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'The Voice+' emociona, mas tem dois erros conceituais: júri e timing

O time de técnicos do "The Voice+": Ludmilla, Daniel, Claudia Leitte e Mumuzinho  - Reprodução / Internet
O time de técnicos do "The Voice+": Ludmilla, Daniel, Claudia Leitte e Mumuzinho Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

17/01/2021 15h50

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Resumo da notícia

  • Reality show trouxe personagens que falam ao coração do espectador com ótimo repertório
  • Faria mais sentido, no entanto, um time de jurados com maior maturidade e experiência
  • Famoso nos anos 70, Dudu França é um dos candidatos que tentaram a chance no programa

A Globo estreou neste domingo (17) o terceiro desdobramento da franquia "The Voice". Agora, além de adultos e crianças, abriu-se espaço para a melhor idade, com pessoas acima dos 60 anos. Com produção caprichada, já na estreia o reality exibiu até depoimentos internacionais, caso de Dionne Warwick, mas é nas histórias de vida e superação que ele se destaca.

Há calouros que tentaram ser artistas em plena ditadura, que se aventuraram nos programas de Silvio Santos e Flávio Cavalcanti (1923-1986) nos anos 70 e 80 - caso de Áurea Catarina - ou de Chacrinha (1917-1988), que achavam que a carreira estava perto da aposentadoria e, claro, há avós atentamente acompanhados de modo virtual pelos netos. Já Zé Alexandre chegou a vencer o festival da TV Tupi, em 1979. A grande surpresa, no entanto, ficou por conta da presença de Dudu França, cantor responsável pelo hit "Grilo na Cuca", nos anos 70. E não há coração que resista a vários deles.

Como boa música, o "The Voice+" apela ao coração e emociona. Há, no entanto, dois erros conceituais no lançamento da atração.

1) O time de jurados - É no mínimo curioso que um programa que procura celebrar a maturidade escale para avaliar os candidatos um grupo composto por artistas bem mais jovens que eles. Por mais que Ludmilla, Claudia Leitte, Mumuzinho e Daniel sejam inegavelmente talentosos e carismáticos, faria mais sentido ter cantores da melhor idade compartilhando experiências e repertórios com os calouros. Nomes para isso existem: Alcione, Elza Soares, Gal Costa, Caetano Veloso, Fafá de Belém, Agnaldo Rayol, Simone, Fábio Jr., Sérgio Reis. Todos poderiam render bons jurados e, certamente, não perguntariam a Dudu França, muito popular na época da discoteca, quem é ele. Esse momento constrangedor poderia ter sido evitado. Dito isso, o time atual pode também acabar por gerar um clash de gerações interessante e, claro, rende maior engajamento nas redes sociais.

2) O timing - Numa época em que a Globo afastou de seus estúdios atores com mais de 55 anos, chama atenção que permita que calouros com mais de 60 subam ao palco do programa. Com o aumento de casos de coronavírus no país, talvez esta não tenha sido a melhor época para estrear o reality. Sabe-se que os cuidados e protocolos adotados pela emissora são muito rígidos - e a atração pertence ao núcleo de Boninho, muito bem sucedido em preservar os integrantes do "BBB" durante a pandemia -, mas todas as produções de TV estão sujeitas a imprevistos.

Dito isso, não há como negar: assistir a histórias emocionantes de pessoas que batalham pelos próprios sonhos, sem pensar na idade, faz bem. O "The Voice +" é bem realizado, com ótimo repertório e fala aos bons sentimentos. Um bálsamo em tempos difíceis.

*Um agradecimento especial ao perfil no @Bamba68, no Twitter, que com sua memória relembrou o passado de alguns dos participantes do programa para este texto.