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Elvis: "Era um homem profundamente espiritualizado", diz Austin Butler
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Se há uma palavra que, entre tantas, define o cinema de Baz Luhrmann é energia. Exagerado, extravagante, purpurinado, barroco. O diretor australiano é tudo isso e mais, seja para alegria dos fãs mais apaixonados ou para crítica dos que nem sempre embarcam nos delírios de um cineasta que, mais do que tudo, faz filmes para serem vistos, e sentidos, em uma sala escura, com som perfeito, em "comunhão com estranhos".
E se há uma palavra unânime quando se pensa em Elvis Presley, esta palavra também é energia. Elvis era e é pura energia, inexplicável mas impossível de ficar indiferente, capaz de, quase 45 anos após sua morte, levar não os fãs saudosos, mas também os mais jovens, aos cinemas para descobrir quem é o chamado "Rei do Rock".
E ainda que o filme narre a trajetória do músico pelo olhar do Coronel Parker (Tom Hanks), empresário e responsável pelo cantor chegar ao estrelato, que funcionou quase como uma figura paterna para ele, mas também o prendeu em uma gaiola de ouro, é, obviamente, Butler/Elvis quem nossos olhos buscam a todo tempo. Da infância humilde, mas rica em referências da cultura negra, da música gospel, do jazz e do blues, decisivos para sua formação, ao estrelato e decadência, ele sempre foi pura energia.
Dito isso, nenhum outro diretor seria mais perfeito para assinar não mais uma da cinebiografia do cantor que Luhrmann, mas A Cinebiografia. Desde "Vem Dançar Comigo" (seu primeiro e já dançante longa de 1992), ritmo, energia e extravagância dão o tom à sua cinematografia em que se ressaltam ainda "Romeo+Julieta" (1996), "Moulin Rouge" (2001), a "trilogia da cortina vermelha". Mas todo o estilo e cuidado de Luhrmann, diretor meticuloso que passa anos pesquisando, escrevendo e pré-produzindo seus longas, não seriam nada se ele não encontrasse O Elvis.
Candidatos e testes não faltaram. Especulações também. Mas, com uma boa indicação de Denzel Washington (que havia atuado ao lado do jovem astro na peça "The Iceman Cometh", de Eugene O'Neill), sorte e um "vídeo teste" que derreteu o coração do cineasta, o Elvis perfeito para o diretor perfeito surgiu.
Austin Butler surgiu cantando "Unchained Melody" em uma performance quase improvisada, gravada despretensiosamente em vídeo, mas com a carga de que Butler cantava para a mãe que, assim como Elvis, ele perdeu aos 23 anos. A conexão do ator com o cantor, desde então, era mais que performar. Não há um que, após assistir a "Elvis", não admita que o ator, mais que "interpretar, imitar", mais que viver, incorpora o cantor. Butler, seja no palco em cena seja nas (poucas, é fato) cenas intimistas do filme, é também pura energia, ritmo e conexão (quase) espiritual com Elvis.
"Eu sempre me sentia aterrorizado antes de subir no palco. Mas assim que eu subia, isso rapidamente desaparecia. E era tão divertido. Era tanta alegria. Uma vez que eu podia interagir com o público, porque a gente trabalhou em cada uma das performances por horas incontáveis. Algumas por mais de um ano e meio antes de filmar. Quando eu cheguei no set, dava pra sentir a pressão de um ano e meio de trabalho e 'espero que tudo isso não apenas desapareça agora'. Mas uma vez que a gente chega lá, a gente sente e escuta a música. E isso eleva sua alma. Eu sou tão abençoado", respondeu Butler ao UOL em entrevista durante o Festival de Cannes, quando questionado sobre o fato de que, nas sequências dos lendários shows em Las Vegas, ao mesmo tempo em que parecia exausto ao dar tudo de si no palco, também era nítido que se divertia como nunca.
A esta altura, muito já se falou, entrevistas foram realizadas aos montes desde que o filme teve sua première mundial no Festival de Cannes em maio e críticas em todo mundo já adiantam que "se pelo menos o ator californiano não levar uma indicação ao Oscar, não há justiça no mundo do cinema."
A "encarnação" de Elvis já rendeu elogios de Priscilla Presley e Lisa Marie Presley a Tom Hanks, passando por todos os críticos, profissionais do cinema e, enfim, todo mundo. Unanimidades são raras, mas até o momento tem provado ser impossível não ceder à, mais uma vez ela, energia quase espiritual que permeia a atuação de Butler.
Relação Espiritual com a Música
Esta relação espiritual de Butler com Elvis passa também pelo entendimento que era também espiritual, ou transcendente, a relação do músico com a música. Luhrmann compreendeu isso muito bem e esta é uma chave crucial de entendimento no roteiro para se entender a relação de Elvis com a música, seu dom, seu estilo, seus movimentos, enfim, tudo.
"Ele era um homem profundamente espiritualizado. Ele era uma pessoa profunda, que estava constantemente em busca da verdade. Eu realmente fico emocionado quando vejo as cenas do filme em que a gente o vê como um menino indo a uma tenda gospel. E esses momentos de êxtase quando ele experimenta a música. Eu senti isso quando fomos para Nashville e a gente gravou os cantores gospel", contou Butler ao Splash UOL
"Eu tive muita sorte em estar lá quando a gente estava fazendo as gravações com 30 dos mais incríveis cantores gospel. E quando eles gravaram a música que está no filme, naquela cena, eu me arrepiei inteiro e senti, você sente a alma disso. E tudo começa a fazer sentido, como você pode se perder na música daquela forma", completou o ator, que passou dois anos "perdido" no universo e na alma de Elvis se preparando (incluindo durante o primeiro ano da Pandemia, trancado em sua casa, longe da família) para viver o papel.
Para Luhrmann, é, mais do que tudo, ritmo e espiritualidade. "Michael Jackson ensaiava seus passos, Fred Astaire ensaiava seus passos. Elvis não parava na frente do espelho e criava uma coreografia. Ele apenas meio que sentia isso. Ele realmente sentia e eu acho que tem algo a ver com espiritualidade. Acho que ele entrava no espírito. E tipo tinha alguns movimentos, gestos, mas ele deixava a música, ele se tornava a música, o que é algo que tem a ver com o gospel e a experiência pentecostal", afirmou ao Splash UOL.
Sobre a responsabilidade de viver, mais que o mito, mas o "homem comum" que também foi Elvis e sobre sua relação de amizade com o cantor, Butler também falou ao Splash UOL. Confira:
Há grande responsabilidade em viver um mito, mas, para mim, é ainda maior a responsabilidade de viver um ser humano, um cara comum. Como você lidou com isso? O que foi mais difícil para você?
Austin Butler: Para mim, acho que as duas coisas caminham juntas. São dois lados de uma mesma moeda. A complexidade de qualquer ser humano é algo realmente difícil de viver. Até mesmo apenas olhando para mim mesmo. É por isso que eu faço terapia, sabe. A gente tá tentando entender isso. E então olhando para outra pessoa. E acima de tudo isso para alguém que viveu uma vida extraordinária. E que agora se tornou um ídolo. E é tão amado ou incompreendido. Eu senti uma grande responsabilidade por conta de tudo isso. Mas como você diz, é sua sua personalidade, é com seu espírito que eu senti o mais responsável. Então, encontrar a verdade da sua alma era o principal.
Você disse que você sente que Elvis é a pessoa que você não conhece que você mais conhece e que mais ama. Como é seu relacionamento com ele hoje? Você se comunicou com ele e se comunica ainda hoje?
Sim! Como eu já disse, eu sinto que é a mesma energia que eu tenho com um melhor amigo. Eu passei dois anos fazendo nada além de obcecar sobre suas vontades, suas necessidades, seus desejos, seus medos, seus sonhos. A gente se torna incrivelmente empático em relação a uma pessoa quando tenta ver sua vida de todos os ângulos. Então, no fim das contas, eu tenho muito amor por ele. Tenho muito respeito e admiração.
Este é o sentimento que fica.
Sim! Quando a gente estava filmando, e tudo que eu ouvia eram as músicas do Elvis ou as em que ele se inspirava, as pessoas me diziam que, depois de terminar de filmar, eu nunca mais iria querer ouvir Elvis. E isso não poderia ser menos verdadeiro. Agora, mais do que nunca. Eu hoje ouvi uma música do Elvis e isso iluminou meu dia. Sinto que é como ligar para um amigo. E acho que isso vai me acompanhar para sempre.
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