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Com festas clandestinas em fase crítica, cantores e DJs têm sangue nas mãos

Há festas clandestinas marcadas durante todo o mês em São Paulo e no Rio - Pim Mythen/Unsplash
Há festas clandestinas marcadas durante todo o mês em São Paulo e no Rio Imagem: Pim Mythen/Unsplash

Colunista do UOL

04/03/2021 19h24

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Com uma semana de recordes de mortes diárias por causa da covid-19, estados como São Paulo e Rio de Janeiro declararam fase vermelha e fechamento de estabelecimentos, com toque de recolher. As medidas, necessárias, visam combater o avanço do coronavírus em um país com escassez de vacina. Era de se esperar, portanto, que o respeito às medidas sanitárias e valorização à vida fossem pontos pacíficos entre promotores de festas e shows. Não são. Somente neste final de semana, o primeiro do lockdown, há três grandes baladas clandestinas agendadas.

Em São Paulo, uma delas se chama Indústria e já é velha conhecida de furadores de quarentena. Como de costume, o endereço só é divulgado horas antes do evento, marcado para este sábado (6), que promete ser open bar "com uma produção de tirar fôlego". Em tempos de problemas respiratórios causados por um vírus muitas vezes mortal, a propaganda não poderia ser pior: "Permita-se ter o que você merece".

Os ingressos custam entre R$ 100 e R$ 200. O line up conta com pelo menos oito DJs e a coluna dará nomes aos bois: Amilcar Ramos, André Martin, Fran Albuquerque, Lapetina, Marcinha Eggers, Michel Pettenucci, Rafael Starcevic & Liu Rosa e Thay Pires. A coluna procurou alguns deles pelas redes sociais e não obteve resposta - ou ganhou bloqueio.

A Indústria virou um negócio tão rentável durante a pandemia que seus sócios romperam e uma outra festa se originou. Depois de se afastar de Paulo Galdino, que ficou com a balada original, Markus Batista criou a Fabrika, também marcada para este sábado (6), às 22h. A festa promete "resgatar a vibe" e "a essência que jamais deveria ser perdida". Nas redes sociais, há um vídeo com imagens de um clube lotado e cheio de pessoas sem máscara para anunciar o evento. Os ingressos saem pelo mesmo valor.

E não são apenas festas de música eletrônica, no Bar do Juiz, na Cidade Patriarca, em São Paulo, houve um show de MC Kevin na última quarta-feira (3). Nesta sexta (5), haverá um baile de pagofunk. No sábado, às 22h, uma festa chamada Rei do Baile, com vários MCs.

Há ainda uma grande festa marcada para o dia 13, chamada Track Fire, produzida por Rafael Correia, com pelo menos trinta DJs - sim, trinta, você não leu errado -, muitos dos quais com presença garantida nas festas citadas anteriormente, caso de Thay Pires, Lapetina e Rafael Starcevic & Liu Rosa. No flyer há até mesmo o número da chave pix para comprar ingressos.

No Rio, neste domingo (7), haverá o Baile Fritadeira, das 10h às 22h, com pelo menos dez DJs, entre eles Myllena Vox, Fábio Leão, Pierre Neves e Alex Lisboa. Detalhe: haverá um after com festa na piscina. Nas próximas três semanas, acontecerão ainda festas chamadas Touch, Rio Brazilian Party e The Summer Party.

Artistas famosos pela presença na televisão também não têm respeitado a pandemia. Depois de ser preso por show em uma escola de samba, Belo tem marcado para o dia 20, em São Paulo, uma apresentação para 1.520 pessoas. No ano ano novo, em São Miguel do Gostoso (RN), Thiaguinho e Pedro Sampaio fizeram shows para multidões e não foram questionados. O mesmo ocorreu com uma série de outros músicos.

Ainda que o discurso geral seja de que tudo ocorre "cumprindo os protocolos", é preciso dizer a verdade: o protocolo é não ter aglomerações. Ao não se preocupar em ser a causa do ajuntamento de multidões, cantores, músicos, DJs e promoters viram uma provável causa de propagação de covid. Num país que beira as 1.900 mortes diárias, isso não significa apenas que são irresponsáveis. Significa que eles têm sangue nas mãos.

Das prefeituras e órgãos competentes, com os nomes dos organizadores e das atrações sendo amplamente divulgados, o mínimo que se espera é que ações sejam tomadas.