Loucos das plantas

Conheça expoentes do movimento urban jungle e veja dicas para levar a "selva" para dentro da sua casa

Marcela Braz Colaboração para Nossa Divulgação

A costela-de-adão está por toda parte: plantada em vasos, representada em quadros, almofadas, guardanapos, camisetas, cerâmicas, acessórios, canecas. E por aí vai. Mas o que isso tem a ver com o fenômeno urban jungle, a chamada selva urbana, caracterizada por encher seu apartamento de plantas? Tudo. Porque essa espécie (Monstera deliciosa), agora famosíssima, é uma de suas expoentes.

Como recriar a sensação de se estar em uma floresta tropical, em contato com a natureza, em plena cidade? Ou melhor, dentro de nossos próprios lares. Essa é a busca do movimento urban jungle, ilustrado a rodo no Instagram e no Pinterest. No momento de apuração da matéria, a hashtag #urbanjungle já reunia mais de 3 milhões de publicações na rede social de Mark Zuckerberg. E o termo "costela-de-adão" atingiu seu maior pico de buscas no Google Brasil em setembro de 2019, desde o início da contabilização em 2004.

"A proposta veio dos gringos, que usam as nossas plantas. É um tapa na nossa cara. A gente valoriza tão pouco a nossa fauna e flora que precisa de gente de fora para dizer que isso é incrível", resume a jardineira Carol Costa. E os efeitos são visíveis mesmo em tempos de crise: segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o setor de flores e plantas ornamentais deve crescer entre 7% e 8% em 2019, em relação ao ano anterior.

Urban Jungle Bloggers: ícones da selva urbana

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Em termos de internet, um dos primeiros expoentes do movimento são os Urban Jungle Bloggers, uma comunidade global de amantes das plantas, encabeçada pelos amigos Igor Josifovic e Judith de Graaff desde 2013. Ele, austríaco, e ela, holandesa, se conheceram em Paris e se uniram no amor por viver em meio às espécies botânicas. Naquela época, eles ficaram sabendo que "estava na moda" ter algumas em casa.

"As pessoas pensavam que seria uma tendência que passaria. Nunca acreditamos nisso, porque sempre vivemos com plantas. E, agora, seis anos depois, elas ainda estão aqui e vão continuar prosperando", conta Judith ao Nossa. Quando tiveram a ideia de investir nesse conteúdo, dizem eles que não havia algo similar. Os sites ou eram focados na botânica ou na decoração de interiores. E, nesse contexto, o verde era apenas um acessório ornamental.

Então o Urban Jungle Bloggers inicialmente tinha como objetivo compartilhar como dividiam o espaço com esses seres vegetais, em diferentes ambientes urbanos. Os primeiros posts já mobilizaram diversos leitores, ávidos por participar. E assim o veículo de comunicação tomou ares de comunidade: muitos queriam compartilhar também suas experiências. "As pessoas são felizes, porque as plantas trazem muita alegria para nossas casas. Em todos os lugares que vamos, conhecemos amantes entusiastas, muito a fim de aprender, crescer e compartilhar."

Isso se traduziu no crescimento do blog, hoje com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. Em 2016 eles lançaram o livro "Urban Jungle", com inspirações trazidas de cinco lares na Europa, ideias de design com plantas e informações acessíveis sobre como lidar com um jardim entre quatro paredes.

Apesar da veia décor da coisa, para eles a relação vai muito além da beleza. "As plantas devolvem o amor que damos a elas de muitas maneiras. A gente tem uma crença muito forte no poder delas de influenciar nossa criatividade, melhorar nosso bem-estar e somar energia positiva em nossos lares", explica Igor.

Para Judith, elas trazem um aprendizado importante em tempos de acesso instantâneo a diversos produtos e serviços. Nos ensinam a adaptação a diferentes circunstâncias, a confiar nos outros para sobrevivência (como quando elas têm pragas, por exemplo) e a fazer de nossas vidas a melhor possível.

Dora Queen: a flora como inspiração

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As plantas sempre fizeram parte da vida de Raquel Fuscella, artista visual e designer de produtos da marca Dora Queen, sua loja online de artigos para casa, todos artesanais. Quando menina, estava sempre com as mãos cheias de terra, metida entre vasos e folhas da mãe e da avó. Elas não apenas tinham jardins no quintal, como também traziam as plantinhas para dentro e ensinavam a pequena Raquel a cuidar do verde.

Quando casou e se mudou, Raquel montou uma urban jungle no apartamento e se entendeu como "crazy plant lady", uma louca das plantas, como diz uma das canecas que produz. "Amo as plantas, então era imprescindível tê-las por toda parte", ri. "É nossa calmaria no meio da agitação da cidade grande." Até porque é onde tudo acontece: é tanto o ateliê de criação da Dora Queen, como seu espaço de vida particular.

Mas nem sempre foi assim. Apesar da marca ter nascido em 2009, foi apenas em 2014 que Raquel largou o emprego tradicional como assessora executiva e passou a se dedicar exclusivamente à paixão, ao trabalho com criatividade e artes manuais. Seguiu os passos da mãe, artista plástica, e também incorporou à estética de seus produtos outra obsessão vinda da linhagem materna: as ciências naturais.

"Passo longas horas da vida enfiada em livros acadêmicos. Meu maior interesse se concentra em botânica e entomologia [estudo de insetos]", revela. E essas inspirações estão presentes nas peças da loja. A caneca herbarium disseca uma lavanda, com nome científico e ilustração de todas as partes da planta. Alguns cachepôs parecem ter sido feitos com folhas de livros botânicos, com parágrafos inteiros de texto. E um de seus pôsteres reúne diversas espécies para interiores, com nota de rodapé identificando cada uma, como uma cartilha de plantas para montar sua própria urban jungle.

"Como vou colocar meus interesses e minha essência num objeto, que tenha uma utilidade e que possa ser monetizado de alguma forma? Pra minha sorte é tendência", comemora. Mas, mesmo assim, seus posts no Instagram já foram alvo de críticas. Alguns comentários julgaram o fato de ter muitas plantas dentro de casa um exagero, ou até que misturá-las com utensílios seria impróprio. Não que isso tenha afetado seu estilo de alguma forma. "Eu gosto dessa provocação. O público vai se encontrando e formando uma bolha de interesses."

Quanto ao dia a dia de cuidados para manter uma selva, Raquel não sabe nem dizer quanto tempo passa cuidando de seus jardins. Porque não existe um momento reservado para isso, já faz parte da rotina. A observação e o zelo aparecem naquelas "horinhas de descuido", em uma pausa para beber água, por exemplo. E a felicidade também. "O verde dá vida ao nosso lar e torna tudo muito mais interessante. E vejo nesta atividade meu momento de maior prazer, quando aprendo coisas novas, encontro espécies interessantes e misturo técnicas diferentes que aprendi com a minha família."

Carol Costa: mudança de vida em torno das plantas

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Talvez você tenha a impressão de conhecer Carol Costa de algum lugar, mas não sabe bem de onde. Isso se já não identificou que ela é a Louca das Plantas do GNT e já foi apresentadora do programa Mais Cor, Por Favor. Ou quem sabe só conheça a voz dela, por causa do quadro Jardinaria da BandNews FM. Seja como for, a jardineira também é jornalista. Mas sente que só começou a florescer de fato quando criou o site Minhas Plantas e largou as redações de notícias sem olhar para trás.

"Naquela época, ou você era jardineiro, profissão exclusivamente masculina e de pessoas de baixa renda, ou paisagista, quase exclusivamente masculina, com homens de alta escolaridade e alta renda", lembra. Hoje, o mercado já amadureceu, comenta ela, porque existem profissionais com inúmeras especializações. Como apenas em fazer buquês ou terrários, por exemplo. "A jardinagem virou uma fonte de renda interessante."

Além de colocar a mão na terra, ela viaja pelo Brasil dando cursos, palestras e treinamentos, produz conteúdo e já publicou alguns livros: "Horta em Vasos", "365 Dias Para Plantar" e "Minhas Plantas - Jardinagem para Todos (Até Quem Mata Cactos)". Ah, e é claro: tem sua própria selva urbana no apartamento.

"A principal característica da urban jungle é lidar com alta densidade de plantas de sombra em ambiente interno", explica. São as adaptadas a receber de duas a quatro horas de sol direto (batendo na folha) por dia e ficar em um ambiente com alta luminosidade. Mas como saber se é iluminado o suficiente? "É conseguir ler a letra miúda de um jornal sem precisar acender a luz."

Dúvidas assim pipocam o dia todo no seu Instagram: ela responde pelo menos 200 mensagens por dia. Se não sobre luminosidade, sobre pestes. "Praga e doença não vieram pra tirar seu sono, elas vieram pra eliminar as plantas que não têm condições de crescer. São um termômetro. Você tem que ir atrás da causa", avalia. Podem significar falta de adubo, falta de luz ou até rega excessiva.

De acordo com ela, a mais comum de acometer as plantas de apartamento é a cochonilha, um inseto que suga as partes duras, como caule e tronco, ou as folhas mais velhas. Pode ser branca, peludinha ou parecer uma verruga marrom: existem várias espécies. "Todas aparecem por falta de cálcio na planta, que vem de adubos de casca de ovo e da farinha de osso", aconselha.

Mas para começar, não precisa ter noia. Tem que ir treinando a percepção dos sinais que elas mandam e aprender com os erros. "As pessoas ficam traumatizadas. Mas a verdade é que todo jardineiro que se preze mata planta, porque algumas coisas a gente só vai aprender testando."

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