Sete Anos de Harry e Meghan: Amor e Controvérsias
Ler resumo da notícia
Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana
O mito da "crise dos sete anos" (ou "seven-year itch", em inglês) tem raízes tanto na psicanálise quanto na cultura popular, sendo consolidado no imaginário coletivo há décadas. A ideia é que, por volta do sétimo ano de casamento ou relacionamento estável, os casais enfrentariam um momento de tédio, insatisfação ou tentação que colocaria em risco a união. A teoria foi popularizada, em parte, por observações da psicologia e da sociologia que notavam que muitas separações e divórcios ocorriam entre o sexto e o oitavo ano de casamento. Pesquisas feitas a partir da década de 1920 nos Estados Unidos, por exemplo, mostravam uma curva estatística de insatisfação conjugal nesse período.

Sigmund Freud e alguns de seus sucessores também teorizaram sobre o declínio do desejo e o surgimento de impulsos reprimidos ou desejos extraconjugais com o tempo. Mas vale dizer que o "sete" tem um simbolismo cultural antigo - é considerado um número cíclico em muitas tradições (sete dias da semana, sete anos de fartura e seca na Bíblia, sete pecados capitais etc.). Hoje, a "crise dos sete anos" é vista com um certo ceticismo por psicólogos, que preferem analisar as crises conjugais em termos de ciclos relacionais, mudanças de vida (como filhos, trabalho, envelhecimento) e habilidades de comunicação. A ideia do "sete" é mais uma metáfora cultural do que uma verdade científica. Mas como o mito persiste agora que Meghan e Harry completam sete anos de casados (bodas de lã), o número convida à especulação, mesmo que não carregue validade empírica universal.
Em maio de 2018, o casamento de Meghan Markle e Príncipe Harry parecia um sopro de renovação para a monarquia britânica. Em meio a pompas e circunstâncias, a entrada da atriz americana, birracial, divorciada e feminista na família real foi recebida como um marco simbólico de modernização. Sete anos depois, a narrativa é outra: marcada por rupturas, batalhas judiciais, acusações de racismo, entrevistas explosivas, documentários, livros de memórias e uma mudança definitiva para os Estados Unidos, a união de Meghan e Harry virou, ela própria, um símbolo de resistência e dissonância em relação ao establishment que um dia os celebrou.
Meghan postou no Instagram uma colagem de fotos que considera a narrativa pessoal dessa trajetória intensa que para muitos parece ter o dobro de tempo, tamanho o peso do drama. Ali vemos imagens do casal no início do namoro, na festa de casamento, com os filhos (sim, há fotos de Lilibet e Archie). "Sete anos de casamento. Uma vida inteira de histórias. Agradecemos a todos vocês (sejam ao nosso lado ou de longe) que nos amaram e apoiaram ao longo da nossa história de amor. Somos muito gratos. Feliz aniversário!", ela escreveu.
Mas esse conto de fadas não é perfeito. Ele foi rapidamente invadido pelo realismo brutal da monarquia e da mídia britânica. O tratamento dado à duquesa de Sussex por parte da imprensa sensacionalista — que contrastava de forma gritante com o que se via nas manchetes sobre Catherine, a princesa de Gales — se transformou em um dos pilares da saída do casal da chamada "Firma". Mas o desgaste foi também interno. As tensões com o Palácio de Buckingham, os bastidores da renúncia aos deveres reais em 2020 (o chamado "Megxit") e os silêncios da Casa de Windsor diante de alegações graves consolidaram a posição de Harry e Meghan como figuras deslocadas, mas determinadas a reescrever sua história. Ou simplesmente "mentir", dependendo da sua fonte.
Apesar do aumento de apostas em separação e crise, sete anos depois, o casal se mantém ostensivamente unido. Desde que se mudaram para a Califórnia, eles criam dois filhos longe dos olhos da mídia e construíram, com erros e acertos, um ecossistema próprio de imagem: uma fundação (Archewell), parcerias com plataformas de streaming e editoras, e uma presença pública cuidadosamente moldada — ora humanitária, ora midiática. Há quem critique a superexposição ou a oscilação entre a busca por privacidade e o uso estratégico da própria biografia como produto. Mas é inegável que eles conseguiram preservar o núcleo da relação em meio ao furacão que os cerca.
A figura de Harry, o príncipe rebelde desde a juventude, ganhou novos contornos após o lançamento de sua autobiografia, Spare. Ali, ele narrou com detalhes não apenas os traumas da infância e da perda da mãe, Diana, mas também seu profundo desconforto com a hierarquia real, que o colocava sempre como o "reserva", o que sobra, o que cede. Ao lado de Meghan, ele parece ter encontrado não apenas uma companheira, mas uma plataforma de afirmação pessoal e emocional. Isso tem sido fonte de muitas versões sobre fatos que apenas eles e a Família Real realmente conhecem.
Já Meghan, embora constantemente criticada por setores mais conservadores da opinião pública, segue como um enigma. Não há como negar que tem carisma, e hoje é uma das mulheres mais faladas — e julgadas — da década. O fato de estar em constante rota de colisão com uma estrutura de poder que jamais a aceitou plenamente é outra fonte de suspeita e críticas. Por isso, mesmo sete anos depois, ela ainda provoca reações intensas — admiração, rejeição, empatia, ressentimento — como poucas figuras públicas são capazes de provocar.
Não há sinais, ao menos por ora, de que Harry e Meghan pretendam retornar ao Reino Unido. A distância física e simbólica é quase irreversível, especialmente após a morte da rainha Elizabeth II e a ascensão de Charles III, com quem o casal mantém uma relação tensa, ou, mais corretamente, não mantém ligação. Nem mesmo a recente derrota de Harry nos tribunais britânicos, no processo que movia para garantir proteção policial pessoal em solo britânico, parece alterar essa equação, ao contrário, só piorou o que estava ruim.
O que restará, talvez, seja o impacto cultural e psicológico que a união entre Harry e Meghan provocou. Ela escancarou os limites da monarquia moderna, revelou fissuras internas, forçou discussões sobre racismo, colonialismo, gênero e identidade, e reacendeu, para uma nova geração, a figura de Diana — agora, não como lembrança nostálgica, mas como símbolo vivo de ruptura.
Sete anos depois, Meghan e Harry seguem como um casal de paradoxos e um espelho do século 21 — com seus traumas expostos, sua politização da intimidade e sua conversão do privado em espetáculo. Se a monarquia britânica é um vestígio vivo do século 19 tentando sobreviver no TikTok, Meghan e Harry são produtos genuínos da cultura do streaming, das entrevistas-acontecimento, das marcas pessoais com propósito. O casamento deles já não é uma fábula — é um estudo de caso sobre os limites da tradição num mundo que exige autenticidade e conexão emocional. Talvez não tenham transformado a monarquia, mas com certeza a obrigaram a se ver de frente. E isso, por si só, é histórico...

Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.