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Covid-19: cidade chinesa cria hospital para isolar animais domésticos de donos positivos

Um hamster recolhido por um cidadão após a descoberta de um foco de propagação da Covid-19 em uma loja  - AFP - BERTHA WANG
Um hamster recolhido por um cidadão após a descoberta de um foco de propagação da Covid-19 em uma loja Imagem: AFP - BERTHA WANG

Stéphane Lagarde

Correspondente da RFI em Pequim

09/04/2022 09h45

Com o aumento dos casos de SARS-Cov-2 na China, muitos cães e gatos acabam abandonados quando seus donos ficam doentes e são enviados para centros de isolamento coletivos. Para resolver o problema, a prefeitura da cidade de Shenzen, no sudeste chinês, acaba de anunciar a abertura do primeiro hospital de quarentena para animais domésticos. 

O anúncio do fim da construção do primeiro centro de isolamento para cães e gatos na China viralizou nas redes sociais do país e registrou, em diferentes plataformas, mais de 150 milhões de visualizações. O sucesso repercutiu na imprensa, que apoia a proposta, e lembra que "os animais de companhia não são brinquedos, que podemos jogar fora, mas companheiros para a vida."

A abertura do hospital de cerca de 8.500 m2, situado no distrito de Guangming coincide com a morte brutal de um cão da raça Corgi, a preferida da Rainha Elizabeth 2, nesta quarta-feira (6). O cachorro tentou seguir a caminhonete que levava seus proprietários, positivos para a Covid-19, para um dos centro de quarentena de Pequim e foi morto a pauladas pelo agente da Vigilância Sanitária.

As images chocantes viralizaram nas redes sociais e o episódio começou a ser citado como um exemplo da contestável estratégia "Zero Covid" adotada pela China e outros países asiáticos, que consiste a evitar a propagação do vírus a qualquer custo. Pequim adota medidas rígidas de prevenção e isolamento, chegando a separar pais negativos de filhos contaminados.

Esta não é a primeira vez que um animal doméstico é morto na China pela Vigilância Sanitária durante a pandemia. Em setembro de 2021, três gatos foram eutanasiados no nordeste do país, após o isolamento de sua dona, que testou positivo. A notícia foi divulgada pelo jornal Le Global Times.

Um mês mais tarde, um cão da raça poodle também foi morto ferido com uma barra de ferro pelos agentes da Saúde Pública que monitoram os casos de Covid e "detêm" os pacientes positivos. Sua proprietária, isolada em casa, assistiu à cena através da câmeras de segurança instaladas na residência.

Os atos de crueldade envolvendo os animais acabaram repercutindo em todo o país, que começa a questionar a estratégia do governo. Com a chegada da variante ômicron do SARS-CoV-2, mais contagiosa e de difícil controle, populações de cidades inteiras são mantidas "presas" pelo governo, na tentativa de diminuir a circulação do vírus. Os animais de companhia também se submetem às regras e não podem sair para passear, por exemplo.

Medo das redes

As autoridades chinesas exercem uma verdadeira vigilância nas redes sociais e as reações envolvendo o tratamento dado aos animais não passaram despercebidas.

O virologista Lu Hongzhou, citado pelo jornal Diário do Povo, lembrou que, até agora, nenhum animal contaminado havia transmitido o SARS-Cov-2 para um humano, o que em princípio não justificaria a separação.

De acordo com a imprensa oficial, a cidade de Shenzhen foi a que melhor gerenciou a onda ômicron que Xangai. A construção do hospital para a quarentena de animais é, desta forma, vista como mais um exemplo de gestão. A capacidade do centro, porém, é limitada, já que o local pode receber apenas 300 pacientes.

Uma iniciativa parecida foi lançada no distrito de Futian, também na região de Shenzhen, após a descoberta de um foco de propagação em um bairro onde vivem muitos animais de estimação. Segundo dados oficiais, 22 mil cachorros têm registro na cidade.