Gringos contam o que mais gostam no país e que os brasileiros não valorizam
O calor quase que eterno de muitas cidades brasileiras é uma das características que faz brilhar os olhos de quem não nasceu no país, mas vem com a intenção de se estabelecer por aqui. Também são atributos valorizados pelos estrangeiros a gentileza de nosso povo.
No entanto, aos olhos dos gringos, o Brasil tem muitas outras qualidades, bem como defeitos, que acabam nem sendo percebidos pelos locais. E é sobre isso que os entrevistados do UOL falam a seguir.
Verão o ano todo
“Não tive nenhum tempo para preparar minha mudança para o Brasil, pois foi uma decisão emocional. Em 2010, estava aqui pela terceira vez quando conheci minha esposa, no Rio de Janeiro, durante uma festa. Me apaixonei, mas ela não gostava da ideia de namorar à distância. Então, decidi arriscar e ficar. Arrumei um emprego como professor e, apesar de ganhar pouco, consigo sobreviver. Hoje, moro em Laranjeiras, no Rio, e adoro, porque aqui é verão o ano todo e as pessoas são mais alegres. O que eu não gosto muito é da falta de educação dos usuários de metrô, especialmente às 18h. E também de ter que ficar ligado o tempo todo, para não ser assaltado. Acho que o brasileiro valoriza muito pouco a natureza que tem. O Brasil é um dos países mais bonitos que conheço, mas as pessoas não cuidam do meio ambiente. Diariamente, vejo gente jogando qualquer coisa pela janela da própria casa ou do ônibus. Também critico o baixo investimento em transporte sustentável, como trem e bicicleta, por exemplo. A prioridade é do carro e sempre há apenas uma pessoa dentro dele.”
Wouter Van Hoof, 33, professor de inglês, francês e holandês. De Mechelen, na Bélgica.
Vida cultural rica
“Me mudei para o Brasil por amor. Na época, meu namorado morava em Cuba e veio trabalhar aqui. A intenção era ficar apenas três meses, que é o tempo de duração do visto. Seria uma viagem bate-volta, até porque eu estava trabalhando na produção de um filme em Cuba. Mas acabei recebendo uma proposta de trabalho e decidi ficar. Isso já faz dois anos. Me casei e não tive dificuldade de sobreviver, porque o Brasil é um dos países mais fortes da América Latina no que diz respeito à indústria audiovisual. No início, o idioma foi a minha maior dificuldade, porque os brasileiros falam muito rápido. Por outro lado, o povo é bem receptivo e sociável e isso facilitou muito a minha adaptação. Cuba é muito quente, então, eu adoro o clima de São Paulo. Também amo a vida cultural: cinemas, exposições e museus. Gosto da diversidade brasileira. Mas detesto a poluição e o trânsito. Além disso, sei que o brasileiro espera por melhorias no transporte público, mas posso dizer que, comparado com Cuba, até que ele é bom.”
Mariana Masvidal, 26, produtora audiovisual. De Havana, Cuba.
Bom mercado profissional
“Pedi demissão do meu emprego na Itália para vir ao Brasil visitar um amigo e ficar durante três meses. Mas, quando o dia da volta chegou, estava apaixonado e namorando uma brasileira, além de ter feito muitos contatos profissionais. Então, cinco meses depois, voltei para o Brasil, me casei e, em 40 dias, já estava empregado. A língua foi meio difícil no início, porque cometi o erro de estudar o português de Portugal, que é bem diferente. Além disso, morando em São Paulo, também tive que aprender a lidar com a rotina de uma metrópole. A cidade onde eu morava na Itália é do tamanho de um bairro de São Paulo. No começo, me perdia várias vezes ao dia. Às vezes, ainda sinto falta do contato que existe entre as pessoas em uma cidade pequena. Mas, ao mesmo tempo, gosto muito da cultura latina. Também achei o mercado de trabalho muito bom, com excelentes profissionais. Eu tinha medo, no início, de não estar no mesmo nível das pessoas que encontrei por aqui. Os brasileiros reclamam muito do sistema mas, na Europa, tem muita coisa que não funciona tão bem. Um exemplo: aqui, os estudantes já podem fazer estágio desde o primeiro ano da faculdade. Na Itália, ou você estuda ou você trabalha.”
Nicola Papagni, 26, designer. De Bari, na Itália.
Pessoas trabalhadoras
“Em 2011, vim de Portugal para o Brasil com o objetivo de abrir uma empresa. Escolhi morar em Belo Horizonte, porque o plano era atuar em Minas Gerais. Apesar de falar português, a pronúncia do mineiro é muito diferente, então, sofri um pouco com isso. Também tive dificuldades com a burocracia daqui, que dificulta muito o dia a dia do cidadão. Abrir uma conta no banco, por exemplo, foi uma experiência complicada. Em compensação, formar uma equipe de colaboradores no Brasil foi motivador. As pessoas são trabalhadoras e se sentem responsáveis pela empresa. Gosto do clima com temperaturas entre os 25 e 30 graus e das paisagens fora dos grandes centros urbano. Entretanto, há pouco cuidado com o espaço urbano e com a manutenção dos edifícios. Percebo que os brasileiros valorizam pouco a história e a literatura do Brasil, que eu considero muito ricas.”
Pedro Pote, 58, economista e empresário. De Lisboa, em Portugal.
“Quando vim a trabalho para o Brasil, foram quatro meses para preparar a mudança. No entanto, como a minha esposa e eu não falávamos uma palavra sequer de português, a vida cotidiana foi um desafio. O que compensou é que todos os brasileiros que encontramos foram muito, mas muito solícitos e amigáveis. Mesmo quando nós não nos conseguíamos nos comunicar, as pessoas tentavam de tudo para nos ajudar a obter o que precisávamos. Desde 2014, quando me mudei para São Paulo, nunca tive qualquer problema por aqui, mas a segurança é uma preocupação constante, por causa de algumas histórias que ouvimos. Outro ponto é que precisei me adaptar aos produtos vendidos aqui, desde utensílios de cozinha até escovas de dentes, porque a qualidade é muito diferente. As coisas parecem quebrar mais facilmente e é necessário mandar para o conserto itens que acabamos de comprar. Algo que também não entendo é o fato de que os brasileiros gostam de frequentar, juntos, as mesmas praias nas férias. Em belas praias isoladas e intocadas, eu vejo muito menos brasileiros, parece que esses locais são menos valorizados.”
Wouter Vermeulen, 36, diretor comercial de companhia aérea. De Zeist, na Holanda.
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