Chico Barney

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Opinião

'Quarteto Fantástico': Trailer revela problemas que podem afundar a Marvel

Sou um dos maiores entusiastas do "Quarteto Fantástico" no Brasil. Não posso garantir que eu esteja entre os 10, 100 ou 1.000 mais ardorosos fãs do gibi neste país, mas, definitivamente, me sinto entre eles.

Vejo com preocupação mais uma iniciativa cinematográfica para adaptar o magnum opus dos quadrinhos de super-heróis norte-americanos. Nenhuma obra capturou com tanta maestria a paranoia da Guerra Fria junto com o estilo de vida boomer e o encanto com o mundo misterioso que ainda existia naqueles loucos anos 1960.

O projeto deu certo graças à alquimia entre o desenhista e gênio criativo Jack Kirby e o apelo pop do redator e editor Stan Lee. Foi a energia cinética daqueles gibis que deu origem a todo o universo Marvel que conhecemos tão bem hoje em dia —junto com seus tentáculos por tudo que conhecemos como cultura pop hoje em dia.

Foram eles os primeiros heróis populares que não eram titãs infalíveis e unidimensionais como o Superman e o Batman daquela época. Já surgiram como uma família com suas dinâmicas particulares, e nenhum participante era a idealização de algo perfeito.

A fase produzida por Kirby e Lee durou pouco mais de 100 edições, desde o comecinho dos anos 1960 até a década seguinte. Foi um marco cultural com ramificações que permanecerão para todo o sempre, inspirando até a epopeia de "Star Wars". Mas tergiverso.

Gostei de alguns aspectos do trailer. O elenco parece ter sido inteligentemente escalado. Reed, Sue, Johnny e Ben foram capazes de imprimir carisma nos poucos segundos de tela a que tiveram direito. Até o controverso robozinho HERBIE surgiu com algum brilho.

E os personagens estão muito bem caracterizados! Além dos uniformes conceitualmente corretos, ainda vislumbramos a versão mais factível e encantadora do Coisa desde aquele filme requenguela e jamais lançado oficialmente do Roger Corman de 1994. E o Galactus aparece rapidinho, finalmente do jeito que sempre mereceu, aparentemente fiel também aos desígnios e designs de Kirby.

Mas não gostei nada do resto do visual da produção. Pelo menos até aqui, os cenários são inspirados no que existe de mais genérico e sem alma do retrofuturismo clássico do audiovisual. É um desperdício de orçamento fazer um filme do "Quarteto Fantástico" que parece um live action dos Jetsons —quando a obra original foi imaginada justamente pelo prolífico gênio Jack Kirby.

Também não agradou a maneira como resolveram demonstrar que o Coisa é humano e afetuoso, apesar de parecer um monstrengo: o maior trecho é dele cozinhando, num aceno à participação do ator na série "O Urso". Ficou excessivamente derivativo e diminui a importância de algo tão relevante quanto uma adaptação do Quarteto pela própria Marvel.

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Podem parecer pormenores pequenos e irrelevantes da mente ansiosa de um adulto que se importa demais com histórias em quadrinhos criadas há mais de 60 anos para crianças. E talvez seja isso mesmo. Mas paciência tem limite: é a quarta vez que tentam adaptar esses quadrinhos para a tela grande. Se fracassar novamente, não só esses personagens cairão em um limbo eterno, como a própria Marvel terá dificuldades para superar a crise que assola Hollywood atualmente. Tudo precisa ser ótimo.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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