É pura vida!

Praias do Caribe, cachoeiras e muita simpatia: desbravamos a Costa Rica, o país mais feliz da América Latina

Livia Braz Camillo De San José, Costa Rica

Pura Vida means hello — na tradução livre, 'Pura Vida significa olá'. Assim que aterrissei na Costa Rica, essa foi a primeira frase que saltou aos olhos. Logo de cara, o slogan turístico é martelado de todas as formas possíveis em nosso subconsciente, seja em outdoors ou em souvenires. Porém, é só conforme os dias vão passando que passamos a entender o real significado da expressão.

Paisagens selvagens, mar do Caribe, clima tropical, cordilheiras e vulcões. A roadtrip de sete dias chegou a ser entorpecente. Na encosta caribenha — deste país que também é banhado pelo Oceano Pacífico — foi possível viver inúmeras experiências em um curto espaço de tempo.

Para quem está acostumado a percorrer centenas (ou até milhares!) de quilômetros em território brasileiro para trocar um cenário por outro, esse pedacinho de terra na América Central é um convite para uma maratona de aventuras.

Porém, nada disso teria o mesmo significado sem o contato com a verdadeira 'pura vida' da Costa Rica: o costa-riquenho. Um povo tão encantador quanto suas paisagens.

O sorriso aberto de todos marcou minha viagem e deu as pistas para entender porque o país é o mais feliz da América Latina — ele figura em 12º no World Happiness Report 2024 e é nosso único representante hermano no top 20.

Nossa jornada começou em San José, capital da Costa Rica, passou por Tortuguero e Puerto Viejo, na província de Limón, onde tivemos contato com comunidades ribeirinhas, uma tribo indígena, muita vida selvagem e lindas praias.

Em seguida, deixamos o litoral em direção à histórica Cartago, na província de mesmo nome, com mirantes, birdwatching e até rota do café. Por fim, retornamos à capital para desvendar a vida urbana e conhecer mais sobre as origens do país, com direito no caminho a uma visita ao famoso vulcão Irazú.

Ecoturismo, um símbolo nacional

A Costa Rica tem 25% do território protegido por leis ambientais, em reservas e parques, nos quais cerca de 6% da biodiversidade do planeta habita. Os números são surpreendentes diante do tamanho do país, com modestos 51.100 km² — para efeitos de comparação, o Brasil possui mais de 8 milhões de km².

São 29 parques nacionais que preservam a floresta virgem, com regras bem rígidas. Por isso, é importante se planejar antes de visitar algum deles, para entender horários de funcionamento, valores e se há necessidade de contratar um guia turístico ou agência para acessá-los.

Porém, é possível ver cartões-postais in natura mesmo sem ter que visitar qualquer reserva, basta estar acompanhado de quem conhece o ecossistema.

César Moraga Ruiz (na imagem acima), guia há 18 anos na Costa Rica, e Jaime Moral, motorista da van que conduziu o nosso pequeno grupo de jornalistas, vivenciam cada centímetro de terra e água do país e demonstraram isso em muitos momentos.

No meio da estrada, paramos no acostamento para sermos apresentados ao primeiro cartão de visitas da fauna local: o bicho-preguiça.

"A vista treinada é fundamental para desbravar a Costa Rica", ponderou César, enquanto apontava a câmera do celular para a preguiça macho que se balançava na copa de uma árvore gigante.

Em 2021, o bicho-preguiça virou símbolo nacional, anos após o governo da Costa Rica implementar estratégias para a conservação do bioma tropical. Entre as décadas de 1940 e 1980, o país sofreu com altos índices de desmatamento e viu a população de preguiças diminuir drasticamente.

A redução da espécie foi um dos pontos alarmantes para as autoridades. Em 1996, o governo tornou ilegal o desmatamento sem aprovação. No ano seguinte, foi introduzido o Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais (PES) — um benefício para donos de terras que se comprometem com a sustentabilidade.

Atualmente, cerca de 62% do território costa-riquenho está coberto por vegetação. São aproximadamente meio milhão de espécies de plantas e animais no bioma do país.

Luxo e sustentabilidade de mãos dadas

Tortuguero é a prova de que políticas governamentais funcionam. A estância forma-se com hotéis dentro da floresta — inclusive de luxo — e que causam impacto mínimo ao meio ambiente. O trajeto até a região somente ocorre de barco, numa viagem de aproximadamente 50 minutos.

A experiência de dormir no meio da mata fechada, com conforto e água quente, foi um dos destaques da viagem para mim.

Obviamente, todas as minhas roupas ficaram úmidas, mas acordar com os ronca-ronca dos bugios e encontrar rãs-morango nos corredores abertos — tipo raro de anfíbio que só habita na América Central — compensou a sensação de meia molhada durante os dois dias.

Para quem gosta de mais aventura, o passeio de caiaque pelos canais de Tortuguero é o que permite mais proximidade com os animais. Fiquei a centímetros de um filhote de crocodilo e avistei ao menos quinze tipos de pássaro numa única manhã.

Divulgação

VAI LÁ

PARA FICAR: o Mawamba Lodge Tortuguero tem saída para o rio e acesso privativo à Praia de Tortuguero, onde é possível ver o nascimento de tartarugas marinhas. O Mawamba também conta com o primeiro restaurante flutuante do país, o Katonga. O jantar à luz de velas tem menu preparado por um chef local, num deque flutuante que passeia pelos canais de Tortuguero.

MELHOR ÉPOCA: vale ter em mente o período de desova da espécie, entre junho e outubro, ou a busca por tartaruguinhas, principal atração local, será decepcionante.

Cacau caribenho e matriarcas indígenas

O encontro com o povo BriBri, em Talamanca, nos ensinou na prática o que é uma sociedade matriarcal. A tribo indígena, que possui uma ligação quase sagrada com o cacau, se baseia na figura feminina.

A etnia tem cerca de 9 mil bribris espalhados em oito clãs entre a Costa Rica e o Panamá. A organização desse povo originário é feita através da linhagem materna.

"Apenas as mulheres herdam os clãs. Nós, homens, não herdamos", explicou Lisandro (este senhor na imagem acima), de 83 anos, que carrega o título de awa, líder espiritual e curandeiro da tribo indígena, graças à sua mãe.

Lisandro foi preparado desde os 12 anos para assumir a função de awa e afirma reconhecer mais de 10 mil tipos de plantas medicinais.

Durante a visita ao povoado, recebemos a bênção de Lisandro dentro do üsure, local sagrado que abriga um fogo aceso pela primeira vez há 23 anos.

Todos da tribo ajudam a mantê-lo aceso. Essa chama é nosso meio de conexão com Sibú" Lisandro, se referindo à divindade dos BriBri

A comunidade indígena também possui reconhecimento pelo cacau de altíssima qualidade, exportado até para a Suíça. Todo o processo de produção da matéria-prima é feito na própria aldeia.

Nós participamos das etapas finais do método que transforma o grão em pasta para consumo — torrar, moer e misturar. Além disso, tivemos uma aula sobre a fruta, que tem ativos antioxidantes e relaxantes. Por fim, encerramos a tarde comendo e bebendo cacau, nas mais diversas receitas típicas.

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VAI LÁ

PARA VISITAR: após o passeio pela aldeia BriBri, vale a ida à cachoeira Ma-Cuu, que fica na mesma estrada de acesso ao povoado. A trilha curta, com menos de 10 minutos de descida, revela uma das quedas d'água mais visitadas da América Central. A temperatura da corredeira é por volta de 15ºC, mas muito agradável no contraste com as altas temperaturas da região.

PURA MESA!

Os pratos típicos que você não pode deixar de provar na Costa Rica

Getty Images

Gallo pinto

A culinária da Costa Rica é diversa, tem influência de outros países caribenhos, peixes, frutas e legumes no menu. No entanto, um prato rouba a cena, principalmente ao paladar brasileiro: o famoso gallo pinto. O tradicional arroz com feijão surge como base da receita, com toques de temperos locais e do salsa lizano, tradicional molho do dia a dia costarriquenho. O gallo pinto é muito consumido no café da manhã, com ovos, banana cozida e café.

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Casado

O trocadilho no nome do prato é proposital por se tratar de um "casamento" entre arroz, feijão e carne (frango, peixe ou bovina). Acompanha ainda itens como banana frita, salada e tortilhas. Seria o correspondente ao nosso típico "prato feito", mas com temperos e toques costarricenses. Você encontra o casado em praticamente todos os restaurantes populares do país. Uma dica é porvá-lo no Mercado de San José, na capital.

David Regueira/Unsplash

Os café locais

Os cafés da Costa Rica me surpreenderam pela baixa acidez e sabores muito frutados. Participamos de uma degustação da Modo Café, tradicional cafeteria em San José, e a explicação para a qualidade do produto foi simples: o cultivo orgânico. As plantações não levam agrotóxicos e são feitas em solos vulcânicos muito férteis, entre 800 e 1.600 metros de altitude, o que garante um crescimento mais lento que potencializa os sabores.



Paraíso tropical e casa de vulcões

As praias do Caribe têm águas quentes, areias escuras e ondas moderadas. O banho de mar às 6h tem a mesma temperatura das 16h. A única diferença na paisagem é a chuva, que cai, religiosamente, depois das 17h.

O clima tropical é implacável. No período em que estivemos na Costa Rica, em novembro, pegamos exatamente a época mais chuvosa (de setembro a novembro). O lado do Pacífico sofreu com um tufão que se deslocou do Caribe para lá — tivemos sorte de fugir dele. Fica a dica para quem quer aproveitar os paraísos tropicais.

A Playa Negra, em Puerto Viejo, chama a atenção pela água transparente que contrasta com a areia escura e brilhante. O tom "pó de café" do solo é causado pela sedimentação de minerais em vulcões próximos. A praia limpa e com poucas pessoas ao redor é pano de fundo para um pôr do sol fantástico.

No caminho de volta à capital, visitamos a província de Cartago, território histórico com grande influência cristã, e subimos ao vulcão Irazú, um dos mais famosos da Costa Rica — a 3.432 metros de altitude. O vulcão abriga o Parque Nacional Irazú, onde é possível caminhar sobre a lava já expelida e conhecer a cratera com o lago verde.

Divulgação

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PARA FICAR: a Hacienda Orosí, na província de Cartago, tem sete piscinas de águas vulcânicas, que vão de 32ºC a 40ºC. Os chalés combinam arquitetura rústica e conforto, têm espaço para grupos de até seis pessoas, e café da manhã típico muito bem servido.

OPÇÃO MAIS BARATA: o hotel-fazenda também possui day use, que permite aproveitar as termas, fazer argiloterapia com lama vulcânica e conhecer a rota do café costa-riquenho em um hiking de 5 km.

Muito ouro, Inshalá!

Fora da capital, as regiões mesclam simplicidade e luxo às paisagens naturais, enquanto San José esbanja ouro para atrair os turistas.

O principal local de visitação da cidade leva o metal em seu nome: Museu do Ouro Pré-Colombiano. O prédio em formato de pirâmide invertida foi construído em 1985 pelo Banco Central da Costa Rica, que mantém o espaço até os dias atuais.

Além de cerâmicas e itens de ouro maciço, de 1500 a.C, a história dos povos originários da Costa Rica é aclamada. Impossível sair de lá sem ter a plena consciência da importância do povo indígena para o país.

Outro espaço que faz os olhos brilharem pela quantidade de riqueza é o Teatro Nacional, talhado a ouro em cada detalhe de sua arquitetura neoclássica.

Fundado em 1890, o teatro representa o surgimento da burguesia costarricense e enfrentou percalços financeiros para ser finalizado. Porém, se tornou um dos mais belos cartões-postais de San José.

O teatro também é usado para celebrar a democracia costa-riquenha. A cada quatro anos, o jantar de gala do presidente eleito é realizado no salão principal do espaço.

Reprodução

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PARA CONHECER: os cassinos são legalizados na Costa Rica e uma opção divertida para as noites livres em San José. Praticamente todos os hoteis de três estrelas para cima possuem seus próprios cassinos, mas não é preciso estar hospedado em nenhum deles para entrar.

ONDE IR: o Grand Casino Escazú, localizado no Hotel Sheraton, é um dos mais badalados da cidade e possui cartela ampla de drinks típicos.

Jordan Siemens/Getty Images

Como chegar

Até novembro do ano passado, era necessário fazer conexões em outros países (Chile, Panamá e Peru, por exemplo) para chegar desde o Brasil e San José, a capital da Costa Rica. Desde novembro de 2024, ficou mais fácil. A Gol passou a operar voos diretos partindo de Guarulhos, três vezes por semana (terças, quintas e sábados — os mesmos dias da rota inversa, de lá para o Brasil).

Para viajar para a Costa Rica você não precisa de visto, basta ter o passaporte brasileiro e apresentar o certificado nacional de vacinação constando sua vacina contra a febre amarela.

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