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Os Sussexes em perspectiva: entre segurança, família e futuro incerto  

Por: Ana Claudia Paixão - via Miscelana

Em geral, a Páscoa é um período de perdão, de recomeço. Mas para a Família Real britânica, nem mesmo seis anos de conflito (cinco deles públicos) parecem esgotar acusações ou "revelações" do campo do Príncipe Harry e Meghan Markle.

Uma das questões centrais que ilustram a convicção do Príncipe Harry de que foi deliberadamente traído e "forçado a ficar" está na controvérsia sobre seus arranjos de segurança. A crença de Harry de que sua segurança foi cortada como uma tática para restringi-lo ou puni-lo reflete uma percepção profundamente pessoal e dolorosa. Ele esperava — ou talvez desejava — que sua segurança fosse mantida ou até mesmo reforçada a um nível comparável ao de seu irmão, Príncipe William, apesar de, dentro da instituição real, os papéis e proteções serem claramente definidos e vinculados ao status oficial. William é o herdeiro da Coroa e Harry, o sobressalente.

Príncipe Harry e Meghan Markle.
Príncipe Harry e Meghan Markle. Imagem: Reprodução

O papel do monarca nas decisões de segurança

Quando a falecida Rainha Elizabeth II expressou o desejo por uma "segurança robusta" para Harry, essa afirmação carrega um peso simbólico significativo, mas deve ser entendida dentro do quadro de uma monarquia constitucional, onde a influência do monarca é importante, porém limitada pelos protocolos institucionais. Tal pedido provavelmente funcionou como uma diretiva forte para manter um alto nível de proteção a Harry, e não como uma ordem absoluta e unilateral garantindo uma segurança inalterada ou ampliada, independentemente da mudança de seu papel real. O que o Governo britânico defende é que está atendendo ao pedido da Rainha e fornecendo a Harry (e, se fosse o caso, à família dele) a segurança "adequada" tanto à posição quanto ao risco que possam enfrentar.

Os arranjos de segurança para membros da família real seguem regras rígidas, que refletem o status, as funções oficiais e o risco percebido. A decisão de Harry de se afastar dos deveres reais seniores afetou logicamente seu direito a certos privilégios, incluindo proteções reforçadas. A expectativa de que a segurança permanecesse fixa ou melhorasse automaticamente sempre pareceu pouco realista, a não ser para ele. O monarca, como chefe de Estado, não "manda" por comando arbitrário nesses assuntos — trata-se de um sistema complexo envolvendo múltiplas agências e protocolos já estabelecidos.

O pânico de Harry tinha uma justificativa muito real e próxima: quando se divorciou de Charles, a Princesa Diana teve sua segurança reduzida e é indiscutível que, sem a proteção do Estado, mesmo em férias pessoais na França, ela ficou exposta e faleceu. A Rainha sofreu um dos períodos de pior baixa de popularidade justamente por ter seguido as regras da Instituição à frente do que sua ex-nora claramente precisava. É, portanto, lógico que, lembrando a Rainha do risco de que "a história se repetisse", ela tenha feito a recomendação que foi ignorada (na perspectiva de Harry).

O papel do monarca é significativo como guardião da tradição e da estabilidade, mas a visão de Harry de que o Rei poderia simplesmente resolver ou reverter sua situação de segurança pela vontade própria não está alinhada com a realidade constitucional. Esse descompasso de expectativas entre Harry e a instituição está no cerne de seu profundo sentimento de traição, que para ele parece intransponível. E, claro, isso alimenta seus críticos a ressaltar a instabilidade emocional do príncipe, chegando a questionar sua índole, supondo que sua insistência seja um capricho ou falta de entendimento de como funciona a Monarquia. A meu ver, é resultado de uma combinação complexa: indiferença institucional, limitações emocionais e interpretações divergentes.

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Conflito de perspectivas dentro da família

Essa situação exemplifica o confronto mais amplo e profundo de perspectivas dentro da família. Poucos parentes passam por divergências tão radicais e públicas em percepções, valores e prioridades. De um lado, a instituição real enfatiza tradição, discrição, hierarquia e responsabilidade coletiva. Do outro, a abordagem de Harry e Meghan destaca autonomia individual, transparência, defesa da saúde mental e ruptura com antigos rígidos protocolos.

Essas visões opostas vão além da segurança ou dos títulos — atingem a própria identidade e função da monarquia no mundo moderno e as identidades pessoais dos envolvidos. Essa divisão profunda resultou em conflitos públicos contínuos, tempestades na mídia e feridas emocionais duradouras.

O que o futuro pode reservar

Dada a profundidade dessas diferenças, uma resolução rápida ou fácil parece improvável. A reconciliação exigiria uma vontade genuína de todas as partes para reconstruir a confiança, compreender as diferentes perspectivas e fazer concessões. A monarquia tradicional é inerentemente cautelosa e lenta para mudar, enquanto a abordagem moderna e pública dos Sussexes desafia fortemente o status quo. Muito foi dito indiretamente pelo silêncio oficial da Família Real e abertamente por Meghan e Harry em entrevistas, livros, posts, discursos, documentários, podcasts, etc.

Por isso, no curto prazo, as tensões provavelmente continuarão, marcadas pela intensa atenção da mídia e debates públicos. No médio a longo prazo — potencialmente anos ou décadas — o tempo, a mudança geracional e os papéis em evolução dentro da família real podem abrir espaço para entendimentos mais discretos ou uma trégua. Porém, uma reconciliação completa que restaure relações próximas e um propósito compartilhado exigirá muita cura e expectativas alinhadas. Improvável é a palavra que vem à mente.

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Seria, dizem os especialistas, a hora de Harry reconhecer que não tem como esperar outra reação de seus parentes e que está tudo bem. A escolha foi inevitável, tem sido feliz, mas tem consequências. Algo que apenas Harry parece não aceitar. Meghan Markle já está no presente e no futuro: fazendo o que gosta, crescendo e investindo na "alegria", como diz. Falta a Harry fazer o mesmo. Será que consegue?

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Imagem: Divulgação

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do BOL

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