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Reality com Boca Rosa mostra a vida selvagem dos jovens antes da pandemia

Deus Está Morto - Reality Soltos em Floripa (Divulgação)
Deus Está Morto Imagem: Reality Soltos em Floripa (Divulgação)

Colunista do UOL

20/03/2020 09h50

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Como era a vida dos jovens brasileiros antes da reclusão provocada pela pandemia? É o que parece querer responder Soltos em Floripa, novo reality da Amazon Prime que estreia nesta sexta-feira, dia 20 de março, na plataforma de streaming.

Sexo sem compromisso seguido por crises de ciúmes, intensas maratonas etílicas e a ausência absoluta de sentido: eis a tônica da série, pelo menos em seu primeiro episódio.

Enquanto assistia aos participantes entrando na belíssima casa que serve de cenário para as empreitadas pós-amorosas, me peguei pensando em filosofia. Trata-se de uma visão bastante niilista da existência.

Durante os 10 minutos iniciais, tudo o que ouvimos são grunhidos e urros, numa celebração para a qual não fomos convidados. Os rapazes são todos muito parecidos. As mulheres são todas muito diferentes. Nunca chegam a ser formalmente apresentados para a audiência. Não sabemos quem são, o que pensam ou o que faziam antes de entrar naquele lugar.

Carregam malas e soltam gritos. Se abraçam, pois tudo foi gravado meses atrás, quando havia segurança. Contemplam a beleza dos interlocutores e começam a armar possíveis pretendentes.

Ainda completamente anônimos para nós, sem que sejamos capazes de identificá-los ou nos importarmos com suas existências, começam a se beijar ou a brigar. Por mim, tudo bem.

"A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação", murmura Nietzsche em meus ouvidos.

A ausência de qualquer narrativa mais estruturada reforça a impressão de que é um documentário sobre a vida secreta dos jovens inconsequentes. O fato de não estarem confinados, pois frequentam baladas e convidam gente de fora para eventos na casa, também ajuda a sentir saudades da época em que não estávamos em quarentena. Aquela rotina já foi normal.

Mas talvez eu esteja exagerando. Pouca coisa normal acontece nos quase 60 minutos de arte do piloto.

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Se alguém estava aguardando uma espécie de De Férias com o Ex, é importante informar que o programa é ainda mais chocante que a laureada atração da MTV. As cenas de sacanagem deixam pouco para a imaginação e as discussões me fizeram lembrar da época em que meus pais estavam se separando.

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Uma mesa-redonda com celebridades interrompe o programa algumas vezes para tentar contextualizar o que está acontecendo e propor discussões a respeito da lisergia apresentada ao público. A absoluta falta de nexo também impera nesse segmento, uma vez que todos se atropelam e é difícil entender o que estão dizendo.

A gloriosa Boca Rosa, dona do Brasil, ressurge em seu primeiro compromisso televisivo pós-BBB. Faz apenas uma tímida intervenção nas longas discussões entre Pabllo Vittar, Felipe Titto e grande elenco, mas absolutamente certeira, como de praxe. A sniper do entretenimento é um alento no meio de tanta confusão.

* A Coluna Chico Barney prestigia Soltos em Floripa em ação comercial da Amazon Prime. Obrigado pelos mimos, Jeff Bezos. Semana que vem tem mais.

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