Exposição traz arte da periferia de SP: 'Favela tem conceito, tem talento'
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Desde a semana passada, a Casa Vitrola em São Paulo está com uma mostra de artistas de diferentes periferias da cidade. A exposição "Traços Periféricos" vem com um convite de transformação pela arte. E de fora dos limites da cidade para dentro, da periferia para cidade, das ruas para galeria.
A mostra reúne obras de oito artistas, cada um de um canto de São Paulo: Kari, Mota, Caio, Quel, Simo, Dumeen, Snamps e Fany. A curadoria de Ceres Macedo e Nego Todd propõe um percurso que pulsa o cotidiano da quebrada: o ônibus lotado, o improviso, a luta por moradia, o baile de rua. É arte que não apenas representa, mas nasce da vivência, atravessa as ruas e rompe com os limites impostos pelo centro. É o que se vê nos traços e cores do grafite, linguagem que ocupa um papel central nesta exposição.
"Mais do que arte pela arte, cada traço carrega histórias, resistências e afetos", afirmam os curadores. Esse sentimento ecoa com força no depoimento da artista Raquel Vieira Sanchez, a Quel, que reflete sobre o sentido de pertencimento provocado pelo grafite. Para ela, a exposição toca em um lugar profundo de pertencimento e também de denúncia silenciosa sobre os limites invisíveis que segregam a cidade. "Apesar de vivermos aqui, ocupando diversos espaços, a gente não se sente pertencente em alguns bairros por uma questão de classe social, de racialidade, de território. E o grafite, quando ocupa esses espaços, nos acolhe", diz Quel.
Ela destaca que o impacto visual do grafite, em regiões onde ele não é esperado, quebra o conforto e provoca reflexão: "A arte floresce do impacto. Quando vejo um grafite em um bairro que aparentemente me afasta, isso me remete à minha história, ao meu bairro. Isso gera um choque estético, social e até mental em quem vive em lugares de privilégio, porque a presença do nosso traço está ali, e não pode ser ignorada".
Para Quel, a exposição tem ainda um sentido coletivo: "Claro que me sinto feliz por estar ali como artista, mas a real força está no coletivo. É um movimento de ocupação, de presença, que gera um encontro de dois mundos. A arte periférica tem muito a dizer, e aqui, ela está dizendo --com força e beleza."

Quem também sente essa potência é Jefferson Lima Andrade, o Snamps, artista que não esperava estar em uma galeria nesse momento, mas reconhece o significado da oportunidade: "A gente, como é do gueto, da favela, nem sempre tem essas chances. Quando chega, temos que abraçar. Não só por nós, mas por quem está vindo. A favela tem muito conceito, muito talento. Podemos ocupar esses espaços não só como mão de obra, mas como artista, como referência."
A mostra fica em cartaz na Casa Vitrola até o dia 26 de julho.
Exposição Traços Periféricos
Casa Vitrola - Rua Artur de Azevedo, 1902 - Pinheiros - São Paulo/SP
Visitação: até 26 de julho
Segunda a sábado, das 11h30 às 15h e das 17h às 22h
Artistas: Kari, Mota, Caio, Quel, Simo, Dumeen, Snamps e Fany
Curadoria: Ceres Macedo e Nego Todd
Entrada gratuita
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