Justiça britânica rejeita último recurso de Príncipe Harry por segurança
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Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana
A Justiça britânica rejeitou, nesta sexta-feira (2 de maio), o recurso do príncipe Harry contra a decisão que negou a ele o direito de receber segurança armada do Estado durante suas visitas ao Reino Unido. O duque de Sussex tentava reverter a decisão de 2020, quando a proteção oficial foi suspensa após ele e a mulher, Meghan Markle, deixarem a função de membros seniores da família real.

Ao apresentar seu recurso, Harry alegava que corria risco de vida e que a retirada da segurança era ilegal e irracional. Seus advogados argumentaram que ele deveria poder pagar, do próprio bolso, por proteção policial quando estivesse em solo britânico. A Justiça, no entanto, entendeu que não cabe a indivíduos contratar agentes armados do Estado como um serviço privado — e que a decisão do governo britânico, tomada por um comitê responsável por definir níveis de proteção a figuras públicas, foi legal, proporcional e não discriminatória
Com a nova derrota, o príncipe não pode mais apelar dentro do sistema judicial do Reino Unido. A decisão da Corte de Apelação é definitiva nesse contexto. Em tese, ele ainda poderia tentar levar o caso à Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo, se alegasse violação de direitos fundamentais, como o direito à vida ou à segurança. Mas esse tipo de recurso internacional é raro, difícil e com baixíssimas chances de sucesso, sobretudo porque o tribunal europeu só intervém em casos de violação grave e clara — o que dificilmente se aplica a uma decisão administrativa tomada dentro da legalidade e da margem de manobra do Estado britânico.
Mas, como tudo relacionado ao duque de Sussex, esse não era apenas um caso jurídico. É um drama que envolve status, trauma, desejo de pertencimento e, sobretudo, narrativa. Mais do que proteção física, ele parece buscar uma reparação emocional -- a validação de que sua vida, marcada pela vigilância pública, pelo luto precoce e pelo sentimento de exclusão, merece ser protegida. Ao exigir segurança, ele exige cuidado, reconhecimento, amor. Ao acionar os tribunais, processa não apenas o Estado, mas a própria história.
Para o cidadão comum, sua exigência soa como privilégio desmedido: por que pagar com dinheiro público a segurança de alguém que deixou voluntariamente seus deveres e vive no exterior? Mas para Harry, trata-se de uma questão existencial: ele ainda é o filho do Rei, ainda é alvo de ameaças, ainda é uma figura pública -- e, em sua fantasia, ainda está em perigo.
O paradoxo é que, ao rejeitar a instituição, Harry continua se definindo por ela. Processa a herança ao mesmo tempo em que lucra com ela. Transforma sua dor em documentários, entrevistas, livros. Sua história é vendida como redenção, mas atravessada por contradições que não passam despercebidas. Ainda assim, é difícil não reconhecer a dimensão humana desse gesto. O tribunal pode ter rejeitado sua petição, mas não pode julgar o que está em jogo no plano simbólico. Talvez Harry nunca consiga vencer legalmente. Mas continua lutando por algo que é, no fim, universal: o desejo de ser visto, protegido e amado.
Com a decisão final da Justiça britânica, o que resta é a certeza de que, legalmente, não há mais caminho de volta. E, com isso, dificilmente haverá também qualquer reconciliação com o pai ou com o irmão. Para Harry, essa derrota não representa apenas a perda de um recurso judicial, mas a confirmação de um abandono que ele tenta reverter desde a infância. Sem novas instâncias para recorrer, o príncipe não aceitará o silêncio -- podemos, portanto, nos preparar para novas ondas de acusações, desabafos e memórias que serão tornadas públicas. Porque, no fundo, sua luta não é apenas por segurança: é por reconhecimento. E talvez esse seja o verdadeiro veredicto que ele ainda espera ouvir.

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