Topo

Aline Ramos

Ataques à Blue Ivy, filha de Beyoncé, desenham como racismo afeta crianças

Blue Ivy brilha em clipe da mãe, Beyoncé - Reprodução/Youtube
Blue Ivy brilha em clipe da mãe, Beyoncé Imagem: Reprodução/Youtube

Colunista do UOL

12/12/2020 16h02

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Blue Ivy tem apenas nove anos e já é um fenômeno. Na última sexta-feira (11), a Academia do Grammy adicionou oficialmente o nome da filha de Beyoncé e Jay Z aos créditos do clipe "Brown Skin Girl". A decisão aumenta as chances dela ganhar o prêmio pela primeira vez no ano que vem.

Por que isso importa

A notícia é importante porque quando Beyoncé foi indicada à categoria de melhor videoclipe no principal prêmio da indústria musical, Blue Ivy ficou de fora. E no lançamento do clipe, foi Blue Ivy que roubou a cena. A garota está na produção e também canta um trecho da música.

Nos últimos anos, o Grammy tem recebido inúmeras críticas por premiar, na maioria das vezes, artistas brancos. Ter mais uma garota negra concorrendo a um dos prêmios já é um avanço por si só.

Ataques racistas

Porém, a boa notícia veio com um gosto amargo. Com a repercussão, surgiram muitos comentários negativos sobre a aparência de Blue Ivy. Os principais foram na publicação do POPline, site focado em cultura pop. O portal já se posicionou.

Blue Ivy foi chamada de feia de forma massiva por muitos adultos. Isso mesmo, um grupo de pessoas adultas decidiram atacar uma criança da forma mais perversa possível. A garota tem sido chamada até mesmo de macaca.

É curioso que isso aconteça numa notícia que envolva "Brown Skin Girl", uma música que celebra a beleza de mulheres e garotas negras e todos os seus tons de pele. O clipe foi celebrado por inverter a lógica de que pessoas negras não são bonitas, um estereótipo racista muito forte.

Estereótipos racistas

Infelizmente, essa não é a primeira vez que Blue Ivy sofre ataques racistas. Sempre que a garota fica em evidência, surgem comentários preconceituosos. Há quem diga que ela é feia por ter os mesmos traços do pai, Jay Z. O cantor possui traços negróides, como nariz largo e lábios grandes. Além disso, ele tem a pele com um tom mais escuro do que Beyoncé.

Se você reparar bem, a maior parte dos negros - principalmente mulheres - que tem destaque midiático e são celebrados pela beleza são aqueles que fogem dessas características presentes em Jay Z e Blue Ivy.

Não é raro que mulheres negras sejam elogiadas por possuírem "traços finos" e não serem "tão escuras". Elogios que, na verdade, são verdadeiras ofensas racistas. Esse tipo de comentário é o que leva muitas delas a apelar para procedimentos estéticos com o objetivo de se adequar ao que é considerado padrão pela sociedade.

Racismo na infância

Certa vez, perguntei para as pessoas negras em minhas redes sociais quando foi que elas perceberam que eram negras. Com as respostas, pude perceber que muitas histórias tinham uma semelhança: os ataques racistas na infância.

Ser uma garota negra como Blue Ivy é estar passível de todo tipo de ataque, seja de outras crianças ou de adultos racistas. As ofensas, em sua maioria, são focadas na aparência e impactam a autoestima dessas crianças por toda a vida.

Piadas como "cabelo de bombril" e xingamentos como "macaca" são ensinados por adultos. Nenhuma criança nasce racista, ela aprende a ser. Ou seja, as mesmas pessoas que fazem esses comentários maldosos sobre a filha de uma cantora pop são as que colaboram com a perpetuação do racismo em nossa sociedade.

Os comentários racistas dos brasileiros sobre Blue Ivy talvez não cheguem a ela, mas no dia a dia atingem em cheio as crianças negras que estão ao nosso lado.