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Harry pede revisão de segurança no Reino Unido após perseguição

Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana

A carta enviada à nova ministra do Interior reacende tensões entre o Palácio, o governo e a saúde emocional do príncipe - e expõe o quanto ele ainda busca pertencimento

Cinco anos depois de abrir mão de seus deveres reais, o príncipe Harry ainda luta por algo que, em seu entendimento, nunca deveria ter sido retirado: o direito à proteção policial no Reino Unido. O gesto mais recente, uma carta formal enviada à nova ministra do Interior, Shabana Mahmood, no início de outubro de 2025, é mais do que um pedido administrativo - é um ato de resistência simbólica. Harry quer, acima de tudo, que o Estado britânico reconheça que ele continua sendo um alvo em potencial, independentemente do seu status institucional. E, no subtexto, pede algo ainda mais profundo: o reconhecimento de que ele nunca deixou de ser parte da monarquia.

Príncipe Harry
Príncipe Harry Imagem: Reprodução

O que Harry pediu - e por quê

Na carta, escrita logo após um incidente com uma stalker que se aproximou dele durante uma visita a Londres no fim de setembro de 2025, Harry solicita que o RAVEC (Royal and VIP Executive Committee), órgão responsável por definir quem recebe segurança oficial no Reino Unido, refaça a avaliação de risco referente a ele. O RAVEC é composto por representantes do Home Office, do Cabinet Office e do Foreign Office, e define, com base em critérios técnicos, quais figuras públicas têm direito à proteção financiada pelo Estado - um privilégio reservado a quem ocupa funções ativas em nome da Coroa.

Foi esse mesmo comitê que, em 2020, após o chamado "Megxit", decidiu retirar de Harry e Meghan a proteção policial permanente. Desde então, cada retorno ao Reino Unido depende de uma avaliação "caso a caso", feita a partir de agendas específicas e ameaças imediatas. O príncipe contesta esse modelo. Argumenta que a natureza de sua exposição pública, o assédio histórico da imprensa e ameaças documentadas à sua integridade física não desapareceram quando ele deixou de ser um "working royal".

No documento enviado a Mahmood, ele pede que o RAVEC volte a cumprir o que chama de suas "regras originais": a realização de um Risk Management Board (RMB), uma análise formal de risco que, segundo ele, foi suprimida no seu caso sem justificativa técnica. Harry sustenta que foi tratado de forma desigual e que o governo "falhou em protegê-lo adequadamente".

É, em essência, uma tentativa de reabrir a decisão de 2020 por via política, depois de já ter perdido nos tribunais -- em maio de 2025, a Corte de Apelação manteve a decisão do Home Office de não restaurar a proteção integral.

A importância simbólica - e emocional - dessa insistência

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A persistência de Harry em buscar segurança oficial transcende a questão prática. Desde o início de sua vida adulta, ele associou segurança e privacidade a traumas profundos: a morte da mãe, perseguida pela mídia; o cerco da imprensa durante sua juventude; as ameaças constantes a Meghan e, agora, o medo de trazer os filhos ao país onde nasceu.

Em suas palavras, a perda da segurança é "um lembrete diário de que o Reino Unido não é mais um lugar seguro para mim e minha família". A carta é, portanto, um gesto duplo - institucional e emocional. Ele tenta reafirmar que, mesmo vivendo na Califórnia, ainda é um príncipe britânico, um cidadão com responsabilidades e vulnerabilidades públicas, não um civil anônimo que pode pagar por seguranças privados.

Sua saúde mental está diretamente ligada a essa disputa. Desde "The Me YouCan't See", série documental produzida com Oprah Winfrey, Harry tem falado abertamente sobre o impacto psicológico da perseguição midiática. A sensação de desamparo institucional é, para ele, um gatilho - e o direito à segurança se tornou o símbolo de um pertencimento que ele sente ter perdido. Em outras palavras: não se trata apenas de proteção física, mas de reconexão com a estrutura que o rejeitou.

Quem é Shabana Mahmood - e o que esperar de sua resposta

A destinatária da carta, Shabana Mahmood, é uma das figuras mais observadas do novo governo trabalhista de Keir Starmer. Muçulmana, filha de imigrantes paquistaneses e advogada, Mahmood é a primeira mulher muçulmana a ocupar o cargo de Home Secretary. Politicamente, pertence à ala conhecida como Blue Labour - pragmática, mais conservadora em temas de segurança e fortemente comprometida com a ideia de responsabilidade institucional.

Desde sua nomeação, em 5 de setembro de 2025, Mahmood tem enfatizado eficiência, coerência administrativa e a necessidade de "reconstruir a confiança nas instituições britânicas". Isso significa que, embora possa se sensibilizar com o caso de Harry, dificilmente tomará uma decisão que pareça abrir exceções ou criar precedentes.

Ainda não há prazo público para uma resposta formal, mas a expectativa é que o Home Office trate o caso dentro do protocolo: analisando a carta, solicitando parecer técnico do RAVEC e respondendo oficialmente entre o fim de outubro e o início de novembro de 2025. Fontes próximas ao governo indicam que Mahmood dificilmente concederá o retorno automático da segurança integral, mas pode autorizar uma reavaliação técnica sob critérios específicos — uma saída intermediária que não enfraquece o governo nem humilha Harry.

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As implicações políticas e familiares

Para o governo, o caso é sensível: conceder o pedido de Harry seria politicamente impopular, especialmente num momento em que o Labour tenta projetar austeridade e imparcialidade. Mas para a monarquia, é ainda mais delicado.

O rei Charles evita qualquer interferência direta - uma intervenção pública poderia ser vista como violação da neutralidade política do soberano. Ainda assim, a disputa coloca o Palácio de Buckingham numa posição desconfortável. Se o filho do rei afirma publicamente que não se sente seguro em seu próprio país, isso ecoa como uma crítica indireta à própria instituição.O Príncipe William, que mantém relação mínima com o irmão, vê a questão sob outro ângulo: ele é o herdeiro direto e símbolo da estabilidade da monarquia. Qualquer concessão especial a Harry ameaça a imagem de hierarquia e consequência — afinal, foi a abdicação das funções oficiais que criou o impasse.

Para o casal Meghan e Harry porém, o resultado terá impacto direto em sua narrativa pública. Uma vitória administrativa - mesmo parcial - reforçaria a ideia de que Harry foi injustiçado e que suas preocupações são legítimas. Uma nova recusa, por outro lado, cristalizaria a distância: o Reino Unido seguiria sendo o território que ele ama, mas onde não é bem-vindo nem protegido.

No fim, o que Harry quer

Harry quer mais do que seguranças armados ou carros escolta. Ele quer reconhecimento institucional. Quer que o sistema britânico admita que ele não é apenas um "ex-membro da realeza", mas alguém cuja biografia o coloca para sempre sob risco e escrutínio. Quer que o país onde nasceu reconheça que o título que carrega - e que nunca perdeu oficialmente — ainda traz consequências. Sua carta é, no fundo, uma súplica para que o Reino Unido veja o homem por trás do príncipe. Mas, politicamente, é improvável que encontre eco pleno. Porque, para o Estado, o príncipe Harry agora é — e continuará sendo — um caso "sob medida". E para ele, isso é exatamente o que não quer ser: exceção. Quer voltar a ser parte do todo.

Situação em andamento

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Até o momento da publicação, o Home Office não respondeu oficialmenteao pedido de Harry, e nem o RAVEC confirmou se uma nova análise de risco será conduzida.

O caso segue sob avaliação, e a resposta do governo - prevista para as próximas semanas -- deve definir se o príncipe finalmente obterá uma reconsideração formal ou se continuará sendo tratado como exceção.

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Imagem: Divulgação

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do BOL

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