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Mauro Cezar Pereira entrevista personagens de destaque do universo esportivo


O erro de Andreas na Libertadores e os desafios da psicologia no futebol

09/12/2021 19h33

Como lidar com a cobrança depois de cometer um erro que causou a frustração de milhões de torcedores e perda de um objetivo do clube? A falha de Andreas Pereira pelo Flamengo na final da Libertadores é um dos assuntos abordados pelo psicanalista Felipe de Moura Corrêa em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, que também fala sobre as barreiras ainda encaradas pela psicologia para se inserir no futebol brasileiro.

Felipe afirma que é importante que exista um trabalho psicológico no caso de Andreas para que que o jogador possa lidar com as cobranças que virão da torcida e da própria direção do clube e ressalta que em um caso como este o paternalismo e protecionismo por parte do Flamengo não são fatores que ajudam na sequência da carreira do atleta.

"Esse cara vai ser cobrado pela direção, ele não vai ser cobrado pela mídia, ele vai ser cobrado pela torcida, e aí ninguém tem controle de que nível isso vai atingir, não se tem esse controle. Essa cobrança ele vai receber, é importante que ele receba a cobrança da direção, que são os chefes dele, e o psicólogo pode atuar aí preparando esse cara para essa cobrança, fazendo entender que ele vai precisar suportar essa cobrança para seguir na carreira dele onde quer que ele vá. Se ele vai seguir no clube ou caso ele não vá seguir no clube", afirma o psicanalista.

"Psicólogo não precisa ser o cara que vai chegar com chicote, é até importante ele ter esse espaço para atuar. Vai chamar o cara e vai falar, até no caso, um cara que veio de fora, 'olha aqui, você vai lidar com isso, com isso, com isso, você cometeu um erro'. Vai preparar o cara para a cobrança que ele vai receber. Agora, paternalismo nessa hora não vai ajudar o clube, não vai ajudar a direção e não vai ajudar a carreira do jogador que pode eventualmente errar de novo", completa.

O especialista também fala sobre a dificuldade para um psicólogo que trabalha no meio do futebol, apontando que há muitas barreiras e muito preconceito, que se explica pela presença de ex-jogadores de futebol que não entendem o trabalho de psicologia como uma ciência que pode ter efeito desde que trabalhada sem visar resultados imediatos.

"Você ainda tem no futebol brasileiro muito ex-jogador e o Brasil, 90% dos ex-jogadores, são pessoas que infelizmente não tiveram acesso à educação, por exemplo. Você tem esses profissionais nas mais diversas áreas do futebol, técnicos, preparadores, eles estão todos ali. E quando a ciência entra, ela enfrenta muita dificuldade, ela suscita insegurança, e eu acho que é necessário o conhecimento daqueles sujeitos, como eles se relacionam, como eles se relacionam com a aprendizagem, como eles se relacionam com cobrança, como eles se relacionam com o incentivo, como eles se relacionam com a exposição, entre eles como isso acontece", afirma Felipe.

"Tem muitas variantes e um profissional da psicologia não vai fazer um trabalho consistente e com resultados em pouco tempo, ele vai precisar conhecer aquele contexto, aquele ecossistema, para poder pesquisar, observar, intervir e ter a intervenção dele respeitada, para que isso mude os rumos da coisa ali dentro", completa.

O psicanalista também fala sobre os técnicos que dizem agir como psicólogos e os riscos de não se dar a um atleta o tratamento adequado para um caso de depressão, como foi o de Michael, do Flamengo. Por fim, ressalta a importância de a psicologia se fazer respeitar no meio esportivo.

"Eu já ouvi isso da boca de alguns técnicos e de alguns outros profissionais também de outras áreas, 'eu tenho que ser um pouco de tudo, eu tenho que ser técnico e psicólogo'. Lamento, você não vai ser técnico e psicólogo, você pode tentar ter um olhar para a pessoa, mas você não vai ter uma intervenção técnica e depressão é uma doença, uma doença que demanda tratamento profissional", afirma Felipe.

"Se não tiver, se o Michael não tiver o tratamento profissional adequado, pode ser o técnico que for dando força, dando tapa nas costas, abraçando, jogando para o alto, botando foto da família, botando vídeo, não vai acontecer nada, ele não vai superar (?). É uma batalha pelo conhecimento, pela universidade, pela pesquisa, pela ciência, e a psicologia está inserida nisso, sempre esteve e enfrenta muitas dificuldades ainda. Se não vencer essa batalha, vai continuar tendo técnico dando fralda para jogador em preleção de final e achando que isso resolve", conclui.

O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.

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