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Arte Fora do Museu

REPORTAGEM

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Clássicos da pintura ganham releituras feitas com sacolas plásticas

Felipe Lavignatti

Colunista do UOL

29/07/2021 13h45

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Resumo da notícia

  • Artista recolheu plásticos na rua para compor suas obras
  • Monet, Van Gogh e Picasso são alguns dos artistas que passaram pela releitura
  • Quadros não levam tinta, somente a composição das cores das sacolas

O artista Eduardo Srur tem seu trabalho muito ligado a questões ecológicas e sua nova série dialoga com a poluição gerada pelo plástico descartado. Em caminhadas pela cidade, Srur foi recolhendo sacolas das mais variadas cores para compor seus novos quadros da série "Natureza Plástica". Sem tinta, somente com o material recolhido, trabalhos de Van Gogh, Leonardo da Vinci e Tarsila do Amaral ganharam releituras. Em uma olhada rápida, fica difícil notar que não é uma pintura, mas sim um conjunto de cores formado pela seleção das sacolas plásticas nas cores certas. Conversamos com o artista que falou sobre o processo de criação.

Essa nova série acabou inspirando muitos trabalhos em escolas, com alunos. Como você vê essa influência na sala de aula?

Isso é muito gratificante. Eu tenho recebido uma forte demanda de escolas, para poder compartilhar conhecimento, transferir informação, conversar com os alunos e com os professores. Essa série atual que eu estou desenvolvendo, "Natureza Plástica" é a representação contemporânea de grandes obras da história da arte só com objetos e fragmentos de plástico. Isso começou durante essas intervenções que eu fazia nos rios e nesses lugares sujos da cidade. Eu fui recolhendo os plásticos e depois comecei a recolher o lixo nas calçadas e isso gerou lentamente um processo de pesquisa, em que eu criava as imagens no início de maneira muito simples, só com sacolas plásticas. E para minha surpresa, talvez por causa da mídia e dos veículos de comunicação que difundiram as obras dessa série, algumas escolas começaram a fazer espontaneamente o mesmo processo essas atividades com os alunos. Foi muito interessante. Voltando um pouco para a questão do conceito dessa série, a provocação que eu faço é: o plástico que você joga fora é o plástico que eu consigo re-significar, por meio da arte, e devolver para sua casa. Essa é a re-energização que eu falo que o artista tem em relação aos materiais.

Esse trabalho acabou circulando no WhatsApp no estilo "Veja esse artista incrível". E olhando com mais atenção, fiquei me perguntando se cada cor no quadro é uma sacola daquela cor mesmo?

Sim, eu não faço manipulação de pigmento. O plástico que vem é da cor da indústria.

Olhando daqui, se houver alguém que não saiba sobre o quadro, de longe acha que é uma pintura. Mas vendo de perto você consegue identificar que são os plásticos. Como é que você organizou isso? Quantos tons você consegue encontrar?

São Paulo é uma cidade incrível. Se você pesquisa, você pode encontrar tudo. Tá certo que, durante esse período de pandemias, fica mais difícil, mas se você procura você acha. E o plástico, infelizmente, está em todos os cantos do planeta. Em todas as esquinas você encontra um plástico, e a partir disso eu consegui criar uma grande paleta de cor. Eu gosto de provocar as pessoas da seguinte maneira: se Van Gogh, Monet, Picasso e esses mestres da história da arte que me inspiro existissem hoje, será que eles pintaram com tinta óleo? Ou com plástico? Eu troquei a paleta de cor. Deixei as tintas e os pincéis e agora eu manipulo fragmento de plástico, com ferramentas, pinças e outros objetos que foram sendo construídos e criados conforme a necessidade.

Quadro Mona Lisa recriado por Eduardo Srur com sacolas plásticas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Quadro Mona Lisa recriado por Eduardo Srur com sacolas plásticas
Imagem: Arquivo pessoal
Abaporu, de Tarsila do Amaral, na versão de sacolas plásticas do artista Eduardo Srur - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Abaporu, de Tarsila do Amaral, na versão de sacolas plásticas do artista Eduardo Srur
Imagem: Arquivo pessoal

E quantidade de cores de plástico que existem, né?

Mas tem uma questão interessante da técnica em que você compõe com layers de plástico. Você se aproveita do fato de que são transparentes e acabam gerando outras cores. Você pode destruir o plástico, amassar, sobrepor, criar essas velaturas, e vai chegando em tonalidades diferentes.

Quanto tempo para produzir uma obra como essa?

Dá muito trabalho. Durante o processo aqui eu gasto um mês por obra. Agora eu estou aumentando a produção e conseguindo trazer algumas questões interessantes para as etapas. Mas leva quase um mês para fazer cada obra, e eu devo ter no máximo de 15-20 obras.

Confira abaixo a íntegra da entrevista.

Conheça algumas obras do artista no Arte Fora do Museu