Buenos Aires não tem só denúncia de propina, tem também estátua para ela

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No final do mês passado, o presidente da Argentina, Javier Milei, foi alvo de um escândalo sobre criptomoedas. Ao promover a $LIBRA, o presidente lesou 44 mil investidores e gerou uma crise política no país vizinho. Mensagens de texto de um dos criadores da criptomoeda foram divulgadas, onde ele diz "controle total" sobre Milei e alega que paga propinas à secretária-geral da Presidência, Karina Milei, irmã do presidente. O que isso tem a ver com arte urbana? Nada. Porém, a propina na Argentina (e não só lá) não é novidade e mereceu até mesmo um obra de arte pública em um dos prédios mais famosos da capital.
Quem já foi para Buenos Aires já viu o Edificio del Ministerio de Obras Públicas. Para quem não está ligando o nome, é o prédio situado na esquina da avenida Nove de Julio com avenida Belgrano. Para ficar mais fácil reconhecer, é o prédio com um desenho gigante de Eva Peron feito pelo artista argentino Alejandro Marmo. A arte fora do museu que estamos buscando não é esse mural e, sim, duas esculturas nos cantos do edifício que podem passar despercebidas a olhares menos atentos.

De estilo art déco, uma delas é conhecida como "monumento a la coima". Em português, "monumento à propina". A história que se conta é que as estátuas simbolizam o pagamento ilegal, já que uma leva em suas mãos um pequeno cofre, e o outra estende a palma de sua mão para trás, com seu braço colado no corpo, como esperando receber o dinheiro de forma sigilosa.

O idealizador dessas figuras foi o arquiteto do edifício, Alberto Belgrano Blanco. A escultura ficou sob responsabilidade de José Hortal, então diretor nacional de arquitetura do país. Hoje, no entanto, se considera certo que o real escultor foi o artista italiano Troiano Troiani. O que se conta é que Alberto queria usar as esculturas para simbolizar seu cansaço com o assédio durante a construção do edifício, exigindo propinas para resolver qualquer inconveniente na obra.
Não há registro efetivo que o que está sendo retratado ali seja propina. As imagens, no entanto, falam por si. Assim como os registros históricos de propinas que ocorriam nas concessões de obras públicas na Argentina na década de 1930, quando o edifício começou a ser erguido. O peso de denúncia das estátuas só ganhou força há menos de 10 anos, quando um ex-secretário de obras públicas foi preso, o que iniciou uma investigação jornalística que levantou o passado do edifício e suas duas estátuas.
De monumento essas estátuas não têm nada. A mensagem que passam, no entanto, serve como um recado do passado. Recado bem atual, conforme as denúncias recentes.
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