A cultura russa sendo atacada por russos

Estamos vendo no Brasil alguns boicotes a elementos russos que parecem piada, como a retirada de estrogonofe de cardápios. Não há lógica em demonizar a cultura russa, muito menos um prato. Enquanto essas ações sem muito sentido e com menos ainda eficácia surgem, a cultura vai sendo apagada de fato no meio do conflito.

Ontem, a estátua do Duque de Richelieu amanheceu encoberta por sacos de areia para protegê-la de ataques na cidade ucraniana de Odessa. A estátua foi criada por Ivan Martos, escultor que teve uma influência considerável em vários artistas do Império Russo na primeira metade do século XIX. Esse trabalho de grande representatividade para a arte russa corre o risco de ser bombardeado justamente pelos russos. E se alguma bomba errar por alguns metros o alvo, outro ponto histórico para a arte pode ser destruído, já que a estátua fica no topo da escadaria onde foi filmado o clássico filme O Encouraçado Potemkin.

Se em Odessa a estátua do Conde segue em pé, em Kharkiv, pelo menos 30 patrimônios tombados foram destruídos ou seriamente danificados, segundo o grupo de conservação Docomomo. Fundada em 1988, o Docomomo é uma organização sem fins lucrativos dedicada à documentação e conservação de edifícios, sítios e bairros do Movimento Moderno.

A denúncia foi publicada no site deles por um membro anônimo natural de Kharkiv que afirma que a invasão "não é apenas uma catástrofe humanitária, não apenas um crime de guerra, mas também a destruição bárbara do patrimônio arquitetônico das cidades ucranianas, nossa memória e cultura". Memória e cultura não só ucraniana, mas também russa.