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Aline Ramos

Record inclui feminismo em Gênesis, mas com segundas intenções

Reprodução / Record TV
Imagem: Reprodução / Record TV

Colunista do UOL

22/01/2021 18h16

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É impossível imaginar que as filhas de Adão e Eva eram feministas e independentes. Porém, é assim que Gênesis, a nova novela bíblica da Record, tem retratado Renah e suas irmãs.

Na novela, Adão deixa clara a sua preferência pelos filhos Caim e Abel enquanto rejeita as mulheres da família. Essa relação de poder parece mais próxima do esperado sobre a primeira família bíblica. O que surpreende mesmo é como Renah, a irmã mais velha, reage diante do descaso e da atitude do pai.

Renah contesta os privilégios dos irmãos mais velhos, mas é repreendida. Sem sucesso, também tenta abrir os olhos de Eva. Exausta com a diferença de tratamento, ela lidera uma espécie de rebelião e abandona a família, levando junto as irmãs mais novas. Esse conflito não é relatado na Bíblia.

As irmãs constroem um acampamento em que Renah é a líder. A principal regra do grupo é não depender de homens ou ser submissas a eles. Ali, quem manda são as mulheres, que devem trabalhar em todas as funções. Além disso, elas possuem tempo para descansar e brincar, como os irmãos faziam. Isso te lembra alguma coisa?

O que diz a Bíblia

Ainda há muita água para rolar com Renah e as irmãs, mas essa versão da história é curiosa porque a Bíblia mal apresenta relatos sobre as filhas de Adão e Eva. Ao todo, o casal teve 33 filhos e 23 filhas, sendo Caim, Abel e Sete os únicos mencionados nominalmente.

Mesmo que tenha a Bíblia como base, Gênesis é uma obra ficcional em que histórias desse tipo podem e devem ser encaixadas. As lacunas que existem na Bíblia, como a falta de relatos sobre as filhas de Adão e Eva, dão abertura para esse tipo de interferência e interpretação da história.

Objetivo é questionar feminismo

Colocar frases e ideais feministas na trama é uma aposta interessante. Com certeza, aproxima o telespectador e mantém a novela atualizada com as discussões atuais. Feminismo não é mais um movimento de nicho.

Porém, no blog de Gênesis no R7, a mensagem que a Record deseja passar com essa discussão é clara. A intenção é provar ao telespectador que a tal "guerra dos sexos" foi fruto de uma confusão e que o feminismo não é a melhor saída, já que as personagens vão passar por maus bocados.

Elas viverão o que muitas mulheres já tentaram evitar através da solidão e curtição e que nunca conseguiram, a carência falar mais alto. Feminismo ou mal-entendido?

Seria interessante deixar o telespectador deixar decidir sozinho. Mas, infelizmente, a inclusão de um tema inovador como o feminismo numa novela como Gênesis é só uma forma de transmitir velhas mensagens.