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Aline Ramos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Liziane Gutierrez pode e deve ser criticada, mas não pela aparência física

Reprodução / Playplus
Imagem: Reprodução / Playplus

Colunista do UOL

16/09/2021 09h03

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Liziane Gutierrez tem inúmeros defeitos, mas o corpo e o rosto dela não são um deles. A modelo de 35 anos é uma das participantes de A Fazenda 13, e tem sido alvo nas redes sociais de comentários maldosos sobre a sua aparência.

As críticas, principalmente ao rosto dela, têm sido cruéis. Mesmo que Liziane não possa ler no momento, essas opiniões ferem a sua imagem e podem ter grande impacto nela assim que sair do reality show.

Procedimentos mal-sucedidos

A modelo já gastou cerca de R$ 300 mil em cirurgias e intervenções estéticas. Porém, algumas deram errado. Em 2018, durante procedimento de harmonização facial, foi aplicada uma quantidade excessiva de produtos. Obviamente, o resultado não foi o esperado, e Liziane precisou passar por operações para reparar o rosto, que ficou deformado.

As consequências do erro seguem visíveis no rosto da modelo, mas quem tem respondido por isso é ela e não o médico responsável pelo procedimento mal-sucedido.

"Body shaming"

A prática de atacar uma pessoa verbalmente por conta de sua forma e aparência física, com o intuito de deixá-la com vergonha de seu corpo, tem nome: "body shaming". Apesar da expressão recente no Brasil, o ato não é novidade. Todo mundo já foi alvo, presenciou ou fez comentários negativos sobre a aparência de outra pessoa. O termo existe justamente para deixarmos de normalizar esse comportamento.

Em alguns comentários sobre Liziane, é evidente o desejo de que ela sinta vergonha de si. É curioso como poucas pessoas se questionam por que a aparência do outro as incomoda tanto.

Críticas possíveis

Há motivos suficientes para fazer críticas à Liziane. O principal e mais recente é por ter sido flagrada em uma festa clandestina em meio à pandemia. Após a força-tarefa interromper o evento, a modelo xingou os policiais e foi preconceituosa com moradores de favelas.

É possível criticar a modelo sem envolver a aparência dela. Um erro não precisa justificar o outro. Afinal, quando atacam Liziane por sua aparência, outras pessoas que passaram pelos mesmos problemas também sentem o impacto dos comentários negativos.

Pressão estética

O debate sobre os riscos de cirurgias plásticas e procedimentos estéticos é necessário e tem sido cada vez mais recorrente. Por isso, atacar uma pessoa que é vítima de uma estrutura social que pressiona mulheres a terem corpos irreais não me parece o melhor caminho para essa conversa.

Alguém pode até se sentir superior à Liziane por não ter gastado rios de dinheiro com plásticas, mas, no fundo, pode sofrer a mesma pressão estética, ainda mais se for mulher.

Corpo não é espaço público

Ninguém deve falar sobre o corpo do outro como se fosse um espaço público. O nosso corpo carrega histórias, traumas e identidade. Por isso, mexer com ele também significa mexer com o psicológico.

Então, toda vez que você sentir vontade de fazer um comentário do tipo, se faça as seguintes perguntas:

  1. Eu gostaria se fosse comigo?
  2. Se eu não falar, algum desastre vai acontecer?
  3. É da minha conta?

Se as suas respostas forem "não", evite fazer o comentário. A empatia e o bom senso agradecem.