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Zezé Motta, Teresa Cristina e Juliana Alves: 3 gerações de mulheres negras

Mais Botequim da Teresa
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Bruno Calixto

Colaboração para Nossa, do Rio de Janeiro

12/11/2021 11h00

Com a infância dividida entre o Morro do Cantagalo e o Leblon, a atriz e cantora Zezé Motta não sabe sambar. É o que ela sempre dizia à sua mãe e, agora, revela a todo o Brasil.

"Brincava com minha santa mãezinha que não sou boa de samba por causa desta história do Leblon, se tivesse ficado apenas no Cantagalo, eu seria uma exímia sambista", brinca a artista, às gargalhadas e bem à vontade no "Botequim da Teresa".

Comandado pela anfitriã Teresa Cristina, o episódio desta semana traz também a atriz Juliana Alves, num encontro de três gerações de mulheres negras, ao sabor da cestinha de hauçá (prato feito com arroz de hauçá, que tem origem no Norte da Nigéria) do Dida Bar, casa de comida africana, instalada na zona Norte do Rio.

Zezé Motta, Teresa Cristina e Juliana Alves no "Botequim da Teresa" - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Zezé Motta, Teresa Cristina e Juliana Alves no "Botequim da Teresa"
Imagem: Zô Guimarães/UOL

Entre o morro e o asfalto

Depois de relembrar os dias de semana no Leblon e os sábados e domingos no Cantagalo, Zezé Motta compartilha um pouco mais da infância, entre o morro e o asfalto.

"Meus pais moravam no Morro do Cantagalo, só que minha mãe, modista na época — hoje é chamado de estilista —, tinha que ir à casa das clientes. Passava o dia inteiro fora. Meu pai, músico, era motorista de ônibus escolar durante a semana e músico nos fins de semana. Com apenas 3 anos, eu não podia ficar sozinha. Então passava de segunda a sexta com um tio que era porteiro de prédio no Leblon", conta

Numa das passagens mais importantes do programa, Teresa Cristina provoca Zezé e Juliana, introduzindo assuntos mais espinhosos, como o sucesso de pessoas negras versus o reconhecimento dos brancos.

O incômodo em ver uma mulher negra linda, corpo escultural, talentosa e protagonista, numa época sem rede social", dirige-se à Zezé.

Zezé Motta no Botequim da Teresa - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Imagem: Zô Guimarães/UOL

"Ouvia umas coisinhas bem desconfortáveis. Assim que passei no teste para fazer Xica da Silva, a primeira nota que eu li foi: 'ela é feia, porém exuberante'", conta Zezé.

Emocionalmente não estava preparada, mas procurei meios de elevar minha autoestima. Tive o privilégio de ter sido aluna de Lélia Gonzalez de cultura negra, depois viramos amigas e irmãs"

Teresa revela que sempre se sente incomodada com situações do tipo: "numa novela, o casal preto é sempre pobre (a não ser Taís e Lázaro), e se for inter-racial, é porque vai falar de racismo".

"O Brasil é muito maior, tem muita potência, muito talento. Não merece isso", opina Juliana Alves, que estrela o filme "Correndo atrás", de Jeferson De. O longa estreou este ano e tem produção e elenco quase que inteiramente de negros.

Estamos construindo um cinema negro. A sétima arte sempre foi uma potência, mas falta estrutura. Jeferson De tem este olhar apurado, além de todo o resto, a equipe muito preta e trazendo uma estética e um humor verdadeiro, que não é caricata"

Juliana Alves no Botequim da Teresa - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Imagem: Zô Guimarães/UOL

O racismo e as redes

Para Teresa Cristina, "a pressa da branquitude em falar de racismo" dá a ideia de que é algo sendo resolvido. Gatilho para mais uma lembrança de Zezé Motta.

"Lembro de uma novela em que eu estava numa família de pessoas negras e que não se falava de racismo. Era tudo muito natural. Mas no meio da história, de tanto cobrarem do autor, isto acabou entrando na trama. A personagem da Camila Pitanga encontrou um namorado branco e aí não teve jeito", narra Zezé.

Juliana Alves concorda e diz que, no âmbito de ser antirracista, diante de toda pressão, "a internet veio para transformar a vida do racista num inferno".

Ela viraliza, denuncia e resolve aquele BO. Ninguém quer ser cancelado, mas muitas das vezes é para se livrar da culpa. Na maioria dos casos, não condiz com a realidade"

Antes de se despedirem — ao som de "A voz do Morro", de Luiz Melodia —, Juliana lembrou das lives de Teresa Cristina que, segundo ela, "salvaram a clausura".

"Uma força da natureza, uma potência. Encantamento e fortalecimento da nossa cultura. Uma mulher negra do samba sempre foi muito inspirador para mim. E você foi uma luz!"

Samba, série e Teresa

O "Botequim da Teresa" vai ao ar todas as sextas-feiras, às 11 horas, no Canal UOL e no YouTube de Nossa (inscreva-se já para receber os lembretes). Em cada episódio, Teresa Cristina recebe um convidado especial e ensina a fazer os petiscos clássicos de alguns do botequins mais famosos do Rio de Janeiro. O programa é uma coprodução de Nossa e MOV, a plataforma de vídeo do UOL.