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Arte Fora do Museu

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quando arte valia medalha olímpica

Felipe Lavignatti

Colunista do UOL

03/08/2021 19h24

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Resumo da notícia

  • Competição artística durou até 1948
  • Somente um brasileiro participou em um edição, sem medalhas
  • Alemanha é recordista na categoria arquitetura com 2 ouros

Ano de Olimpíada é ano de descobrirmos novos heróis nacionais. O evento é a oportunidade de muita gente ver pela primeira vez algumas competições que normalmente têm pouco destaque na mídia. Não fosse pelas Olimpíadas, talvez a maioria do Brasil nunca soubesse quem é César Cielo, Daiane dos Santos, Aurélio Miguel, João do Pulo. Algumas modalidades olímpicas foram deixadas de lado com o tempo e com isso perdemos a chance de conhecermos melhor outros talentos brasileiros. Uma, em específico, seríamos favoritos todo ano com nomes como Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas. Se não reconheceu esses "atletas", saiba que eles foram alguns dos arquitetos de maior renome a saírem do Brasil. Sim, já tivemos disputa de medalha para o melhor arquiteto na Olimpíada.

As competições de arte fizeram parte dos Jogos Olímpicos modernos durante seus primeiros anos, de 1912 a 1948. As competições faziam parte da intenção original de um dos pais das Olimpíadas da era moderna, Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin. Foram entregues medalhas por obras de arte inspiradas no esporte, divididas em cinco categorias: arquitetura, literatura, música, pintura e escultura.

O próprio barão chegou a competir com uma ode na categoria de literatura - e ganhou, o que gera algumas dúvidas sobre os critérios de avaliação da época. No geral, no período em que as artes eram contempladas, nenhum nome de grande proeminência saiu vencedor, mas a competição de música chegou a contar com o compositor russo Igor Stravinsky como jurado. Como estamos falando de arte fora do museu nessa coluna, vamos ao que nos interessa. Obras que podem ser acessadas na rua. Vejamos quem foram os campeões em todas as sete edições:

1912
A medalha foi para a Suiça com a dupla Eugène-Edouard Monod e Alphonse Laverrière com um projeto de planejamento de construção de um estádio moderno.

1920
Talvez fato único na história olímpica, houve somente uma medalha e foi de prata para o norueguês Holger Sinding-Larsen com um projeto de escola de ginástica.

1924
Participaram 21 arquitetos de sete países, incluindo uma mulher em uma rara competição mista, exibindo um total de 17 projetos. Inicialmente, o júri não quis atribuir medalhas por achar que nenhum trabalho era realmente digno de premiação, mas inverteu a decisão sobre a intervenção de Pierre de Coubertin. O ex-nadador húngaro Alfréd Hajós, que ganhou duas medalhas de ouro nos primeiros Jogos Olímpicos de 1896 em Atenas, e Dezso Lauber, ex-tenista húngaro e participante dos Jogos de Londres de 1908, produziram um Plano de Estádio, pelo qual receberam a medalha de prata. O bronze foi para Julien Médécin, de Mônaco. Essa foi a primeira e até o momento única medalha que Mônaco ganhou nos Jogos Olímpicos.

1928
Neste ano a categoria de arquitetura é dividida em duas: Desenhos para planejamento de cidade e desenho arquitetônico. O projeto Perspectiva do Estádio de Versailles de Jacques Lambert da França levou duas medalhas, uma de bronze para arquitetura e outra de prata em planejamento de cidade. Já o ouro ficou para a Alemanha com Alfred Hensel e o Estádio de Nuremberg na primeira categoria e o Holandês Jan Wils com o estádio olímpico de Amsterdam na segunda.

Estádio Olímpico de Amsterdam, ouro deste ano - Divulgação - Divulgação
Estádio Olímpico de Amsterdam, ouro deste ano
Imagem: Divulgação

1932
O ouro para desenho arquitetônico foi para um projeto que não podemos chamar de esporte, mas levou mesmo assim: um circo para touradas projetado pelos franceses Gustave Saacké, Pierre Bailly e Pierre Montenot. Já na categoria planejamento, o projeto de um centro de recreação e esporte para Liverpool do inglês John Hughes foi o vencedor. Esse projeto nunca foi realizado, portanto, não imagine que um certo grupo musical da região tenha frequentado esse local alguns anos depois.

1936
A Olimpíada da Alemanha nazista deu medalha para o time da casa na categoria planejamento de cidade com o Campo de Esporte Imperial (Reichssportfeld) do alemão Werner March. Já na categoria desenho arquitetônico, Hermann Kutschera da Áustria ganhou com seu projeto de estádio para Esqui que nunca foi construído pois os desenhos se perderam durante a segunda guerra mundial.

1948
No último ano em que houve a competição, o finlandês Yrjö Lindgren levou o ouro em planejamento de cidade pelo Centro de Atletismo de Varkaus. O bronze ficou com outro finlandês, Ilmari Niemeläinen. Ele é um dos poucos artistas que também competiram como atleta, tendo participado em 1936 e 1948 no salto ornamental. Em desenho de arquitetura, o austríaco Adolf Hoch ganhou com seu projeto de pista de esqui.

Após essa edição de 1948, as competições artísticas foram abandonadas. O entendimento do Comitê era que os artistas eram profissionais, viviam de suas artes, portanto não poderiam participar da Olimpíada pelos critérios da época que privilegiavam atletas amadores. O Brasil nunca ganhou medalha em nenhuma das categorias, tendo participado apenas uma vez concorrendo em literatura com um desconhecido autor chamado L. Alvar da Silva que não subiu ao pódio. Já os arquitetos brasileiros nunca participaram.

E no ranking dos países mais vencedores das olimpíadas na categoria arquitetura temos

Alemanha - 2 ouros, 1 prata e 3 bronzes
Áustria - 2 ouros, 1 prata e 1 bronze
França - 1 ouro, 1 prata e 1 bronze
Suiça - 1 ouro, 1 prata
Finlândia - 1 ouro e 1 bronze
Grã Bretanha - 1 ouro
Holanda - 1 ouro
Dinamarca - 2 pratas
EUA - 2 pratas
Hungria - 1 prata
Noruega - 1 bronze
Bélgica - 1 bronze
Mônaco - 1 bronze
Suécia - 1 bronze