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Opinião

O que a suíte de Odete Roitman revela sobre o luxo e o mercado

Por: Tamara Lorenzoni

A suíte onde "morreu" Odete Roitman, personagem icônica da nova versão de Vale Tudo, reacendeu um debate que vai muito além da teledramaturgia: como o luxo e o imaginário coletivo se entrelaçam na construção do valor de marca.

No último andar do Copacabana Palace, a Signature Suite é mais do que uma locação. Com seus 119m² de elegância, tecidos franceses, mármore italiano e serviço de mordomo personalizado, o espaço tornou-se cenário simbólico de um novo capítulo do luxo brasileiro. A diária, que ultrapassa R$ 40 mil, é apenas um detalhe de uma equação que envolve desejo, história e reputação.

Débora Bloch como Odete Roitman em "Vale Tudo"
Débora Bloch como Odete Roitman em "Vale Tudo" Imagem: Reprodução

Curiosamente, a cena fictícia despertou uma discussão real: e se o crime de Odete Roitman acontecesse de verdade? O impacto sobre a marca seria imediato. No mercado de luxo, onde até 80% do valor de uma empresa está em ativos intangíveis — confiança, prestígio, herança —, uma crise dessa magnitude custaria milhões. Mas o que ocorreu foi o oposto. O episódio projetou o Copacabana Palace de volta ao centro da cultura popular, convertendo exposição em capital simbólico.

Esse fenômeno revela uma transformação profunda na lógica do prestígio. Durante décadas, o luxo se sustentou na distância, em estar acima da conversa pública, quase intocado. No entanto, a era digital subverteu essa dinâmica: hoje, uma marca que se mantém silenciosa corre o risco de desaparecer da memória coletiva. O Copacabana Palace foi inserido na conversa, e, paradoxalmente, rejuvenescido por ela.

A fusão entre ficção, nostalgia e meme diz muito sobre o modo como o brasileiro consome cultura e valor. Ao misturar glamour e ironia, o público transformou o hotel em personagem, não como vilão, mas como parte do enredo afetivo coletivo. Essa familiaridade é rara e valiosa: aproxima uma marca antes percebida como intocável do afeto popular, sem diluir sua aura de exclusividade.

O luxo, afinal, nunca foi apenas sobre produtos caros. Hoje, mais do que nunca, trata-se de status emocional, pertencimento e experiência simbólica. As pessoas buscam o que é raro, o que não se replica, e isso vale tanto para uma joia quanto para um imóvel ou uma suíte de hotel. A internet amplificou o desejo pelo luxo aspiracional. Os consumidores estudam mais, compreendem o valor por trás das marcas e associam moradias e investimentos ao estilo de vida que desejam projetar.

Esse caso é emblemático para o mercado imobiliário e de hospitalidade de alto padrão: mostra que o luxo contemporâneo se define também pela capacidade de permanecer culturalmente relevante. Estar no imaginário, mesmo em tom de brincadeira é, hoje, mais estratégico do que permanecer invisível na bolha da sofisticação.

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O Copacabana Palace, patrimônio da hotelaria mundial, é a prova de que o verdadeiro prestígio não se mede apenas em cifras, mas em narrativa, sensorialidade e presença simbólica. No fim das contas, a suíte de Odete Roitman nos lembra que o luxo é, sobretudo, sobre permanecer desejado, mesmo depois do último ato.

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Imagem: Divulgação

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do BOL

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