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Morre estilista Issey Miyake, o sobrevivente de Hiroshima que transformou a moda ocidental

Issey Miyake em 2016 Imagem: Hsinhuei Chiou/Creative Commons

Silvano Mendes

da RFI, em Paris

10/08/2022 09h25

O estilista Issey Miyake morreu aos 84 anos. Dono de uma carreira de mais de 50 anos marcada pela busca de novos materiais, diversidade nas passarelas e diálogo com o Ocidente, ele foi um dos nomes mais importantes da moda japonesa no mundo.

A morte de Miyake foi anunciada nesta terça-feira (9) por uma funcionária de sua empresa em Tóquio. Sem dar detalhes, ela informou apenas que o funeral já tinha acontecido, apenas com a presença de parentes, e que o estilista tinha morrido no dia 5 de agosto.

Sua morte aconteceu na véspera de um aniversário que marcou a história de Miyake: o ataque atômico visando o Japão.

Nascido em Hiroshima, em 1938, o estilista tinha sete anos quando os Estados Unidos lançaram uma bomba em sua cidade, em 6 agosto de 1945, deixando 140 mil vítimas fatais, entre eles sua mãe, morta três anos depois em decorrência das irradiações.

Durante muito tempo, o estilista evitou falar sobre o assunto, mesmo se guardou sequelas físicas e recordações vivas do episódio.

"Objeto voador", vestido de Issey Miyake Imagem: Creative Commons

"Quando fecho os olhos, ainda vejo coisas que ninguém deveria viver: a luz vermelha que cegava todos, a nuvem preta logo depois e as pessoas correndo para todos os lados, tentando fugir", contou Miyake, em 2009, durante um discurso pelo desarmamento nuclear.

Desse trauma, ele preferiu preservar uma vontade de construir, se concentrando "nas coisas que podem ser criadas e não destruídas, que levam beleza e alegria", como ele mesmo dizia.

Desfile da Issey Miyake na Paris Fashion Week Imagem: Christophe ARCHAMBAULT / AFP

Miyake desembarcou em Paris em 1964, após ter estudado artes gráficas no Japão. Na capital da moda, começou a trabalhar com Guy Laroche e Givenchy, antes de atuar dois anos ao lado de Geoffrey Beene. Mas em 1970 decidiu criar sua própria marca, que encontrou um sucesso imediato.

Contemporâneo de Kenzo, Miyake fez parte dos primeiros estilistas japoneses a apresentar suas coleções em Paris. Desde o início de sua carreira, ele misturava como ninguém o estilo japonês com o do Ocidente, se inspirando das tradições de seu país para criar uma moda adaptada para todos os gostos e morfologias. Como ao desenvolver roupas com tamanho único ou ao revisitar os tradicionais origamis japoneses na linha Pleats Please, composta de peças plissadas, que se adaptam a praticamente todos os corpos.

Nesse momento, ele também inova em termos de materiais, pois utiliza plástico, metal, arame e papel, assim como cortes a laser que ainda não eram praticados pelas marcas de moda da época. Uma busca que levou suas criações a serem expostas em vários museus do mundo.

Diversidade na passarela a uma outra relação ao corpo

O estilista contribuiu para a luta contra a diversidade nas passarelas. Modelos negras desfilaram para ele desde 1976, enquanto manequins com mais de 80 anos estavam presentes em suas passarelas em um momento em que a questão do etarismo ainda nem era debatida.

Miyake era um apaixonado pelos tecidos, pela tecnologia, pelo uso de materiais inovadores, mas principalmente pela relação da roupa com o corpo. Curioso sobre como a moda era vivida no dia a dia, ele passava seu tempo tentando entender como as peças ganhavam vida ao serem usadas. Para ele, as roupas tinham que ser "vistas de fora, mas vividas por dentro".

"As pessoas compram roupas que se tornam ferramentas de criatividade", defendia o estilista, que dizia não reconhecer suas criações quando cruzava com elas pela rua. "Adoro ver como as pessoas se apropriam do que usam. Gosto quando não é mais meu, e sim deles. Quando vejo minhas roupas sendo usadas, minha comunicação com essas pessoas fica completa".

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