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Arquitetura dá charme à cidade murada de Ávila, na Espanha

Fellipe Fernandes

Do UOL, em Ávila (Espanha)

29/08/2012 08h11

“Alma, hás de buscar-te em mim/ e a mim hás de buscar-me em ti.” Tais versos religiosos escritos por Santa Teresa de Jesus sobre sua relação com o divino podem também ser dedicados à cidade de Ávila, na Espanha, onde ela nasceu, cresceu e iniciou sua obra sagrada, e o que ela provoca naquele que a visita. A aproximação poética com a cultura medieval persistente em cada um dos monumentos e nas rotas históricas do lugar é uma forma de busca mútua pela vida que cada uma daquelas pedras testemunhou no decorrer dos séculos.


Assim que desci do trem, vindo de Madrid, já passeando pelas ruas de Ávila, lembrei-me do que o escritor e filósofo espanhol Miguel Unamuno escreveu sobre a cidade que “assim, amurada e articulada, tem fisionomia, unidade, tem alma”. Não demorou muito para entender sobre o que lhe havia arrebatado, eu já estava diante da vedete dos cartazes turísticos abulenses: a muralha intacta, edificada nos princípios do século 12 durante o reinado de Alfonso VI de Castilha, que rodeia todo o centro histórico.

Altiva, adaptada às irregularidades do terreno sobre o qual se ergueu, a construção – reconhecida como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco, em 1985 – é o melhor exemplo da arquitetura militar em estilo românico na Espanha e modelo único da influência medieval na Europa. Seu traçado é fundamental para compreender a cidade para a qual serviu como defesa militar, cinturão sanitário, fronteira fiscal e suporte de outras edificações.

Uma viagem no tempo começa assim que se cruza uma das nove portas da muralha para o perímetro dos dois quilômetros e meio de extensão e oitenta e oito torres. Uma transposição de realidade que poucos lugares permitem pode ser vista a partir apenas de suas construções, que incluem ainda um circuito (também tombado pela Unesco) de igrejas românicas, palácios de algumas das famílias nobres espanholas e a Catedral del Salvador, cuja abside está integrada à fortificação.

  • Fellipe Fernandes/UOL

    A Catedral del Salvador, em Ávila, na Espanha


A igreja, aliás, conta com um tardio projeto artístico inspirado pelo românico, com características góticas, sendo a primeira do gênero no país. Dentro, predominam a pouca claridade e obras de artistas como Pedro Berruguete, Lucas Giraldo e Juan Rodríguez cuja beleza contrasta com o aspecto rígido e frio de suas quatro naves altíssimas rodeadas por nove capelas e inúmeras câmaras funerárias.

Gastronomia local
Depois de caminhar por toda a extensão da muralha, de ter admirado o traçado arquitetônico da cidade, de ter investigado cada canto da catedral (cuja temperatura interior era de 4ºC menos dos dez que os termômetros registravam fora), e como na Espanha quase todas as atrações turísticas fecham quando chega a hora da siesta, fui buscar um lugar quentinho para almoçar na região do Mercado Chico, uma espécie de praça rodeada de restaurantes e comércio local.

Já tinha ouvido falar que a pedida, em Ávila, é comer o famoso chuletón, um bife enorme especialidade da região e que pode ser acompanhado por batata frita, pimentões ou até uma guarnição mais sofisticada de frutas secas. Mas provei também as Judías del Barco, que são feijões gigantes refogados em caldo de carne e tomate. Para a sobremesa, não deixe de comer as Yemas de Santa Teresa, um doce de ovos e leite tão gostoso que faz qualquer um ajoelhar e rezar para agradecer.

Religiosidade
Com a energia recuperada, é hora de continuar descobrindo a cidade por meio dos seus palácios (não deixe de ver o de Valderrábanos, de los Verdugo e o do Marqués de Velada, hoje também um hotel, onde você pode apreciar a belo pátio interior tomando um cafezinho), igrejas (a Basílica de San Vicente e a Iglesia de San Pedro são de beleza singular) e monastérios, como o de Santo Tomás, construído no Século do Ouro, ao lado do Palácio Real que os reis católicos, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castilha, mandaram erguer dado o caráter itinerante do reino durante o processo de unificação espanhol.

Caminhe então para fora das muralhas, rumo ao parador de Cuatro Postes, lugar devoto muito comum nas entradas e saídas das cidades espanholas com uma cruz ou imagem santa. Dali se tem a melhor panorâmica da cidade e a melhor oportunidade para reconhecer que, observando o sol sumir atrás da cidade, mais do que ter alma, Ávila é generosa com o seu visitante, pois, como dizem por aí, só aos generosos lhes faz felizes ver a outros felizes.


Como chegar
Ávila está no Centro-Oeste espanhol e integra a comunidade autônoma de Castilha e León. Situada a 1.131 m de altitude, é a capital de província mais alta da Espanha. Está a 113Km de Madrid e 121Km de Valladolid.

Por estar entre duas cidades metropolitanas, Madrid e Valladolid, quem preferir ir a Ávila de avião deve descer ou no Aeroporto Internacional de Barajas, em Madrid, o mais indicado para quem vem do exterior, ou o Aeroporto de Villanubla de Valladolid.

Também é possível chegar à cidade de trem e ônibus.

Centro de Recepción de Visitantes
www.avilaturismo.com