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Reino Unido suspende quarentena para passageiros dos EUA e UE, mas não para a França

De acordo com o governo britânico, a lista de países cujos viajantes têm direito a ingressar no Reino Unido está sob constante revisão - Reuters
De acordo com o governo britânico, a lista de países cujos viajantes têm direito a ingressar no Reino Unido está sob constante revisão Imagem: Reuters

Vivian Oswald

Correspondente da RFI em Londres

02/08/2021 09h02

Com mais de 72% da população adulta totalmente imunizada, o Reino Unido reabre suas fronteiras para os passageiros vindos dos Estados Unidos e de países da União Europeia que estejam na mesma situação. A medida, que deve impulsionar o segmento do turismo, não inclui a França. O motivo está a mais de 9 mil quilômetros de distância da região metropolitana do país.

A partir desta segunda-feira (2), passageiros duplamente vacinados da União Europeia e dos Estados Unidos estão liberados da quarentena de dez dias imposta aos países incluídos na chamada lista amarela do Reino Unido. O país criou um sistema que usa as três cores dos sinais de trânsito para classificar o risco de contaminação de quem chega ao solo britânico.

Em tese, a França deveria estar na mesma situação dos outros países europeus, mas foi criada uma categoria especial só para os franceses: o "amarelo plus", o que mantém a obrigação da quarentena para quem vem do território francês. A explicação, segundo o secretário de Relações Exteriores britânico, Dominique Raab, estaria na disseminação da variante Beta na Ilha da Reunião.

O departamento ultramarino francês, no Oceano Índico, fica a mais de 9 mil quilômetros de distância da França metropolitana. A Beta é a cepa do coronavírus originária da África do Sul, pouco frequente no Reino Unido, onde a Delta, surgida na Índia, é dominante entre os novos casos de contaminação.

O curioso é que para países, como Portugal e Espanha, algumas regiões foram classificadas separadamente. O secretário de Transportes britânico, Grant Shapps, explicou, no fim de semana, que a restrição, na verdade, segue em vigor em função do risco da variante Beta no norte da França.

De acordo com o governo britânico, a lista de países está sob constante revisão. Já há quem diga que a França poderá passar para a categoria amarela, como os outros países europeus, e ficar liberada da quarentena, até o final desta semana. E que os passageiros vindos da Espanha, hoje dispensados da obrigatoriedade, teriam de voltar a se isolar por dez dias quando chegassem em solo britânico.

Essas regras mudam o tempo todo, para o desespero dos viajantes. Milhares de pessoas que já têm passagens compradas e hotéis reservados nessas férias para visitarem a França se queixam da falta de previsibilidade e dizem que podem ficar no prejuízo. Embora consigam remarcar passagens, muitos não estão conseguindo ser reembolsados pelas mudanças nas reservas de hospedagem.

Para se ter uma ideia do potencial de viagens entre os dois lados, só meio à comunidade expatriada, são cerca de 150 mil britânicos vivendo na França, e mais ou menos a mesma quantidade de franceses que moram do outro lado do Canal da Mancha. Um abaixo-assinado circula na internet pedindo o fim da cobrança de quarentena para quem chega da França no Reino Unido. Já são mais de 15 mil assinaturas.

O setor de turismo, liderado pelas companhias aéreas, se queixa das regras confusas e de dificuldades financeiras. Um porta-voz da Britanny Ferries declarou que a medida britânica, considerada discriminatória e excessiva pelo governo francês, leva a pensar que o governo britânico não tem acesso a um atlas geográfico, dada a distância da Ilha da Reunião para o resto da França. A empresa é responsável pelas travessias marítimas pelo Canal da Mancha.

Mais de 72% da população adulta residente no Reino Unido já está totalmente imunizada, enquanto quase 90% recebeu pelo menos uma dose de vacina. O número de novos casos teve uma queda expressiva de quase 30% na média dos últimos sete dias. Mas os óbitos, que bateram a marca de 65 casos no domingo (1), aumentaram cerca de 17% na média semanal.

Atribui-se a redução das contaminações não só à vacinação, mas também ao início das férias escolares. Caíram tanto os contatos quanto os testes feitos com bastante regularidade nas escolas e universidades. Por trás dos números mais elevados de mortes estaria ainda os efeitos da Eurocopa de futebol, realizada entre meados de junho e julho. Poucos dias após o campeonato, que só na final recebeu mais de 60 mil torcedores no estádio de Wembley, em Londres, o número de casos havia disparado.

Para as autoridades, o risco continua. O governo aposta na aceleração das vacinas para conter os casos graves e evitar novas hospitalizações e mortes, mas não descarta uma quarta onda depois das férias de verão. Johnatan Vam Tam, um dos conselheiros médicos do primeiro-ministro, Boris Jonhson, diz que o risco de um novo lockdown diminuirá à medida em que a população mais jovem for vacinada.

Até agora, mais de 68% dos britânicos da faixa de 18 a 29 anos recebeu a primeira dose da vacina. Para atrair essas pessoas aos postos de vacinação espalhados pelo país, estão sendo oferecidos até descontos em entregas de alimentos a domicílio e táxi. Uber, Bolt e Deliveroo estão entre as empresas da campanha.