do crime e levar uma vida normal com a noiva Sherry (a americana de origem dominicana Liz Caribel Sierra).

Brian Tyree Henry e Wagner Moura estrelam 'Ladrões de Drogas', nova série do Apple TV+
Brian Tyree Henry e Wagner Moura estrelam 'Ladrões de Drogas', nova série do Apple TV+ Imagem: Divulgação/Apple TV+

"Talvez seja o personagem mais frágil que já fiz, mais vulnerável. Mais aberto à emoção escancarada que eu já fiz", declarou Wagner em entrevista para Splash. "Isso dá um certo humor à série, pois os dois vivem situações quase de casal", completou o ator. "São dois caras com dinâmicas muito diferentes. O Ray é o alfa e o Manny é aquele mais frágil, que também é uma questão na relação deles", acrescenta Wagner, que atualmente mora em Los Angeles e entrou literalmente na véspera das filmagens para a equipe, pois o ator que havia sido escalado para o papel saiu do projeto pouco antes do início das filmagens.

Além do roteiro nada óbvio de Peter Craig (de "Top Gun: Maverick", "Gladiador 2" e "Jogos Vorazes"), a produção de Ridley Scott, que dirige também o primeiro episódio, foi um fator decisivo para que o brasileiro topasse o desafio. E que desafio! Em uma sexta, Wagner fez uma reunião online com Scott e Craig, viajou para a Filadélfia no sábado e, na segunda, já estava no set filmando. Ter pouquíssimo tempo para se preparar para o papel fugiu ao habitual do ator brasileiro, que costuma mergulhar fundo nos projetos. Para "Narcos", por exemplo, chegou a se mudar para a Colômbia com a família.

Ao mesmo tempo, a vulnerabilidade que a falta de preparação poderia trazer ao ator serviu como uma fragilidade a serviço do próprio Manny. Afinal, como outros que Wagner já viveu, Manny é um personagem trágico, perturbado, porém frágil. Ele vê em Ray a única família que tem, mas quer construir uma nova com Sherry. Para isso, terá de abandonar o amigo e recomeçar. No caminho, a dependência em drogas e um passado de desamparo (sua irmã, que ele cita rapidamente, está no Brasil e deduzimos que não há outra rede de apoio que o sustente caso nada mais dê certo). Nesse bromance ora engraçado ora dramático, Ray e Manny são dois seres encurralados, correndo por um labirinto em que há uma armadilha em cada canto.

Enquanto Ray quer apenas sobreviver e se livrar da gangue de motoqueiros, de um cartel mexicano e da própria polícia, Manny quer sobreviver para limpar sua consciência e embarca em uma espiral de abuso de drogas, culpa e tentativa de recomeçar, ainda que de forma muito desajeitada.

Ao mesmo tempo em que Wagner é um personagem latino representando mais uma vez a parcela da população que é excluída e considerada inimiga, principalmente em tempos sombrios como os atuais em que imigrantes deportados são "devolvidos" acorrentados para seus países de origem, Manny não é um estereótipo ambulante. Ele é sensível, quer fazer as contas com seu passado, seguir em frente e pagar o preço por suas ações.

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É no intervalo entre uma cena de ação e uma cena em que Manny titubeia diante da violência que o persegue, e que ele também é responsável, que mora a grande qualidade de "Ladrões de Drogas". Meticulosamente escrita por Craig, ainda que seja repleta de ação, é no ajuste fino da interação entre os atores, principalmente Wagner e Tyree Henry, que mora a grande questão da trama.

"O que eu gosto mais dessa série é que Manny e Ray são aparentemente, você vê um preto e um latino envolvidos em um ciclo de violência de tráfico de drogas, você fala "é o clichê social e estético mais possível". Mas quando você vai conhecendo os personagens, e isso foi algo que adorei e me fez dizer "quero fazer isso", vê que eles não querem participar daquilo. Eles passam o tempo inteiro tentando sair, escapar daquele ciclo, sobretudo o Manny, que é o mais frágil e vulnerável dos dois", explica o brasileiro.

"Eles não são bons naquilo, eles não querem fazer aquilo. Mas se veem envolvidos em um ciclo inescapável, sobretudo o Manny, para quem quebrar esse ciclo de violência, de certa forma, significa quebrar e romper a relação dele com o Ray, que é a única família que ele tem até a chegada de Sherry", completou Wagner.

Por sua performance que modula fragilidade e força, desespero e empatia, Wagner já vem sendo apontado como forte candidato ao Emmy 2025 (o Oscar da TV dos EUA). É de fato nas sutilezas, em meio a tantos tiros, ingredientes típicos dos thrillers policiais e violência, que "Ladrões de Drogas" tem seus melhores momentos. Sem dúvida, dois atores tão complexos como Wagner Moura e Tyree Henry, que oscilam com naturalidade entre a ação e a emoção, são grandes responsáveis por isso.

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