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Demorou para o SBT entender que Leo Lins foi longe com discurso violento

Léo Lins  - Reprodução / Internet
Léo Lins Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

05/07/2022 12h49

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Desde o último final de semana, as redes sociais fervilharam em choque com uma piada feita por Leo Lins durante um show. Nela, o humorista debocha de uma criança com hidrocefalia e ainda a compara com a solução para a seca no Ceará. A declaração gerou nota de repúdio da AACD, entidade responsável pelo Teleton, evento beneficente do SBT. Na tarde de segunda-feira (4), a emissora decidiu demitir o comediante, que integrava a equipe do "The Noite".

A notícia pegou a muita gente de surpresa. Não que tenha sido considerada injustiça, necessariamente, mas pelo fato de que essa não foi a primeira vez que Leo Lins teve piadas extremamente ofensivas questionadas. Em nenhuma das ocasiões anteriores o canal do qual ele fazia parte se manifestou. O humorista já fez piadas com crianças autistas, já foi condenado por atacar Thais Carla com "brincadeiras" gordofóbicas, já zombou de um casal gordo cujo um dos integrantes era trans. Ao saber que a mãe de Isabella Nardoni, assassinada ao ser jogada pela janela, foi mãe novamente, declarou: "Espero que ela more no térreo". Leo fez ainda piadas com o acidente de avião da Chapecoense e com o tsunami do Japão.

Chama a atenção que só agora o SBT tenha acordado para o tanto de conteúdo ofensivo que vem sendo propagado por Leo Lins em seus shows. Precisou que um de seus parceiros fosse atacado para que houvesse alguma manifestação ou protesto. Fosse outro o caso, talvez o desfecho fosse diferente. Ninguém nega seu talento para o humor, mas sua preferência por investir em assuntos que causem o choque de maneira gratuita e ofensiva é completamente desnecessário. Passa muito do ponto. Não dá para dizer que não se esperaria isso dele. Pelo contrário, quem o contrata tem de entender que de alguma maneira se alinha com seu tipo de humor.

Ficou muito comum, nos últimos anos, no Brasil, falar-se em "mimimi" ou dizer que hoje em dia não se pode falar mais nada porque "tudo é racismo ou homofobia", quase como se houvesse uma censura explícita. Não há. Pode-se falar de tudo, rir de tudo, desde que com o mínimo de respeito. Ainda que tais assuntos fossem proibidos, haveria uma gama enorme de temas prontos para serem transformados em piada. Mas não o são. Racismo e LGBTfobia são crimes. Está na lei. Num país que usa a infância como escudo para tantos discursos, é de se admirar que exista quem não se revolte com uma piada envolvendo uma criança doente.

Ao contrário do que muita gente reacionária pensa, a profissão de humorista não está sendo criminalizada. Mas respeito é bom e todo mundo gosta. Que bom que o SBT acordou enquanto era tempo. A Leo Lins resta saber pedir desculpa e repensar seus rumos.