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Chico Barney

Fui alvo de ofensas por criticar filme do Scooby-Doo: eis a minha história

Colunista é cancelado por tecer críticas a filme do Scooby-Doo  - Reprodução / Internet
Colunista é cancelado por tecer críticas a filme do Scooby-Doo Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

05/10/2020 22h54

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Querido diário, hoje as coisas saíram completamente do controle. Tudo começou no final de semana, comigo um tanto entediado, como normalmente acontece nesses domingos de pandemia. Decidi acessar o Netflix em busca de algum entretenimento raso e esquecível.

Com muitas opções nessa categoria, fiquei passeando pelo menu, um hobby que pratico com mais afinco do que o consumo de qualquer produto audiovisual. Navegar é preciso, viver não é preciso.

Mas tergiverso. Fato é que me surpreendi quando encontrei Scooby-Doo 2: Monstros à Solta no topo das produções mais vistas no período na plataforma de streaming.

Fiz um tuíte bobo, pedestre, a respeito da situação. Longe de qualquer teor provocativo ou subversivo, apenas um humilde desabafo. Tirei uma foto da TV e deixei o verbo delirar: "O filme mais visto no Brasil hoje. Esse país tem alguma chance? Não tem."

Depois de tudo o que aconteceu graças a essa mensagem, agora me parece importante esclarecer meu intuito ao apertar o botão azul das frustrações passageiras. Sou um grande entusiasta dos desenhos animados do Scooby-Doo. Considero as versões em live action um enorme desrespeito.

Mas meu horror veio simplesmente por ser um filme razoavelmente antigo, de 2004, liderando nas mentes e corações do público brasileiro. Aquele cachorro em 3D que ficou parecendo o Geléia dos Caça-Fantasmas. O Salsicha interpretado por um ator que lembra muito o Theo Becker. E eu nem vou começar a falar aqui da trama, até por jamais ter assistido a película.

O que ocorreu a seguir me deixou transtornado. Fui alvo das mais diversas acusações, além de muitas mensagens de ódio. Tanto meu santo nome quanto o próprio Scooby-Doo foram parar nos Trending Topics na noite de domingo —e por lá ficaram durante quase toda a segunda-feira.

Famosos da internet fizeram questão de comentar o caso. Aguinaldo Silva citou o imbróglio. Saí na Rainha Matos e outros perfis de Instagram dedicados à fofoca.

Felipe Neto usou a história para discorrer sobre o incômodo que adultos sentem ao ver conteúdo infantil sendo recomendado na Netflix. Logo eu, ávido leitor de gibis do Incrível Hulk e maratonista de Naruto quando ninguém está olhando.

Graças a outros youtubers, fui obrigado a ler, enquanto esperava começar o episódio de hoje de A Fazenda, que sou um praticante do elitismo cultural.

Não deixa de ser fascinante a aleatoriedade com que os grandes assuntos do momento são escolhidos pela desinteligência coletiva da internet. Já passei por isso algumas vezes, como em uma intriga com os surfistas de Criciúma ou aquela vez em que os fãs da Thelma do BBB 20 ficaram ofendidos com a possibilidade de eu participar de uma live com o Cebolinha da Turma da Mônica.

Sem que ninguém esteja preparado, as maiores bobagens vão ganhando uma amplitude que transforma tudo em uma pesarosa discussão desprovida de qualquer nexo.

E tenho certeza que existe alguma lição muito importante nisso tudo. Por enquanto, penso em começar colocando uma lente de contato dental para sair com o sorriso mais bonito na foto do próximo cancelamento.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.