Topo

Aline Midlej: 'Ser âncora de TV é colheita minha e de mulheres que represento'

Siga o UOL Mov no

Luzara Pinho

Colaboração para Universa

06/04/2022 17h00

Faz seis meses que Aline Midlej assumiu o comando do "Jornal das Dez", exibido na GloboNews, e sua presença à frente da atração é marcante. A jornalista de 39 anos já se tornou uma referência da tevê e faz parte de uma geração que não deixa de se posicionar frente aos temas urgentes. "Sou muito intuitiva em tudo que faço e isso envolve riscos. Desde sempre, fui uma jornalista que me posiciono. Dar opinião é diferente de se posicionar, principalmente quando a gente trata de temas que são da ordem do civilizatório. Há questões que são humanitárias, de respeito à vida, à dignidade, à liberdade de ser o que a gente quer ser. Isso é inegociável", diz.

Em entrevista à maquiadora e colunista de Universa Fabi Gomes no novo episódio do "E Aí, Beleza?", Aline se diz uma mulher "incomodada, a favor de fazer um jornalismo mais humanizado. "Acho que a vida tem que ser no improviso", disse, ao final do programa. Ocupando cada vez mais espaço em frente às câmeras, em setembro do ano passado ela passoua integrar o rodízio da bancada do "Jornal Nacional". E ocupar esses espaços sendo uma mulher negra é celebrar a importância da representatividade.

É uma colheita minha e de muitas outras mulheres que represento", pontua. "Quando chego em qualquer lugar, principalmente em um estúdio de televisão, estou carregando história, ancestralidade, luta, resistência e resiliência de muitas mulheres que abriram caminhos para mim.

Aline Midlej - Divulgação - Divulgação
Aline Midlej nos estúdios da GloboNews
Imagem: Divulgação

Aline conta como trabalhar frente às câmeras interfere na sua autoimagem. "Para estar ali, preciso estar cuidada, saudável, com energia, não só com a 'pele boa'; mas com o meu interior, preciso transparecer que estou bem para poder me conectar com as pessoas ao vivo e contar as histórias que tenho que contar".

Confira os principais trechos da conversa.

Universa: Quando você começou a ser ver no vídeo, a sua relação com a beleza e a autoimagem mudou de alguma maneira?
Aline Midlej: É natural que isso aconteça e tem a ver também com o meu processo de amadurecimento, como mulher ficando mais velha, mais vivida. Na minha profissão, ainda tem a relação com vídeo e o papel que exerço em frente às câmeras.

Quando seu rosto e imagem passam a ser ferramenta de trabalho, mas a favor da informação, faz uma baita diferença. Passei a ter um olhar mais cuidadoso comigo, mas foi mais desafiador no sentido de entender o que é beleza. E também ter muito cuidado para não entrar em um registro de cobrança de um padrão que ainda existe na televisão.
Precisava estar saudável, com energia e não só com a pele boa. Meu interior precisava transparecer que eu estava bem para poder me conectar com as pessoas ao vivo e contar as histórias que tinha que contar.

Você tem uma rotina de beleza para estar se sentindo essa potência no vídeo?
Eu entendi que existe algumas funções de bem-estar com o meu corpo, que são inegociáveis para que eu tenha minimamente resultado, inclusive no trabalho. Quando eu tinha 30 anos, eu já sabia que era importante dormir bem, mas uma noite mal dormida não me impactava tanto. Hoje, uma noite mal dormida equivale a se eu tivesse tomado 100 garrafas de vinho. Dormir bem, para mim, é uma prática de bem-estar, uma preocupação diária. Sempre tive uma relação boa com o exercício e com a alimentação, pratiquei yoga, ginástica, sempre me cuidei.

Por fora, comecei a valorizar um pouco mais os creminhos, estou cuidando, escolhendo mais. E faz diferença, principalmente nesta prevenção. Eu estou começando nesse processo de sentir as primeiras mudanças na minha pele, uso muita maquiagem no dia a dia. Nunca dormi de maquiagem durante a semana, mas já tive minhas dormidas de maquiagem de festa, de fim de semana? Quem viveu a vida, dormiu de maquiagem, né?

Aline Midlej em foto escolhida para a entrevista no 'E Aí, Beleza?' - Reprodução - Reprodução
Aline Midlej em foto escolhida para a entrevista no 'E Aí, Beleza?'
Imagem: Reprodução

Pedimos para você escolher uma foto que você bate o olho e se sente orgulhosa de si. Fale sobre ela.
Foi meu marido [o jornalista Rodrigo Cebrian] que tirou essa foto. A gente estava de férias em Boipeba (BA) no ano passado, eu estava ali totalmente entregue, incorporada à natureza. E poderia ser qualquer foto que eu estivesse no mar e perto da natureza. Sempre amei o mar, sou filha de nordestinos, passei a infância indo para a Bahia e Pernambuco. Aprendi a nadar muito cedo, peguei 'jacaré' desde nova com o meu pai. Amo estar perto do mar, tenho uma grande deferência com Iemanjá. Tudo que esteja relacionado me faz me sentir muito forte, empoderada no sentido da minha inteireza feminina, humana.

Eu medito no mar, agradeço, fico um tempo na água, boio, olho, lembro de onde venho, que pertenço a isso e que há coisas maiores do que a minha própria história e meu trabalho.

Às vezes, a gente fica muito voltado para o trabalho, para o que a gente tem que entregar, o que a gente representa ou acha que representa, essa loucura da cobrança, desse universo, principalmente, com as redes sociais.

Você entrou no rodízio de âncoras do "Jornal Nacional". Além disso, apresenta o "Jornal das 10" na GloboNews. O que estar à frente de alguns dos maiores telejornais do Brasil representa para você como mulher negra?
Quando chego em qualquer lugar, principalmente em um estúdio de televisão, estou carregando história, ancestralidade, luta, resistência e resiliência de muitas mulheres que abriram caminhos para mim. Eu me sinto atravessando esse portal a cada conquista minha. É um resultado de um trabalho individual, mas que está dentro de um coletivo que tornou possível a chegada de mulheres como eu nestes espaços de maior visibilidade. Eu sempre falo que a negritude não me define, ela me compõe. Claro que o que me levou para o "Jornal Nacional" foi a minha entrega, o meu trabalho, a minha ida para lá tem a ver com isso, com o que represento como comunicadora e jornalista, mas claro que estou nesse pacote todo, da Aline, que representa também essa mulher negra com tudo que trago da minha história e que acredito.

Você sempre se identificou como mulher negra? De que forma foi se investindo nessa identidade?
Fui me descobrindo negra, o que acho muito comum em mulheres com a minha história. Sou filha de uma relação interracial em que a negritude também foi se mostrando ao longo do processo de entender quem eu era. Comecei a ler, a me politizar, ainda no Ensino Médio. Me descobrir mulher negra é muito bonito. Traz muitas dores, muitos processos, mas também tem uma beleza muito grande de entender a mulher que sou e o que carrego dentro de mim, no meu sangue, nas minhas energias e no meu processo familiar.

Mas é um ganho de consciência que vem com o tempo. Ter generosidade com a gente nesse processo é importante.
Falo isso para muitas mulheres que me procuram nas redes sociais, me enxergam na televisão e se enxergam, porque são como eu, que vêm de uma família interracial em que questões como o racismo foram faladas de maneira clara e frequente. Isso vai criando questionamentos na gente. A questão do racismo, da representatividade, é tão ampla dentro dela mesma.

Fico feliz em representar uma parte disso e falar que é um processo contínuo. Temos que respeitar o tempo de cada um. O engajamento e a consciência disso vem com a vivência, principalmente em um país tão racista como o nosso, em que a seletividade também se dá pelo tom da pele.

Aline Midlej no Jornal Nacional (Reprodução/TV Globo) - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
A apresentadora na bancada do "Jornal Nacional" (Reprodução/TV Globo)
Imagem: Reprodução / Internet

Você fica com receio de falar sobre política, expor opinião em um país tão polarizado em ano de eleição?
Eu sou muito intuitiva em tudo que faço e acho que isso envolve riscos. Desde sempre, fui uma jornalista que me posiciono. Dar opinião é diferente de se posicionar, principalmente quando a gente trata de temas que são da ordem do civilizatório. Há questões que são humanitárias, de respeito à vida, à dignidade, à liberdade de ser o que a gente quer ser, de amar quem a gente quiser. Isso é inegociável. Me posiciono mesmo, principalmente em uma pandemia. Mas é claro que, em ano de eleição, estamos indo para outro nível de preocupação.

Vivemos uma polarização exacerbada no Brasil que vem se amplificando. Essas eleições serão desafiadoras para o jornalismo de qualquer forma, para qualquer âncora, para a própria Justiça Eleitoral, que vem tomando posicionamentos inéditos na sua história em função do retrospecto que o Brasil vive nesse campo de segurança em relação ao processo eleitoral, de assegurar que o processo democrático seja preservado.

Estamos no "esquenta" das eleições e cada dia tem sido uma oportunidade de observar com mais cuidado. Mas, sem dúvida, uma chave está virando em todos os âncoras que de fato têm o compromisso com a verdade e com o interesse público. É continuar aprendendo e fazendo, sempre pensando na responsabilidade. Não é para nós, é para o outro, para o eleitor, para o brasileiro ter clareza do que está acontecendo e tomar as suas decisões. Temos um cuidado maior porque a temperatura vai subir cada vez mais e até onde esse termômetro poder chegar, ninguém sabe.

O que tem na sua nècessaire?
Como uso muita maquiagem durante a semana, no fim de semana eu tento ficar mais clean. Nas "olheirinhas" sempre passo corretivo, uso um protetor com pigmento para deixar a pele mais uniforme, mas não uso mais nada do que isso. Para botar maquiagem no fim de semana, tem que me chamar para uma festa muito incrível.

Na nécessaire, glosszinho cor de boca, absorvente, kit escova, fio dental, corretivo. Quando eu comecei na televisão, há 15 anos, era muito difícil achar maquiagem nacional bacana para meu tom de pele. Mesmo gringa? Ou ficava muito cinza, ou muito vermelha, terrosa, não era legal. Agora, é alegria total! A maioria das minhas maquiagens são nacionais e adoro comprá-las. Acho legal valorizar esse trabalho que vem sendo feito para todo tipo de pele, que é de fato o que o Brasil representa.

Você se apaixonou pelo seu marido ao vivo? Como foi essa história?
Isso acontece uma vez na vida ou não acontece, né? Hoje ficou claro para mim que me apaixonei por ele no ar, mas na hora não entendi muito bem, estava confusa. Até porque o Rodrigo já era meu colega de GloboNews, mas nunca tinha parado para observar com atenção.

Aline Midlej e Rodrigo Cebrian - Reprodução / Instagram - Reprodução / Instagram
Aline Midlej e o marido, Rodrigo Cebrian
Imagem: Reprodução / Instagram

Ele foi participar do meu jornal, quando ainda apresentava o "Edição das 10", de manhã, para contar e divulgar o programa que o canalia exibir da viagem dele para o Irã. Ele deu entrevista para a gente, estávamos em estúdios e cidades diferentes. Ali virou uma chave, mas demorei para entender o que estava acontecendo e acho que ele também. Começamos a nos falar por causa do programa, trocar ideias do trabalho, nos seguimos nas redes sociais. Fomos entendendo que tínhamos nos apaixonado. É um processo que vai acontecendo e essa é a beleza, você entender os sinais da vida, as mensagens que estão ali e seguir o coração com responsabilidade, com cuidado. Tenho uma grande história de amor e aqui estamos, quatro anos depois, construindo uma vida juntos.

Bate bola.

Uma série que você maratonou?
"Maid"
O que mais te incomoda nas pessoas?
Superficialidade
Qual prato te lembra a infância?
Cuscuz de milho
Que novo talento você gostaria de ter?
Paciência
Que notícia você mais espera dar em 2022?
O fim da pandemia