De volta às passarelas

A edição N52 da São Paulo Fashion Week comemora retorno parcial dos desfiles presenciais com moda otimista

Gustavo Frank De Nossa Fotosite

"Phygital"

O misto entre o digital e o físico

Há um ano, a São Paulo Fashion Week vinha realizando edições completamente digitais. A iniciativa foi tomada em consequência da pandemia do coronavírus e, durante esse período, as marcas brasileiras no line-up puderam se aventurar em produções audiovisuais para apresentar as suas coleções "sem que houvesse uma primeira fila" — uma vez que as apresentações eram todas transmitidas on-line, a quem quisesse ver.

A adaptação (mais do que) necessária do maior evento de moda do Brasil rendeu bons frutos, oferecendo novas formas de narrativas a serem contadas a partir da moda.

Duas temporadas se passaram e a decisão de retornar ao presencial, entre os dias 17 e 21 de novembro, foi tomada, mas sem deixar de lado também os fashion films. Estreou-se então o "phygital", uma mistura entre os desfiles digitais e físicos — sendo esses últimos, em sua maioria, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera.

Com 49 marcas presentes, os estilistas brasileiros mostraram a partir de suas visões como a moda está despertando do longo tempo de confinamento. Físico e mental. Esse "acordar" exaltou um olhar otimista para o "pós-pandemia", abordagens técnicas mais livres e a diversidade brasileira. Tudo a partir de uma perspectiva mais esperançosa para o futuro.

Abaixo, registramos alguns dos melhores momentos da semana de moda: as discussões abordadas, os famosos que foram destaque das marcas e os resumos de cada um dos dias.

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A festa da moda

Da mesa de bar ao casamento

Colocar os pés para fora é o alívio que muitos de nós esperamos. E na moda não seria diferente. Prova disso foram as celebrações colocadas pelos estilistas ao apresentar as suas coleções. Como com a Misci, comandada pelo designer Airon Martin.

O mato-grossense apresentou a "Fuxico Lanches", uma coleção inspirada pelos bares e restaurantes do Brasil afora. Os quatro cantos do país, unidos por cadeiras de plástico e mesas de sinuca.

As peças exibidas pela etiqueta eram em sua grande maioria trabalhadas em tons terrosos. Em termos técnicos, traziam jacquard com franjas em algodão orgânico e matelassê com a marca em alto-relevo.

O clima festivo apareceu também com Ronaldo Fraga. Conhecido por suas narrativas entrelaçadas entre a história e a moda, celebrou uma festa de casamento com o vídeo "Entre Tramas e Beijos".

A coleção foi feita 100% de bases de jacquard, em fios de algodão, seda, linho e viscose. O estilista resgatou ainda desenhos florais criados há 100 anos, e também "a fantasia tão necessária nesses tempos cinzas e áridos".

Misci

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Ronaldo Fraga

Divulgação Divulgação
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@vinimarqu

O verdadeiro Brasil

Do baile funk ao axé

Ocupando as passarelas do Pavilhão de Culturas Brasileiras como um baile de "passinhos", a Mile Lab contou como o funk é um fundamento de arte e resistência de corpos marginalizados.

Com modelos usando o tradicional óculos Juliet, com as lentes espelhadas, e alguns deles cobrindo o rosto com camisetas, as peças da marca utilizaram estampas com pipa, varetas de bambu, rabiolas de saco plástico, linhas de algodão e demais acessórios apresentados, a fim de representar de maneira clara a periferia, com visões tão comuns fora do centro.

O baile continuou com Isaac Silva. Com o funk mais uma vez presente, assim como o pagode baiano de Psirico, o designer apresentou uma colaboração com a Havaianas com todas as peças exclusivas batizadas de "Cores da Bahia".

Com um portfólio mais robusto a partir de inspirações diversas, das mais conhecidas às mais regionais, como os búzios, o mar e até a rica variedade de pimentas, a coleção se montou com foco no brasileiro e no baiano com peças de banho, camisetas e sandálias.

Mile Lab

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Isaac Silva

Fotos Fotos
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Fred Othero

Os diferentes corpos

Livres e sexys

Spoiler: ser recatado e do lar não estará na moda. Pelo menos, se depender de algumas das marca que apresentaram suas coleções nesta edição da SPFW, como a Bold Strap.

O diretor criativo Pedro Andrade se inspirou no surrealismo fetichista de artistas como Hans Bellmer, trazendo uma reflexão da teoria queer, brincando com os limites do binarismo, sobre "o que é feminino ou masculino". Para a coleção "Bold Ball", elementos tradicionalmente "femininos", como o corset, a lingerie e a pérola, vestiam corpos que podem que performar o gênero como quiser.

Complementando, a Az Marias abraçou o corpo real da mulher brasileira ao celebrar a intelectual Lélia Gonzalez — pioneira nos estudos sobre Cultura Negra no Brasil e co-fundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro, do Movimento Negro Unificado e do Olodum.

Abraçando toda a efervescência cultural e política negra, os ideais da marca focado no slow fashion foram continuados, sem esquecer de abraçar o corpo real da mulher brasileira.

Bold Strap

Fred Othero Fred Othero
Fred Othero Fred Othero

Az Marias

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Marcelo Soubhia/Fotosite Marcelo Soubhia/Fotosite
Felipe Napolinário

A matéria-prima

A moda como uma "tela branca"

A Handred, em parceria com a Oficina Brennand, levou à passarela o mítico universo construído pelo pintor, desenhista, escultor, ceramista e escritor Francisco Brennand, falecido em 2019, em uma coleção especial da "Handred Brennand".

Conhecida por trabalhar com matérias-primas como seda, linho e jacquard, a etiqueta transportou as infinitas possibilidades da obra de Brennand para a superfície têxtil.

A seda, um dos grandes destaques da coleção, aparecia em flores tridimensionais, que remetem às esculturas do artista, e dobrado em pregas, junto à textura rústica e irregular do shantung. Formas e volumes livres, nada perfeitos, como Brennand gostava de trabalhar.

Com o auxílio do artista plástico Gilson Plano, "Cura" foi a coleção da Apartamento 03, pensada como uma saída dos tempos sombrios vividos por todos nos últimos tempos.

Com tons invernais e palha natural, vermelho cerâmica, marinho, verde neon, rosa, estampas exclusivas, as peças foram todas desenhadas a mão e pensadas pelo estilista Luiz Cláudio.

Handred

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Apartamento 03

Marcelo Soubhia/Fotosite Marcelo Soubhia/Fotosite
Marcelo Soubhia/Fotosite Marcelo Soubhia/Fotosite

Sasha, Alinne Moraes e Ícaro Silva: os famosos na SPFW N52

Abertura e encerramento

P. Andrade e Lenny Niemeyer

Zé Takahashi/Fotosite

Arquitetura e moda

1º dia: a P. Andrade é comandada pelo casal Pedro Andrade e Paula Kim. O desfile de abertura teve como plano de fundo a instalação projetada pelo artista Tom Escrimin na Pinacoteca, em São Paulo.

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Zé Takahashi/Fotosite

30 anos de carreira

6º dia: encerrando a SPFW N52, Lenny Niemeyer levou o seu desfile para o Caminho Niemeyer, (RJ). Conhecida pela moda praia, a estilista mostrou peças de alta-costura em um desfile (literalmente) monumental.

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Resumos dos desfiles

Veja as marcas que se destacaram na semana

Tauana Sofia

2º dia

Glamour dos famosos e um mundo mais positivo.

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Divulgação/SPFW

3º dia

Fetiches, corpos livres e o novo elegante.

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4º dia

Saudosismo e a reflexão sobre o tempo.

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5º dia

Baile funk e o verdadeiro Brasil nas passarelas.

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