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Opinião

O luxo da performance: por dentro dos gadgets de bem-estar

Por: Tamara Lorenzoni

O mercado que transformou dados em status

O bem-estar deixou de ser uma rotina e passou a ser um investimento e, mais do que isso, um ativo de desejo. O setor global de wellness tech foi avaliado em US$ 349 bilhões em 2024 e deve alcançar US$ 1,66 trilhão até 2033. No Brasil, o mercado de wearables cresce a uma taxa média de 13,5% ao ano e deve movimentar US$ 4,9 bilhões na próxima década.

Esses números revelam uma nova equação de valor: cuidar-se é a nova forma de performar, e performar bem é o novo luxo. O corpo tornou-se uma interface de dados e a tecnologia, um símbolo de autoconsciência e distinção.

Oura Ring
Oura Ring Imagem: Reprodução

Não dormir não é mais cool

O descanso se tornou um marcador de sucesso, e o Oura Ring é o objeto de desejo que melhor traduz essa nova estética da performance.Feito em titânio, o anel monitora sono, temperatura corporal e variabilidade cardíaca com precisão clínica. Sua versão Gucci x Oura, em ouro 18k, custa cerca de US$ 950 e já foi vista em nomes como Gwyneth Paltrow e Kim Kardashian. Com mais de 2,5 milhões de unidades vendidas, o acessório consolidou o conceito de bio-luxury: tecnologia que mede o invisível e traduz o autocuidado em status.

Outro exemplo é o Eight Sleep Pod 4, um colchão inteligente que regula a temperatura, analisa o sono e ajusta o ambiente para máxima recuperação. Utilizado por atletas como Lewis Hamilton e Taylor Fritz, o produto elevou o descanso à categoria de performance, criando o conceito de sleep fitness, dormir como treino. Com mais de US$ 150 milhões em aportes, a marca atingiu valor de mercado de US$ 500 milhões. Dormir, definitivamente, virou ciência, e, de certa forma, privilégio.

Neurociência aplicada ao mindfulness

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O Muse é outro símbolo dessa fusão entre design, ciência e introspecção. Trata-se de uma tiara de EEG que lê ondas cerebrais em tempo real durante a meditação e fornece feedback sonoro: quanto mais calma a mente, mais suaves os sons.
Custando entre US$ 250 e US$ 300, o dispositivo é utilizado em hospitais como a Mayo Clinic e por líderes de bem-estar como Deepak Chopra.
Mais do que um gadget, é um coach mental disfarçado de acessório, representando o encontro entre a neurociência e o mindfulness.

Por que estamos viciados em performance?

Vivemos a era da mensuração, e tudo o que pode ser medido, pode ser otimizado. Entre os 25 e 45 anos, esse consumidor urbano, hiperconectado e orientado à performance transformou o próprio corpo em um dashboard. Executivos, atletas, criadores: todos em busca de eficiência, não apenas de bem-estar. Sentir já não basta , é preciso quantificar o sentir.

O luxo como lifetime value

As marcas de wellness tech compreenderam que o novo luxo está na continuidade da experiência. Cada assinatura é uma relação, não uma transação. Essas empresas constroem ecossistemas baseados em dados, nos quais cada informação alimenta personalização e retenção.
O desejo nasce nas redes, é validado por médicos e influenciadores de performance e consolidado por um modelo de consumo recorrente, orientado por propósito e tecnologia.

Design, ciência e silêncio: os novos códigos do bem-estar

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O poder desses gadgets está no tripé prova social, validação científica e desejo estético. Atletas e celebridades emprestam credibilidade, instituições médicas reforçam eficácia e designers transformam hardware em objeto de culto. Ao unir ciência, design e influência, essas marcas criam comunidades aspiracionais e redefinem o luxo contemporâneo. O novo lifestyle de alto padrão não é ostentação, e sim eficiência humana. Tecnologia, propósito e autoconhecimento são agora os maiores símbolos de status silencioso.

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Imagem: Divulgação

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do BOL

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