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As lágrimas de William e o novo rosto da monarquia

Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana

Em rara demonstração de emoção, o príncipe se comove em conversa sobre suicídio e sinaliza uma transição silenciosa — mais humana, mais parecida com Diana

O príncipe William tem vivido semanas de intensa exposição — mas, talvez, nunca tenha sido tão aberto sobre suas emoções. Depois de aparecer ao lado do pai, o rei Charles III, em uma rara aparição conjunta para demonstrar apoio à próxima cúpula climática COP30, em meio às incertezas sobre o engajamento global no combate à crise ambiental, e de participar do programa da Apple TV+, The Reluctant Traveler, onde falou com honestidade sobre a saudade dos avós e os desafios de ser herdeiro, ele agora surpreende o público por outro motivo: lágrimas.

Príncipe William
Príncipe William Imagem: Reprodução

Em um vídeo divulgado nesta semana como parte das ações do Dia Mundial da Saúde Mental, William protagoniza um dos momentos mais emocionantes de sua trajetória pública. A gravação faz parte de uma nova campanha da Royal Foundation para o lançamento da National Suicide PreventionNetwork, uma rede nacional de prevenção ao suicídio no Reino Unido, que visa oferecer suporte e reduzir o estigma em torno do tema.

No vídeo, o príncipe conversa com Rhian Mannings, fundadora da ONG 2Wish, criada após a morte de seu filho, George, de apenas um ano, e o suicídio do marido, Paul, poucos dias depois — uma tragédia que a levou a transformar o luto em ação.

A conversa é íntima, sem o verniz de formalidade que costuma cercar encontros reais. William e Rhian estão sentados frente a frente, tomando chá, em um tom calmo, mas de grande peso emocional. O diálogo começa racional, sobre estigmas e como lidar com o tema diante de crianças, até chegar ao ponto que o derruba emocionalmente.

William: "Se você pudesse dizer algo a Paul, o que diria?"
Rhian: "Há só uma coisa que eu diria se tivesse mais um momento com ele: por que você não falou comigo? Eu me pergunto isso todos os dias. Ele perdeu tanta alegria. Nós teríamos ficado bem."

Nesse momento, o príncipe se engasga, visivelmente comovido, e tenta continuar:

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William: "Desculpe… é difícil perguntar algo tão doloroso."
Rhian: "Eu sei que você também passou por grandes perdas."
William: "Dá gatilho."

A troca, simples e devastadora, mostra um William raro — vulnerável, humano, atravessado pela memória do que perdeu. Desde menino, ele aprendeu a controlar o rosto e o tom, a manter a compostura mesmo nos momentos mais tristes. Nem no velório da mãe, princesa Diana, nem no da avó, rainha Elizabeth II, houve lágrimas públicas. Agora, há.

E talvez seja esse o ponto. Aos 43 anos, William começa a moldar o contorno de um futuro rei à sua maneira. Um que fala menos de tradição e mais de empatia. Um que não precisa evocar o nome da mãe para honrar seu legado — ele a encarna. Está cada vez mais parecido com ela, não apenas fisicamente, mas nos gestos espontâneos, nos sorrisos largos e, agora, nas lágrimas contidas.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, Meghan e Harry seguem um caminho inverso: o da visibilidade intensa, dos prêmios e galas por causas semelhantes — saúde mental, justiça social, combate ao estigma. São estilos de atuação opostos: William prefere o silêncio e a continuidade; Harry e Meghan, o palco e o símbolo. Não se trata de medir empatia, mas de perceber como ambos lidam com a herança emocional que receberam.

No caso de William, o que se viu nesta semana é mais do que uma reação: é um marco. Pela primeira vez, ele permitiu que a dor aparecesse. E, nesse instante, mostrou que a monarquia pode continuar a existir — mas só se aprender a ser, também, profundamente humana.

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Imagem: Divulgação

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do BOL

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