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Três erros e três acertos de 'Desalma', nova série de terror da Globo

Cassia Kis interpreta a bruxa Haia em "Desalma" - Reprodução/Globoplay
Cassia Kis interpreta a bruxa Haia em "Desalma" Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista do UOL

27/10/2020 07h00

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Resumo da notícia

  • Série em dez episódios tem filmes como "Midsommar" e "A Bruxa" como claras referências
  • Cássia Kis e Cláudia Abreu roubam todas as cenas da produção, que tem elenco jovem irregular
  • Globo já deu sinal verde para a autora, Ana Paula Maia, desenvolver a segunda temporada

Lançamento mais recente do GloboPlay, "Desalma" estreou cercada de expectativa. Depois de receber elogios durante uma exibição no Festival de Berlim e ficar quase um ano na gaveta, a série entrou no ar no streaming da Globo apostando em um gênero ainda pouco explorado no Brasil: o terror - ou suspense sobrenatural, como preferirem.

Ao longo de dez episódios, a produção acompanha fenômenos que assombram uma criança e sua família. As referências a filmes do segmento são claras: estão presentes longas como "Midsommar", "A Bruxa", "A Profecia" e até mesmo "Poltergeist". Apesar de ter nomes conhecidos no elenco, a série é formada em sua maior parte por caras novas ou ainda pouco exploradas na TV - caso dos ótimos Bruce Gomlesvki e Ismael Caneppele.

Com segunda temporada já aprovada pela emissora, "Desalma" conta ainda com figurações de luxo como os excelentes Alexandra Richter, André Frateschi e Sabrina Greve, que certamente desempenharão funções maiores na leva de episódios, prevista para ser rodada no ano que vem. Apesar da boa aposta, a série tem problemas.

A coluna lista a seguir três acertos e três erros da produção.

ACERTOS

Cássia Kis e Cláudia Abreu - Seria impossível conceber essa série sem uma antagonista tão forte e misteriosa quanto Cássia Kis, que coloca a bruxa Haia em sua galeria de grandes personagens com maestria. Cabe a ela, inclusive, por diversas vezes, explicar ao espectador o fenômeno da transmigração, que motiva toda a trama. Da mesma maneira, Cláudia Abreu mergulha fundo na emoção para compor uma mulher preocupada com o filho assombrado. A cena em que as duas atrizes finalmente se encontram, aliás, é de uma potência gigantesca.

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Cláudia Abreu como Ignes, em "Desalma"
Imagem: Divulgação/Globo

Aspectos técnicos: direção de arte e fotografia - É raro de se ver no Brasil seriados com direção de arte tão caprichada quanto "Desalma". A ambientação em duas épocas da misteriosa cidade de Brígida, que parece parada no tempo ainda que ele tenha avançado por 30 anos, é impecável. A festa de Ivana Kupala de 1988, a morte dos porcos e os rituais de bruxaria são um primor. Da mesma maneira, a fotografia, que mergulha destemidamente na floresta soturna e tira boa parte do colorido da vida dos personagens, contribui - e muito - para o clima da produção. Grande acerto.

A estreia de uma nova autora - Celebrada na literatura por seus romances, Ana Paula Maia estreia com o pé direito na teledramaturgia. Ainda que em alguns poucos momentos seu texto pareça menos formal e mais duro e explicativo do que deveria, a autora criou um mundo perturbador e estimulante. À medida em que os capítulos avançam, ela parece cada vez mais à vontade com seus personagens e consegue o melhor: a atenção e expectativa do espectador por uma segunda temporada. Além disso, merece todo o crédito do mundo por ousar levar para a Globo um gênero tão pouco explorado quanto o terror ou suspense sobrenatural.

ERROS

Elenco jovem - Com tamanho investimento em novos talentos, a Globo deixou passar em "Desalma" a chance de revelar bons nomes adolescentes. O time jovem de atores - tanto de 1988 quanto de 2018 na história - deixa bastante a desejar. Por vezes parece que estamos assistindo a um começo de temporada de "Malhação". Há, no entanto, exceções, caso de Anna Melo, intérprete da carismática Halyna, e Nicolas Vargas, que dá vida ao problemático Alexey. Também não ajuda a direção de atores, que tenta o tempo inteiro deixar os personagens de todos os núcleos frios e desprovidos de fortes emoções.

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Maria Ribeiro como Giovana em "Desalma"
Imagem: Divulgação/Globo

Falta de diversidade - Embora nos apresente o rico folclore da Ucrânia, "Desalma" chama a atenção por não ter um único ator negro em seu elenco. É de se imaginar que uma cidade do interior do Sul do país de fato não seja tão miscigenada por causa imigração europeia, mas há que se reconhecer que o grupo de atores é muito pouco diverso. Fosse negra a personagem de Maria Ribeiro (que está muito bem no papel, por sinal) - uma forasteira -, por exemplo, a história ganharia nova camada e mais subtexto.

A demora para desenrolar a história - Os primeiros capítulos de "Desalma" apresentam estranhos fenômenos que poderiam facilmente passar despercebidos na vida real. Ainda que o clima frio e misterioso se estabeleça, pouco da história é revelado em seu início. Parecem pistas jogadas ao vento. Se a trama fosse um pouco mais objetiva, talvez os espectadores se engajassem mais rápido. Não à toa, os cinco episódios finais apelam mais à curiosidade graças às questões que levanta.