"Êta Mundo Melhor": Candinho de volta e o desafio de repetir o sucesso
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Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana
Quando estreou em janeiro de 2016, Êta Mundo Bom! parecia, à primeira vista, uma novela das seis como tantas outras: inspirada no universo do caipira sonhador, com trilha sonora clássica, ambientada nos anos 1940 e calcada no melodrama bem-humorado que sempre foi marca de Walcyr Carrasco. Mas bastaram poucas semanas no ar para que a novela se tornasse um dos maiores sucessos recentes da Globo — com média de 27 pontos no Ibope na Grande São Paulo, superando outras tramas do horário e ficando atrás apenas de Alma Gêmea (2005) entre os maiores hits do autor.

Agora, quase uma década depois, a emissora aposta em Êta Mundo Melhor, nova trama das 18h que resgata parte dos personagens e do universo da anterior — especialmente o protagonista Candinho, eternizado por Sérgio Guizé. Walcyr assina os primeiros capítulos e entrega a condução da história para Mauro Wilson, autor de A Fórmula e Quanto Mais Vida, Melhor!, sob a direção artística de Amora Mautner. A expectativa é repetir o sucesso da anterior, mas sem cair na armadilha de simplesmente fazer uma continuação.
"Essa não é uma continuação, é uma nova novela. Há um espelho, sim, uma costura com a anterior. Mas agora, em vez de Candinho procurar a mãe, ele busca o filho", explicou Walcyr durante coletiva de imprensa. Segundo ele, a ideia surgiu a partir de uma provocação interna da Globo e Carrasco topou resgatar os personagens. "É uma novela do bem, para cima, cheia de emoção. E num momento em que a gente precisa tanto disso", completou.
Mauro Wilson assumiu a tarefa com entusiasmo. "Para mim, foi um presente de Natal. É uma novela sobre a procura — de um filho, de um pai, do amor, do sonho, da alegria. Todos os personagens estão atrás de algo. E o Candinho é aquele amigo que todo mundo queria ter. Gentil, puro, carismático. Ele é um cartão de crédito emocional: a gente não sai de casa sem ele."
O universo rural e nostálgico continua presente, mas com novos elementos. A novela agora inclui crianças de um orfanato, uma jovem aspirante a cantora de rádio e vilões inéditos. Jennifer Nascimento, que na novela original fazia a caipira Tadinha, agora ressurge com um arco mais musical, após Walcyr descobrir o talento vocal da atriz em um ensaio teatral. "Foi a única personagem que eu realmente transformei — e por um bom motivo", revelou o autor.
Se na primeira versão o Candinho era um andarilho em busca da origem, agora ele já vive um amor (não apenas com o público), está mais maduro e disposto a reconectar com o passado de outra forma. Para Mauro, o desafio maior foi manter a alma da história e equilibrar personagens consagrados com as novas criações. "Foi tudo muito orgânico. A estrutura da novela é ágil, os personagens se movem o tempo todo. É quase uma fábula otimista onde vale a pena ser bom. E acho que é isso que encanta."
A Globo aposta não apenas na força do personagem e na memória afetiva do público, mas também em um modelo criativo que se tornou mais comum nos últimos anos: revisitar sucessos com novos olhares, sem abandonar o DNA original. Ainda assim, o próprio Walcyr Carrasco deixou claro que sua saída da autoria principal não tem nada de traumática. "Eu amo novela. Não estou saindo porque adoeci ou me cansei. Tenho outro projeto em desenvolvimento e precisei passar o bastão. Mas estou muito feliz com o Mauro — ele tem domínio do humor e muita sensibilidade."
A parceria entre Mauro e Amora também promete dar novo frescor à estética da novela. Ainda que Amora não tenha falado tanto durante o encontro com a imprensa, sua presença como diretora artística sinaliza uma tentativa de refinar visualmente a narrativa tradicional, sem perder a leveza e a brasilidade rural que fez o público se apaixonar por Candinho lá em 2016.
O grande desafio agora é atualizar essa ingenuidade sem torná-la datada, numa era em que até o escapismo exige novas camadas de complexidade. "As pessoas precisam se sentir felizes e até aliviadas depois de um dia difícil", disse Walcyr. "É isso que eu quero dar com essa novela. Um momento de respiro, de encanto."
Se conseguirá repetir o sucesso da anterior, só o tempo (e o Ibope) dirá. Mas o espírito permanece o mesmo: doce, otimista e com cheiro de pão saindo do forno na cozinha da fazenda. E num mundo cada vez mais acelerado, talvez não haja mesmo nada melhor que um pouco de Êta Mundo Melhor para nos lembrar da beleza do simples.

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